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“Marcus Vicente poderia ter feito mais pelo futebol do ES”

Carlos Cândido disse que as grandes empresas do Estado deveriam ajudar os clubes capixabas. Foto: Bruno Lyra

O médico Carlos Cândido acaba de ser reeleito presidente do Serra F.C. para o biênio 2016/17. Ele tem o desafio de resgatar o clube pentacampeão capixaba, que atualmente está afastado das competições profissionais e com uma dívida que pode chegar à R$ 1,5 milhão. Confira quais são o planos para esse resgate e o que pensa o dirigente sobre o futebol capixaba, brasileiro e mundial.  

O senhor pegou o Serra no período mais difícil da história profissional do clube. Por que deseja continuar?

Estou no Serra desde 1996, mas milito desde 1991 no futebol capixaba, quando ajudei o Muniz Freire a ser campeão capixaba. Desde que cheguei ao Serra fui voluntário.  Mais do que isto, pagava e pago até hoje para ajudar as coisas do Serra. Gosto do clube, do Robertão. Hoje só trabalho como médico em Laranjeiras, então fica mais fácil ajudar.

O clube vai disputar a Série B do Capixabão esse ano?

Sim. O ex-jogador do Serra, Werlei, que tem uma firma de construção no Canadá vai nos ajudar. É uma retribuição a uma ajuda que dei numa operação no joelho, quando ele ainda era jogador naquele país.  E estamos fazendo parceria com o São Bento de Sorocaba – SP, que vai trazer 15 jogadores e comissão técnica de lá. Basicamente são atletas que não estão sendo aproveitados nos clubes da região. Vamos contratar dois jogadores capixabas. E tentar receber os 5% que temos direito da venda do jogador Kieza para o São Paulo, pois somos os formadores do atleta.

Qual o custo mensal para formar um bom time com condição de subir para a Série A do Capixaba?
Cerca de R$ 70 mil. Mas os jogadores de SP que estamos trazendo tem contrato com os times de lá, que irão pagar a maior parte dos salários. Eles virão junto com um diretor de futebol do São Bento.   A preparação deve começar no dia 25 de fevereiro, já que a disputa da Série B está prevista para iniciar no fim de março.

O estádio Robertão está em condições de receber os jogos? 

O lance direito da arquibancada de concreto precisa de uma escada e colocação de tela para liberar. Isso será feito por um parceiro que usa o campo através de permuta. Há outros detalhes a serem acertados, mas será possível jogar lá com capacidade para receber 2,5 mil torcedores.

Nos últimos anos o estádio vem sofrendo ameaça de leilões. Qual a situação das dívidas do clube? 

R$ 420 mil. E por volta de 1 milhão em dívida trabalhista. Não temos condições de pagar essa dívida. Quando virei presidente em 2014, tínhamos 42 processos trabalhistas. Hoje temos 19. Solicitamos entrada no programa do governo para parcelar dívidas, mas ainda não recebemos resposta. O Hospital Metropolitano tem nos ajudado nisto. Hoje o Serra está igual o Botafogo – RJ, tudo que arrecada é confiscado. Já a Prefeitura não tem nos ajudado.

Os leilões também ameaçam casas que estavam em terrenos do clube vendidos há décadas…

Desde o início da minha gestão, foram 18 leilões do estádio e desses 12 imóveis. Conseguimos reverter com nossos advogados, mas já há outro leilão pintando na área. O problema é que os moradores compraram os terrenos, lá no passado, e não fizeram escrituras. Há risco de perderem as casas se o Serra for a leilão. Consegui uma certidão negativa, para ajudar eles a escriturarem suas casas.

O clube pode vender o Robertão para pagar as dívidas?  

Sim, por R$ 11 milhões. Mas o valor pode abaixar um pouco. Também aceitamos permuta  com alguma construtora, desde que façam um Centro de Treinamento (CT) do jeito que a gente quer e que a gente receba R$ 3 milhões para quitar dívidas e montar um bom time. A ideia é fazer um CT na região do bairro Macafé, perto da estrada Serra x Jacaraípe.  Daria até para iniciar um projeto de estádio. Enquanto isso, jogaríamos noutros estádios da Grande Vitória.

E as categorias de base?

Estão ativas com 285 atletas de 09 aos 20 anos. A entidade Interfame tem nos ajudado através da Unimed Vitória, que conseguiu R$ 82 mil para a base. O Hospital Metropolitano entrou com R$ 15 mil e o vereador Toninho Silva indicou emenda de R$ 100 mil, também pela Interfame.

O futebol capixaba caiu muito nos últimos anos. Por quê?

Administrações ruins nos clubes, que tirou a credibilidade. Hoje você não consegue mais patrocínio de empresas. A imprensa, principalmente escrita, ajuda pouco. Faltam pessoas capacitadas nos clubes e público nos estádios está muito pequeno.

As grandes empresas como Vale, Arcelor, Samarco, Fíbria e Petrobrás não poderiam ajudar mais?
Sim, essas empresas deveriam ter obrigação de ajudar. Aqui no ES tem grandes atletas. Imagina se ajudassem os esportes. Elas provocam grandes impactos ambientais e sociais, deveriam ter obrigação de ajudar. Por exemplo, outro dia fui a Fortlev, empresa daqui. Eles me ofereceram R$ 100 de patrocínio. É mole?

Desde 1994 o deputado Marcos Vicente virou o principal cartola do futebol capixaba, chegou até a presidir a CBF…

Ele deveria ter feito muito mais pelo futebol capixaba. Quantos anos ele foi vice da CBF? Ele ficou anos na federação capixaba, é um político de influência e poderia ter trabalhado com isso. Por exemplo, a federação do Pará passa R$ 1,5 milhão por ano ao Remo, time de lá. Aqui só tiram. Mas estou aprovando a nova gestão da federação capixaba.

Foi certo o governo investir no estádio Kléber Andrade em Campo Grande?

Foi bom só para o Rio Branco. Ali há problema de mobilidade, escoamento de público dentro do estádio e não tem estacionamento. O Kléber Andrade não foi feito no lugar certo.

Como o senhor vê a situação de corrupção na cúpula da Fifa e na CBF?

É ruim para o futebol, traz descrédito. No Brasil, atrapalha os clubes brasileiros na busca por patrocínio. Acho que esses dirigentes devem ser bem punidos. Como um dirigente consegue ter R$ 15 milhões para pagar a justiça americana e se livrar da cadeia?
Clubes de Minas do Sul além de Fla e  Flu do Rio estão criando uma liga independente da CBF. É um bom caminho.
Sim, é preciso tirar esse poder todo da CBF criando as ligas. Só lamento que não chamaram o Serra.

Gabriel Almeida

Jornalista do Tempo Novo há mais de oito anos, Gabriel Almeida escreve para diversas editorias do jornal. Além disso, assina duas importantes colunas: o Serra Empregos, destinado a divulgação de oportunidades; e o Pronto, Flagrei, que mostra o cotidiano da Serra através das lentes do morador.

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