O incêndio no depósito da Petrobras no TIMS pode ter liberado substâncias radioativas no ambiente. A informação é da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) que, na última quinta – feira (07), disse que amostras de água e solo recolhidas no local estão sob análise em laboratório no Rio de Janeiro. O CNEN é órgão federal ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
O incêndio começou na tarde do último dia 27 de janeiro e só foi apagado mais de 24 horas depois, às 19h e 30 do dia 18. E além de bóias plásticas usadas na extração de petróleo no mar, atingiu 992 tambores contendo Radio-226 (Ra-226) e Rádio-228 (Ra-228), segundo o CNEN.
O fogo gerou intensa fumaça negra que foi vista e sentida em vários bairros da Serra e cidades vizinhas. Ventava forte naqueles dias. Em nota à reportagem na tarde de ontem (07), o CNEN disse que o material é uma borra de óleo residual contendo traços de rochas radioativas. É rejeito da extração de petróleo no mar, cuja denominação é NORM (Naturally-Occurring Radioactive Materials ) – Material Radioativo de Origem Natural.
Chamados pelo Corpo de Bombeiros na ocasião do incêndio, o órgão informou que fez medição no local e constatou que as taxas de doses de radiação no local estavam situadas na faixa do background (radiação natural). E solicitou da Petrobras um relatório da ocorrência.
O CNEN disse que a análise laboratorial servirá para saber se houve dispersão de materiais radioativos na água e no solo, uma vez que o líquido foi usado pelos bombeiros para controlar as chamas. A região do TIMS tem solo de turfa e as águas drenam para o Canal dos Escravos. Dali, para os manguezais do Lameirão, que formam reservas ambientais. Esse ambiente é parte da baía de Vitória.
O CNEN disse ainda que como o material está na borra oleosa, a “probabilidade de dispersão é pequena”.
Pesquisador alerta para riscos no solo e na água
O físico nuclear e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Marcos Tadeu Orlando, mandou equipe ao local assim que soube do incêndio pela imprensa. “Levamos dispositivos que construímos com equipamentos russos e israelenses. Usamos drones para sobrevoar a área e não deu para distinguir que se propagou algo diferente do natural”, disse.
Segundo Marcos, a avaliação foi feita em relação ao ar. Não abrangeu solo e água, resposta que só a análise do laboratório do Instituto de Radiodosimetria, no Rio de Janeiro, que está sendo feita a pedido do CNEN, pode dar. “O laboratório é uma referência. Foram eles que analisaram o caso do Césio 137 em Goiânia, maior episódio de contaminação radioativa do país (ocorrido em 1987)”, frisa.
Marcos Tadeu ressaltou que o Rádio 226 e o Rádio 228 da Petrobras são de baixa intensidade e não oferecem tanto risco, como no caso do Césio de Goiânia. Mas é preciso atenção com o solo e água, principalmente pelo risco de contaminação do lençol freático.
O pesquisador acrescenta que por lei esse tipo de rejeito deve ser armazenado em cápsulas em local controlado por pelo menos 200 anos. E que inclusive, deve-se ter cuidado especial na impermeabilização do solo.
Ibama aponta irregularidade
Na semana passada o analista ambiental do Ibama, Fábio Murilo Wagnitz, disse que os resíduos estavam armazenados de forma irregular. E que o órgão deverá autuar a Petrobras. O CNEN, por sua vez, disse que o material armazenado provisoriamente cumpria as normas reguladoras. “No entanto, este material deveria ter sido transferido para o depósito temporário de alvenaria na própria instalação desde agosto de 2018, data em que a Divisão de Rejeitos da CNEN autorizou esta transferência”, diz nota enviada ontem (07) à redação.
Já a Petrobras disse, por sua assessoria de imprensa, que o material não fornece riscos e que será recondicionado de acordo com as normas.