Com medo de um possível desabastecimento, supermercados da Serra e de outras cidades capixabas estão limitando, por cliente, a quantidade que pode ser comprada de pacote de arroz e outros produtos, como por exemplo, o litro de óleo. Nas últimas semanas, consumidores de todo o Brasil foram surpreendidos com um aumento de 81% em preços de produtos essenciais para a mesa dos brasileiros. De acordo com a Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), a alta do dólar e a pandemia de coronavírus são alguns dos fatores que causaram o aumento assustador.
A reportagem do TEMPO NOVO esteve em alguns supermercados da cidade para verificar as reclamações dos populares. Além do aumento, em preços, com o pacote de arroz chegando a R$ 22,90 e o litro de óleo a R$ 7, os estabelecimentos fixaram placas que indicam a quantidade de produto que poder ser adquirida – mesmo foi feito com álcool em gel no início da pandemia de Covid-19. Em Parque Residencial Laranjeiras, por exemplo, o consumidor podia levar apenas um saco de arroz. Já num comércio de Colina de Laranjeiras, eram permitidos três pacotes por família.
O presidente da Acaps, João Falqueto, confirmou que existe um temor de desabastecimento, principalmente de arroz, entre a categoria. No entanto, ele acredita que será bem difícil faltar o produto para venda nos supermercados, mas o risco existe. “Recebemos menos mercadorias do que vendemos. E os mercados nacionais, principalmente sobre arroz e óleo de soja, têm dado uma freada, pois se exportou demais. Mas ontem com o Governo Federal finalizando a liberação da importação de toneladas de arroz, deu um pouco mais de segurança para o setor”, destacou.
Ainda segundo Falqueto, por conta da alta do dólar, fica mais atrativo para os produtores, vender para outros países que exportam o grão, do que para compradores nacionais que pagariam mais barato. Outro problema é a pandemia causada pelo coronavírus. Segundo Falqueto, desde o início da crise mundial, o mundo veio às compras e “o Brasil é o celeiro do planeta”. “Houve um desequilíbrio por conta das secas, por conta da pandemia e as exportações. Tudo é um conjunto de fatores que causam a alta no mercado”, afirmou o presidente.
Sobre o desabastecimento, João Falqueto garantiu que todos têm mercadorias para chegarem e que “não deve faltar arroz nos supermercados”, mas a população precisa ajudar, trocando o produto por outro pelo menos uma vez por semana ou não ir correndo aos comércios comprando todo o estoque que encontrar, pois isso causaria mais um aumento no preço. “Como aumenta o consumo, aumenta o preço. Mas as conversas com os produtores e o presidente Jair Bolsonaro estão ocorrendo. Conversei com alguns arrozeiros hoje e o limite de venda (produtor x comerciantes) está acabando, mas o mercado voltou a subir um pouco.”
Vale destacar que o aumento ocorre durante uma crise sem precedentes, que é causada pela Covid-19 no mundo inteiro. Segundo estudos e levantamentos, muitos brasileiros estão desempregados e não conseguem uma oportunidade de trabalho facilmente, além disso muitas pessoas estão dependendo do auxílio emergencial do Governo Federal, que era R$ 600, mas agora vai diminuir para R$ 300.
Para se ter uma ideia do tamanho do problema, dados de uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que em julho deste ano, 240 mil pessoas que moram no Espírito Santo estavam procurando emprego, mas não acharam. Com isso, quem mora na Serra, está com incertezas sobre o futuro, já que teme novos reajustes em produtos.
Margarida de Couto é umas das que já sentiram no bolso os impactos e terá que gastar menos para comprar alimentos. “Tudo está aumentando, menos nosso salário. Para pagar esses absurdos, preciso tirar de um lugar para tampar o outro. É um problema para a classe mais pobre, além disso quem depende do auxílio não vai conseguir fazer nem a compra mensal.”
Alguns consumidores conversaram com a reportagem e confirmaram os aumentos. É o caso de Cintia Fernandes: “Achei por R$ 20 num atacado e por R$ 18 em outro supermercado de Serra Sede”, explicou.
Wagner Rangel também reclamou do aumento: “Paguei R$ 18,90 no bairro onde moro”. Para Fabio de Melo, o valor pago foi ainda mais caro: “R$ 21,90 num supermercado conhecido”.
E não é apenas o arroz que sofreu reajuste nos preços. Também há reclamações do preço do óleo de soja, que antes era encontrado por pouco mais de R$ 3. O leite de caixinha também está custando mais caro.
“Não vão voltar aos preços anteriores tão cedo”
Os serranos e demais brasileiros terão que enfrentar os preços mais altos por um longo período, pelo menos até fevereiro do ano que vem, quando deve haver a colheita de arroz. “Uma coisa é certa: os preços anteriores não vão voltar tão cedo. Isso podemos afirmar. Os valores devem continuar altos até a próxima safra, que é somente depois de fevereiro. A situação é lenta e acredito também que voltar a vender um pacote de cinco quilos por R$ 13 é quase impossível, por esses diversos fatores”, finalizou Falqueto.