Até o início da noite de ontem (7), não havia informação de que o óleo chegara a praias capixabas. As manchas mais próximas estavam a cerca de 50 km do Espírito Santo, no município baiano de Mucuri. Mas os pescadores da Serra já estavam sentindo os impactos.
Da Associação de Pescadores de Jacaraípe, Míriam Gomes Scheneider é proprietária de quatro barcos e tem uma banca de peixes no balneário. Segundo ela, temendo contaminação, clientes já haviam reduzido as compras. “Nosso peixe é pescado no ES em áreas aonde o óleo não chegou. Há alguns dias, teve cliente que veio aqui para comprar em maior quantidade e estocar, dizendo que não compraria mais por um bom tempo. As vendas já caíram 30%. Já perdemos pesqueiros por conta da lama da Samarco. Se o óleo chegar, não vamos mais saber o que fazer”, desabafa.
Míriam disse que, na última quarta-feira (6), os pescadores da Serra participaram de treinamento com técnicos ambientais, em que receberam orientações sobre como avisar as autoridades se avistarem óleo no mar. E até como remover o material em segurança.
Já o presidente da Federação das Associações de Pescadores do Espírito Santo, Manuel Bueno dos Santos, o Nego da Pesca, disse que é fundamental o monitoramento das águas e peixes na sequência do desastre. Algo que faltou, segundo Nego, no caso da lama da Samarco.
O dirigente lembrou, ainda, que mesmo que o óleo não chegue ao ES, os pescadores já foram atingidos. Foi proibida a pesca da lagosta e camarão na região de Abrolhos até o fim do ano. E lá é o principal pesqueiro dessas espécies para nós. A gente já vem sofrendo com a lama da Samarco, porque está proibida até hoje a pesca de camarão até 20 m de profundidade entre Degredo (Linhares) e Barra do Riacho (Aracruz).
Nego também lembra que são 600 pescadores que dependem do mar na Serra e 10 mil em todo o estado. “Mas o impacto é muito maior. Tem as peixarias, o posto que fornece combustível, a fábrica de gelo, o restaurante, o pessoal que faz os petrechos, as lojas que revendem”, enumera.
Ainda na última quinta-feira (7), a força-tarefa entre órgãos federais, estaduais e municipais montada em terras capixabas já fechou a foz do Riacho Doce, na divisa entre ES e Bahia, para evitar a entrada do óleo no manguezal. Homens das forças armadas estão acampados em Conceição da Barra para ajudar na limpeza das praias.