Contextualmente, a Serra é uma cidade estratégica para Casagrande no que diz respeito à eleição de 2026, quando ele precisará apresentar uma linha de sucessão. Atualmente, a Serra é governada pelo prefeito Sérgio Vidigal (PDT), que é um aliado umbilical, tendo comprovado tal aliança na eleição de 2022, quando foi um dos prefeitos mais aguerridos na campanha de reeleição de Casagrande.
Ocorre que, atualmente, o grupo que ameaça Casagrande no Espírito Santo é o partido Republicanos, que tem um projeto político consolidado na Serra: a candidatura do deputado Pablo Muribeca a prefeito. Tal projeto se mostra de oposição extrema a Vidigal, até mais do que o próprio ex-prefeito Audifax Barcelos (PP), que mantém mais de uma década de rivalidade com Vidigal.
Em hipótese de sucesso de Pablo e do Republicanos, é muito evidente que a Serra se tornará a porta de entrada para que esse grupo se estruture e enfrente o governador em 2026.
É nesse aspecto que entra Marcelo Santos. Recentemente, ele se filiou ao União Brasil. Habilidoso e articulador, Marcelo é também muito próximo de Pablo e do Republicanos. Durante essa semana, surgiram especulações de que o União Brasil, que antes estava no leque de apoio de Vidigal na Serra, iria passar para o controle de Pablo. Tais especulações se confirmaram na noite dessa sexta-feira (20), através de um movimento politicamente articulado por Marcelo Santos.
Não é algo trivial, considerando que o União Brasil é um partido endinheirado e pode injetar muitos recursos oriundos dos fundos públicos de financiamento eleitoral. Esse é um aspecto central para a campanha de Pablo. Dessa forma, o presidente da Assembleia patrocinou um movimento que apunhalou um dos maiores aliados de Casagrande. Além disso, patrocinou um movimento que, em sua essência, visa derrubar o próprio governador do poder em 2026.
Marcelo Santos se tornou presidente da Assembleia no início do ano passado, em uma brusca manobra organizada e executada pelo próprio Casagrande. Na época, o deputado Vandinho Leite já havia criado consenso entre a maioria dos deputados e estava praticamente consolidado na presidência. Eis que, nos ’45 minutos do segundo tempo’, Casagrande entrou em campo, desarticulou Vandinho e elevou Marcelo à condição de candidato do governador, sob o argumento de ser ele o “aliado mais próximo na Assembleia”. Um ano e meio depois, tal aliança se mostra frágil ao ponto de Marcelo fazer uma intervenção direta na cidade mais estratégica para os planos de Casagrande.
Nesse sentido, já se especula sobre as intenções de Marcelo Santos, uma vez que sua trajetória na Assembleia pode se esgotar em 2026. Aproveitando-se de um hipotético mandato de presidente (caso seja reeleito) e de uma hipotética vitória do grupo que ele está apoiando, encabeçado por Pablo na Serra, não estaria Marcelo Santos desejando algo maior? Tal como o Senado Federal ou até o Governo do Estado? São situações possíveis de serem imaginadas para alguém que, em tese, caso tenha sucesso, estaria estruturado na cidade com maior eleitorado e protegido pelas condições que um presidente da Assembleia detém.
Na verdade, dadas essas variáveis, Marcelo faz uma clara oposição ao governador. Pode não ser o tipo de oposição barulhenta e estridente, como fazem os bolsonaristas, por exemplo, mas sim uma oposição com sorriso no rosto, abraços e apertos de mãos, que talvez seja até pior, politicamente falando, já que é muito mais eficiente. Seria Marcelo o principal opositor de Casagrande no ES? É uma pergunta que o PSB precisa se fazer.
De qualquer forma a Serra, novamente, se revela a joia da coroa no que diz respeito aos arranjos estaduais, sendo o campo de combate mais aberto e importante para 2026. A mudança de postura do União Brasil é uma sinalização muito forte de que a briga vai ser grande, e que Marcelo e Casagrande não são tão aliados assim. O lamento fica para o PSDB, de Vandinho, que pagou essa conta em 2022, mesmo se mostrando realmente leal à aliança com o PSB.
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