Bruno Lyra
A chuva chegou forte à Serra no início da noite de ontem (27). E junto com as ações de combate ao incêndio, a fumaça das turfas pode seguir prejudicando os moradores do município por mais dias. A reportagem conversou com o tenente do Corpo de Bombeiro, Gabriel Caliman antes da chuva, na última quarta-feira (26) e durante o aguaceiro que caía em Laranjeiras na noite de ontem (27).
Na quarta-feira, Gabriel disse que mesmo se chovesse forte, dificilmente o fogo seria apagado logo. Mas ontem à noite revelou ter esperança de que o incêndio possa ser extinto já nesta sexta-feira (28). Tudo porque a abertura de valas e o preenchimento das mesmas com água dos valões da região, junto com o jateamento de água limpa do rio Santa Maria sobre os focos, havia conseguido elevar o nível do lençol freático sob as turfas nesta quinta-feira.
“Com isso podem ficar apenas focos superficiais que podem ser apagados nesta sexta, mas tudo vai depender da intensidade da chuva durante a madrugada”, disse Caliman por volta das 19h e 30 de ontem (27).
O tenente, disse que nesta sexta a equipe dos Bombeiros continuará trabalhando no combate, ação que vem recebendo apoio da Cesan e da Defesa Civil da Serra. Caliman disse ainda que o incêndio começou no último dia 18 e que testemunhas disseram ter visto um motociclista rodando na área ao final da madrugada daquele dia, pouco antes de apareceram diversos focos de fumaça preta. Esta não é típica das turfas, cuja fumaça é branca – que só apareceu depois – o que levanta suspeita de ação criminosa. “Mas só uma perícia pode apontar as causas”, pondera.
O fato é que desde 2014 incêndios tem atingido a área. Além do impacto ambiental, a saúde respiratória da população fica prejudicada. Pelas redes sociais moradores de bairros vizinhos como José de Anchieta, Jardim Tropical e Central Carapina e até mais distantes como Laranjeiras, Colina, Morada, Limoeiro e até Jacaraípe relataram incômodo e mal estar ao longo da semana.
Pneumologista diz que houve aumento de doenças
Presidente da Sociedade de Pneumologia do Espírito Santo, a médica Ciléia Martins, diz que fumaça das turfas é repleta de monóxido de carbono e enxofre, agravando problemas respiratórios em doentes crônicos e deflagrando em quem não possuía tais problemas.
Ciléia é pneumologista e atua no Hospital Metropolitano. Ela diz que na última semana houve aumento no atendimento em seu consultório. “Normalmente já há aumento nessa época de aproximação com o inverno. Mas notei um crescimento de 20% a 30% do normal. E não é de doentes, crônicos, mas de gente que passou a ter problemas respiratórios recentemente”, revela.
Segundo Ciléia, a fumaça pode ativar um quadro de rinite, evoluído para sinusite. “Daí para manifestação de asma e bronquite. Casos mais graves podem chegar à pneumonia”, explica a médica.
No incêndio de 2015, que durou cerca de três meses, a Prefeitura chegou a registrar aumento de 20% na procura por atendimento nos postos de saúde da região mais próxima às turfas.
Mas, segundo a assessoria de imprensa, desta vez isso não aconteceu. Pelo menos até a última quinta-feira (27). Disse ainda que pessoas alegando problemas respiratórios tem sido atendidas normalmente.
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