A região drenada pelo córrego Irema possui estação de tratamento de esgoto (ETE). Mas isso não impede que o manancial, de apenas três quilômetros de extensão, seja um canal de águas imundas que contamina a praia de Jacaraípe. A falta de resposta para a poluição do córrego é motivo de questionamento das comunidades do entorno, que reclamam de pagar 80% a mais na conta de água para tratar o esgoto.
É o caso da presidente da Associação de Moradores de Portal de Jacaraípe, Diva Ramos, um dos bairros cortados pelo manancial. “É um mau cheiro horrível. A gente paga taxa de esgoto para isto. Nosso IPTU é um dos mais caros da Serra, gira em torno de R$ 600 anuais. O pior é que nas ruas Austrália, Bélgica e Canadá nem coleta de esgoto tem, os moradores jogam na drenagem. Eu e outros presidentes anteriores já oficiamos a Cesan diversas vezes, mas nada foi feito”, diz a líder comunitária que está completando quatro anos à frente da Associação.
Diva disse ainda que foi aprovada no orçamento participativo a construção de uma galeria no leito do córrego. “Isso pode amenizar a situação dos moradores mais próximos, mas se não houver a despoluição o córrego vai continuar sujando a praia”, lembra.
Que o diga a moradora de Praia da Baleia, Luciana Lima Silva. No bairro fica o ponto onde o Irema cai no mar. “Levei minha filha à praia e não ficamos tão perto do córrego. Mesmo assim, a sujeira contaminou a minha filha e ela teve um problema ginecológico que o médico falou que foi por causa do esgoto, quando contei a ele onde a gente tinha ido”, relata.
Próximo à foz do córrego há uma placa indicando que o trecho está interditado para banho.
Também de Portal de Jacaraípe, Marcos Tadeu Gomes, cobra recuperação do córrego. “É preciso reflorestar as margens, conscientizar as pessoas quanto ao descarte do lixo e entulho. Mas, principalmente, melhorar o serviço de esgoto. Não adianta nada querer colocar galeria se não despoluir, assim é jogar a sujeira para baixo do tapete”, aponta.
O Irema começa no bairro Feu Rosa, nos fundo de uma fábrica de gelo às margens da Av. Eudes Scherrer. E desde a fundação do bairro na década de 1980, existe uma estação de tratamento de esgoto, hoje operada pela parceria Ambiental Serra/Cesan.
“Já visitamos a estação e parece que está funcionando normalmente. Nosso problema é que há partes do bairro em que não há rede de esgoto. A Ambiental Serra/Cesan diz que a prefeitura precisa regularizar o documento das casas para fazer as obras. Já protocolamos o pedido para a regularização desde novembro de 2017. Há também empresas que jogam dejetos no Irema, aponta a presidente da Associação de Moradores de Feu Rosa, Denizete Jesuína Lima.
Prefeitura diz que fiscaliza Ambiental Serra/Cesan
Por nota, a Ambiental Serra/Cesan informou que o entorno do córrego Irema conta com mais de 82,3% dos imóveis ligados na rede de coleta e tratamento de esgoto e 15,4% têm rede disponível, mas não se interligaram, o que representa quatro milhões de litros de esgoto sendo lançados no córrego por mês. Diz ainda que é fundamental que os imóveis façam a ligação na rede para que esse resíduo tenha uma destinação adequada.
Através da assessoria de imprensa, a Prefeitura disse que vistoriou a ETE Feu Rosa com a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado e não encontrou irregularidade no equipamento. Quanto às casas de Feu Rosa, disse que estudos para a regularização fundiária estão em andamento. Já em relação à denúncia de empresas que estariam poluindo o Irema, informou que estão sendo notificadas pela Secretaria de Meio Ambiente.