Por Bruno Lyra
A meteorologista do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural, Tabata Brito, explica as razões da super seca e alerta para o risco da falta d´água no resto do ano. Confira entrevista ao TN feita na última terça (04).
O que está acontecendo por ter tão pouca chuva, no estado, no Sudeste e no Brasil?
É bom lembrar que não só o estado passa por isso, mas boa parte do Sudeste também. O que está acontecendo é que durante do ano de 2014 estivemos num sistema de alta pressão, com uma massa de ar com caraterística de ar quente e seco. Esse sistema inibe a formação das nuvens e também impede que os sistemas que formam as chuvas, como aquele que vem da Amazônia, chegue até aqui. Isso foi basicamente o que causou essa falta de chuva.
Ele permaneceu em janeiro?
Sim. Por isso tivemos chuvas fracas só no norte do estado. E há previsão de chuva e pancadas de amanhã (quarta, 04) até domingo (08). O sistema está se afastando e assim possibilitando que a chuva chegue ao estado.
Quanto choveu em 2014 na Grande Vitória?
Choveu 1100 milímetros, 80% do esperado para o ano que é, em média, 1400 milímetros.
E por que o calor está tão forte?
Então o que acontece são alguns fatores como o sistema que impede a chuva de chegar e de formar nuvens para diminuir o sol. A média de temperatura em janeiro ficou três graus acima do esperado. A média era de 30 graus, e ficou em 33.
Qual a perspectiva de chuva para 2015?
Na última reunião climática, que une vários órgãos estaduais de meteorologia, foi discutida a dificuldade para prever as chuvas na região Sudeste. Foram apresentadas probabilidades para a região em 2015 e há modelos divergentes apontando pouca, média ou muita chuva. O que estamos esperando é que em fevereiro chova, mas em eventos isolados, chuva de final da tarde. Não vai servir para abastecer os reservatórios, mas deve amenizar a situação da agricultura.
É provável que tenhamos um 2015 difícil com relação à água?
Provavelmente, pois essa seca ainda não acabou. E o que pode confundir as pessoas é que uma chuva que possa acontecer acabe com o problema. Não é bem assim, o solo está muito seco. Mesmo se chover dentro da média, teremos um ano com pouca água por causa do déficit hídrico acumulado.
Quantos milímetros para resolver a vazão dos rios capixabas?
É difícil falar um número, pois cada bacia tem sua particularidade. Mas, de maneira geral, teria que chover pelo menos 20% a mais do esperado para o ano.
Como está a situação para Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina, municípios das cabeceiras do rio que abastece a Serra?
A última chuva registrada foi no dia 5 de dezembro. É muito tempo sem chuva. Estamos com possibilidades de chuva nesses lugares a partir de amanhã (quarta, 04) indo até a segunda- feira. Porem a gente não sabe se vai cair na cabeceira do rio.
Onde a seca está mais intensa?
A Grande Vitória e a parte oeste da bacia do rio Doce no estado são os pontos mais afetados.
Como é feita a medição das chuvas?
Com pluviômetros espalhados pelo estado. Alguns são nossos e outros de parceiros como o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) com quem trocamos informações. No site do Incaper tem fácil acesso à informação para todas as pessoas.
Existe uma tendência nos últimos anos de redução de chuva?
A gente não pode afirmar isso. Por exemplo, em 2014 tivemos eventos fortes de chuvas, que em um dia choveu para o mês inteiro.
Tivemos violentas e concentradas chuvas em curto espaço de tempo e agora essa seca prolongada numa época que deveria estar chovendo. Dá pra falar que são efeitos das mudanças climáticas?
Não dá pra dizer que tudo isso foi feito por causa do aquecimento global. Não temos um histórico tão abrangente de dados que possam corroborar isto. E mesmo sobre o aquecimento a nível mundial, há correntes científicas que sugerem até a possibilidade do planeta entrar em resfriamento.
Podemos botar esta seca na conta do desmatamento da Amazônia?
O desmatamento da Amazônia influencia o clima global como um todo. Mas ainda não dá para medir com precisão a influência em lugares específicos, como o ES ou mesmo a região Sudeste.
Em São Paulo chove demais na cidade, a ilha de calor esta facilitando os fenômenos sobre as chuvas. Tem a possibilidade das ilhas de calor formarem chuvas frequentes na Grande Vitória?
Esse fenômeno da ilha de calor já é conhecido em grandes metrópoles. Talvez a Grande Vitória não esteja no mesmo passo de São Paulo, mas pode acontecer aqui sim, já que as áreas verdes seguem sendo reduzidas. Quais medidas para amenizar chuvas violentas e secas intensas? Com relação à chuva não tem como remediar, não tem como fazer com que o fenômeno não aconteça. O lance é tentar avisar com antecedência. Podemos fornecer informações técnicas para as medidas serem tomadas. Assim também para a seca. Mas é claro que se o estado aumentar o reflorestamento podemos reduzir os impactos desses fenômenos. Com mais mata Atlântica, melhoraria na umidade, ficaria mais fresco e reduziria o efeito das enchentes.
O que a meteorologia já consegue prever hoje em termos de super chuvas e secas prolongadas?
A seca não é um fenômeno que se possa prever. Só é possível identificar quando realmente está acontecendo, ou seja, quando o déficit hídrico pode ser medido. Na Grande Vitória é muito difícil fazer previsão meteorológica. Estamos na região Sudeste, que é uma zona de convergência que dá muita variação. Diferente das regiões Norte e Sul que tem climas mais definidos.
Essa é a pior seca desde o início dos registros?
Sim. Visto que esta seca ainda não acabou, ela deve ultrapassar a de 1963. É possível que seja a pior da história.
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