Acalme o coração, você que me honra lendo esta crônica. O título não significa afirmação do cronista. Longe disso. Na verdade, é o nome de um clássico do faroeste americano dirigido por Sam Peckinpah há exatos 50 anos. Mas qual o motivo de criar um texto com cabeçalho tão direto e – convenhamos- violento? A violência. Não a aquela do criminoso Pike Bishop e seu bando, retratada com crueza no filme. Nem precisaria ir tão longe. Aqui mesmo em nossa querida Serra, quase que diariamente somos obrigados a conviver com mortes violentas, a maioria causada pela guerra do tráfico de drogas, mas também vinda por ação de ex-companheiros, que por não aceitarem o fim do relacionamento praticam o feminicídio, uma praga que nem a Lei Maria da Penha consegue eliminar.
Quero tratar do ódio crescente nas redes sociais, a maioria por motivação políticas nesses tempos de polarização aqui e acolá. Basta acessar os grupos virtuais criados na cidade, alguns cheios de bons propósitos buscando a melhoria de áreas cruciais, como saúde, educação e gestão pública, tendo a Serra como foco. Com a proximidade da eleição de 2020, os discursos tendem a deixar de lado a civilidade e partem pro tudo ou nada; é o ódio destilado sem reserva tendo como escudo apenas a tela do computador ou celular. Palavreado não recomendado e ataques à honra do político de outro grupo, geralmente com a ajuda das chamadas fake news. Quem não está comigo está contra mim, o meu é melhor do que o teu. E por aí vai.
Acredito que o destempero não vem de agora; esse ranço sempre esteve dentro daquela pessoa e a frieza da rede social – onde cada um escreve o que quer – ajudou a liberar esses instintos, principalmente a partir da eleição do atual presidente da República, escolhido por 58,28% do eleitorado serrano. Bolsonaro usa suas contas na rede para potencializar o ódio e alegrar seus seguidores.
Na Serra, sinto que certas pessoas estão mais preocupadas em usar a internet para desconstruir adversários de seus políticos, quando deveriam se preocupar em uma cidade melhor e com mais qualidade de vida para todos. Dia desses, um morador, revoltado com a demora no atendimento em uma UPA para o filho de colo, postou um vídeo detonando a atual administração. Após alguns minutos de silêncio começaram os debates, inicialmente de apoio ao sofrido pai para daí a pouco partir para a defesa de interesses políticos eleitorais. “A culpa é da administração passada”, disse um sendo imediatamente rebatido. Até que outro lembrou que o prefeito anterior é também o atual. Aí o caldeirão entornou de vez e os xingamentos se sucederam, ficando a situação do paciente mirim em segundo plano.
Não estou aqui para aconselhar a ninguém, mas me sinto como escritor na obrigação de liberar o meu ponto de vista sobre essas relações nada amistosas na rede social. A continuar assim as futuras gerações vão poder jogar na nossa cara, parafraseando o filme citado nesta crônica: “Teu ódio é a minha herança”.
Pedro Paulo de Souza Nunes é o autor da coluna ‘Nosso Lugar e Tempo’. Além de escritor, ele é colunista e membro da Academia de Letras e Artes da Serra (Aleas)