Enquanto vai contando os dias que faltam para terminar o seu governo, Renato Casagrande (PSB) vai também selando seu cavalo para se tornar em uma espécie de cavaleiro solitário. O líder socialista ao entregar a chave do Palácio Anchieta e, apesar da sua atual montaria, irá subir no seu cavalo, empunhar uma bandeira com os dizeres ‘em defesa do meu legado’ e percorrer as cidades do Estado para defender o seu nome, a sua honra e o seu governo.
Casagrande irá enfrentar dias difíceis. Terá pela frente tempestades, nevoeiros, ventanias. Caminhará entre montanhas, passará por vales estreitos, subirá morros íngremes, extensa planície, se deparará com as traiçoeiras areias movediças. Passará sede, fome, cansaços e desmaios.
Como ex-governador, Casagrande irá enfrentar a fúria e os ataques dos seguidores apaixonados no novo ocupante do Palácio Anchieta. O cavaleiro solitário terá que se desviar das bombas, das minas, dos tiros, das pedradas e dos bandos camuflados escondidos nas florestas que tentarão lhe atacar.
Ao adentrar nos povoados Casagrande enfrentará hostilidades por parte daqueles que defendem o novo mandatário, por parte daqueles que mudaram de lado para agradar o novo líder e um desprezo por parte daqueles que não querem desagradar quem agora tem o poder. Mas naquele mesmo povoado haverá uma pequena resistência e ali Casagrande receberá abrigo; seus séquitos os acolherão e irão juntos para as ruas enfrentar uma batalha campal em defesa do seu legado. E aí não é só o governo, é toda a sua vida política.
Nessa sua cruzada Casagrande não deve esperar muitos apoios. Exceto o seu partido, o PSB, as maiores e mais importantes legendas que estiveram com ele em seu governo lhe viraram as costas. Alguns partidos menores, por serem excluídos do novo governo e por falta de opção, talvez continuem aliados a ele.
A solidão do inverno até 2018
O PT por exemplo tem todos os argumentos para se opor ao futuro governo. Mas o partido e a sua militância desaprenderam a fazer oposição e há uma legião de petistas que irão ficar desempregados. A única porta entreaberta que lhes resta é a do futuro governo e é para lá que eles irão.
O PMDB ficou quatro anos no governo Casagrande e agora deverá ser aquele que desferirá os golpes mais mortais contra o futuro ex-governador. O PDT também é outra importante sigla que se manteve no governo pelas mãos de Casagrande e que agora está em campo oposto e irá engrossar a grande marcha em perseguição ao ex-governador e a seus aliados.
Casagrande estará só. Não poderá contar com nenhum tribunal, com nenhum órgão de fiscalização e nem com a imprensa; mesmo tendo sido muito generoso com as principais corporações de comunicação do Estado. Nem mesmo na Assembleia Legislativa, onde o seu partido ocupará duas cadeiras, Casagrande poderá contar com uma voz eloquente em sua defesa; os dois futuros membros do parlamento não tem experiência, influência e nem irão se indispor tanto com o futuro governo.
O único abrigo mais seguro que Casagrande encontrará nessa cruzada solitária é a direção nacional do PSB, que já lhe estendeu a mão elegendo-o presidente da Fundação João Mangabeira. Lá, pela conjuntura nacional e interesses diversos, o futuro ex-governador estará mais protegido.
Essa cruzada solitária e insólita de Casagrande vai até a eleição de 2018, quando as urnas se abrirão novamente trazendo o resultado da compreensão ou não da população.
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