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Moradores de periferias da Serra são os que mais morrem por Covid-19, e falta de acesso à saúde é apontada

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Região de José de Anchieta II: moradores apontam falta de atendimento médico e infraestrutura. Foto: Gabriel Almeida

Os moradores de bairros periféricos da Serra são os que mais estão sofrendo por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus. Acontece que das 510 pessoas mortas pela Covid-19 na cidade, grande parte residia em bairros mais simples, com pouquíssima infraestrutura, inclusive ausência de unidades de saúde. Feu Rosa e Das Laranjeiras – região de Jacaraípe, por exemplo, lideram o número de óbitos causados pelo vírus entre populares do município. No total, a Serra já registra 510 pacientes que não resistiram às complicações causadas pela doença.

O levantamento foi realizado pelo TEMPO NOVO, que consultou os dados no Painel Covid-19 – espaço onde a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) contabiliza todos os números referentes aos impactos da pandemia em território capixaba. As quatro primeiras comunidades que lideram o triste ranking de mortes na cidade são periféricas: Das Laranjeiras, Feu Rosa, Nova Carapina I e Vila Nova de Colares. Em seguida, vêm duas comunidades que não se enquadram na lista: Cidade Continental e Barcelona. Mas logo depois vem José de Anchieta I, que se inclui na lista.

Um parâmetro observado pela reportagem é que Colina de Laranjeiras – bairro de classe média com uma estrutura superior da grande maioria – é o com mais infectados pelo coronavírus na Serra, mas um dos que possuem menos óbitos. No total, são 787 casos e seis mortes em Colina. Ao contrário do bairro Das Laranjeiras (Jacaraípe), por exemplo, que possui 478 confirmações e 25 mortes – 19 óbitos a mais do que Colina. O mesmo também acontece com José de Anchieta I, que possui 323 confirmações e 16 mortes – dez a mais do que Colina.

Os moradores de Feu Rosa também sofrem com o risco de contaminação até mesmo de morte. Só na comunidade, já foram 25 mortes e 671 pessoas infectadas pelo coronavírus. Em Nova Carapina, a cena se repete: 22 óbitos. O mesmo também acontece em Vila Nova de Colares I: 20 mortes.

Falta de atendimento médico é um dos principais fatores, aponta socióloga e líder comunitária

Valão a céu aberto em José de Anchieta II: alguns moradores vivem em situação precária. Foto: Gabriel Almeida | Arquivo TN

De acordo com Maria do Carmo (Lilico), moradora de José de Anchieta II, liderança comunitária da Serra e defensora do direito das minorias, a falta de infraestrutura, de informação e de acesso básico à Saúde são os principais fatores para que o número de mortes em regiões periféricas seja mais alto que dos em bairros de classe média. Ela disse a reportagem, que na sua comunidade, falta até Unidade Básica de Saúde e os pacientes precisam subir ladeiras e ir até outro bairro para tentarem atendimento.

“Na verdade, penso que a morte de pessoas da periferia, tem muito a ver coma falta de informação, de infraestrutura, distância entre a população e unidade básica. Aqui em José de Anchieta II, as pessoas precisam percorrer uma longa distância para serem atendidos em outra comunidade. Para quem está passando mal, isso é complicado”, afirma Lilico.

Ainda segundo Maria do Carmo, a falta de informação é evidente e também proporciona essas mortes. “Já atendi várias pessoas daqui do bairro e de outras regiões que pedem orientações sobre o que fazer, como se cuidar. Sábado mesmo uma popular me procurou e me assustei com a situação de seu esposo. Orientei ela a ir com urgência à Unidade Básica”, disse.

A reportagem também conversou com Fabíola Cerqueira, que é socióloga e professora. Ela também confirma a falta de atendimento médico como um dos fatores, mas aponta outras possíveis causas. “ A falta de serviço médico preventivo faz também com que muitos só consigam acessar o serviço de saúde quando a doença já levou a um quadro mais grave”, afirma.

E continua dizendo: “no início da pandemia, os contaminados eram pessoas com maior poder aquisitivo, que costumam viajar para o exterior. Hoje percebemos que as vítimas desse vírus são pessoas das classes populares. Pessoas que não conseguiram fazer o isolamento social e precisam enfrentar ônibus lotados para garantir o sustento de suas famílias. Outra questão é que em muitas casas das periferias das grandes cidades, moram um número alto de pessoas, logo, se alguém é contaminado, não há como fazer o distanciamento dentro da própria casa”.

Prefeitura se defende de críticas e cita investimentos

Ao TEMPO NOVO, a Prefeitura da Serra se defendeu das críticas feitas pelos moradores, em relação a falta de atendimento médico e informações disponibilizadas às comunidades. Também citou os investimentos feitos pela Secretaria Municipal de Saúde para atender as comunidades, com o sistema de saúde e informações de combate à Covid-19. A nota na íntegra está abaixo:

“O município da Serra trabalha incansavelmente para minimizar os impactos do novo coronavírus na cidade. Tanto que, atualmente, a Serra é o quarto município em número relativos de óbitos.

Os moradores de José de Anchieta contam com uma Unidade de Saúde para atender a região, que, inclusive, é a primeira do Estado a aderir ao projeto Saúde na Hora, com horário de funcionamento ampliado até às 19 horas.

O município da Serra foi o primeiro a iniciar a distribuição de máscaras à população, já foram entregues mais de 350 mil. Além disso, mais de 450 mil kits de limpeza foram distribuídos, principalmente para a população de baixa renda.

Vale ressaltar que a Serra é o município que possui a maior rede atendimento aos moradores na área da saúde, contando com três upas, seis unidades regionais e 33 unidades básicas de saúde.

Além disso, a Secretaria de Saúde ampliou o número de profissionais trabalhando e, durante todo o período de pandemia, a população foi orientada sobre os cuidados e as medidas preventivas a serem adotadas, através de blitze, panfletos, cartazes, campanhas televisivas, em rádios e em sites, como, por exemplo, no jornal Tempo Novo”.

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