Os moradores de bairros periféricos da Serra são os que mais estão sofrendo por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus. Acontece que das 510 pessoas mortas pela Covid-19 na cidade, grande parte residia em bairros mais simples, com pouquíssima infraestrutura, inclusive ausência de unidades de saúde. Feu Rosa e Das Laranjeiras – região de Jacaraípe, por exemplo, lideram o número de óbitos causados pelo vírus entre populares do município. No total, a Serra já registra 510 pacientes que não resistiram às complicações causadas pela doença.
O levantamento foi realizado pelo TEMPO NOVO, que consultou os dados no Painel Covid-19 – espaço onde a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) contabiliza todos os números referentes aos impactos da pandemia em território capixaba. As quatro primeiras comunidades que lideram o triste ranking de mortes na cidade são periféricas: Das Laranjeiras, Feu Rosa, Nova Carapina I e Vila Nova de Colares. Em seguida, vêm duas comunidades que não se enquadram na lista: Cidade Continental e Barcelona. Mas logo depois vem José de Anchieta I, que se inclui na lista.
Um parâmetro observado pela reportagem é que Colina de Laranjeiras – bairro de classe média com uma estrutura superior da grande maioria – é o com mais infectados pelo coronavírus na Serra, mas um dos que possuem menos óbitos. No total, são 787 casos e seis mortes em Colina. Ao contrário do bairro Das Laranjeiras (Jacaraípe), por exemplo, que possui 478 confirmações e 25 mortes – 19 óbitos a mais do que Colina. O mesmo também acontece com José de Anchieta I, que possui 323 confirmações e 16 mortes – dez a mais do que Colina.
Os moradores de Feu Rosa também sofrem com o risco de contaminação até mesmo de morte. Só na comunidade, já foram 25 mortes e 671 pessoas infectadas pelo coronavírus. Em Nova Carapina, a cena se repete: 22 óbitos. O mesmo também acontece em Vila Nova de Colares I: 20 mortes.
De acordo com Maria do Carmo (Lilico), moradora de José de Anchieta II, liderança comunitária da Serra e defensora do direito das minorias, a falta de infraestrutura, de informação e de acesso básico à Saúde são os principais fatores para que o número de mortes em regiões periféricas seja mais alto que dos em bairros de classe média. Ela disse a reportagem, que na sua comunidade, falta até Unidade Básica de Saúde e os pacientes precisam subir ladeiras e ir até outro bairro para tentarem atendimento.
“Na verdade, penso que a morte de pessoas da periferia, tem muito a ver coma falta de informação, de infraestrutura, distância entre a população e unidade básica. Aqui em José de Anchieta II, as pessoas precisam percorrer uma longa distância para serem atendidos em outra comunidade. Para quem está passando mal, isso é complicado”, afirma Lilico.
Ainda segundo Maria do Carmo, a falta de informação é evidente e também proporciona essas mortes. “Já atendi várias pessoas daqui do bairro e de outras regiões que pedem orientações sobre o que fazer, como se cuidar. Sábado mesmo uma popular me procurou e me assustei com a situação de seu esposo. Orientei ela a ir com urgência à Unidade Básica”, disse.
A reportagem também conversou com Fabíola Cerqueira, que é socióloga e professora. Ela também confirma a falta de atendimento médico como um dos fatores, mas aponta outras possíveis causas. “ A falta de serviço médico preventivo faz também com que muitos só consigam acessar o serviço de saúde quando a doença já levou a um quadro mais grave”, afirma.
E continua dizendo: “no início da pandemia, os contaminados eram pessoas com maior poder aquisitivo, que costumam viajar para o exterior. Hoje percebemos que as vítimas desse vírus são pessoas das classes populares. Pessoas que não conseguiram fazer o isolamento social e precisam enfrentar ônibus lotados para garantir o sustento de suas famílias. Outra questão é que em muitas casas das periferias das grandes cidades, moram um número alto de pessoas, logo, se alguém é contaminado, não há como fazer o distanciamento dentro da própria casa”.
Ao TEMPO NOVO, a Prefeitura da Serra se defendeu das críticas feitas pelos moradores, em relação a falta de atendimento médico e informações disponibilizadas às comunidades. Também citou os investimentos feitos pela Secretaria Municipal de Saúde para atender as comunidades, com o sistema de saúde e informações de combate à Covid-19. A nota na íntegra está abaixo:
“O município da Serra trabalha incansavelmente para minimizar os impactos do novo coronavírus na cidade. Tanto que, atualmente, a Serra é o quarto município em número relativos de óbitos.
Os moradores de José de Anchieta contam com uma Unidade de Saúde para atender a região, que, inclusive, é a primeira do Estado a aderir ao projeto Saúde na Hora, com horário de funcionamento ampliado até às 19 horas.
O município da Serra foi o primeiro a iniciar a distribuição de máscaras à população, já foram entregues mais de 350 mil. Além disso, mais de 450 mil kits de limpeza foram distribuídos, principalmente para a população de baixa renda.
Vale ressaltar que a Serra é o município que possui a maior rede atendimento aos moradores na área da saúde, contando com três upas, seis unidades regionais e 33 unidades básicas de saúde.
Além disso, a Secretaria de Saúde ampliou o número de profissionais trabalhando e, durante todo o período de pandemia, a população foi orientada sobre os cuidados e as medidas preventivas a serem adotadas, através de blitze, panfletos, cartazes, campanhas televisivas, em rádios e em sites, como, por exemplo, no jornal Tempo Novo”.
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