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Naly: o intelectual prefeito da Serra que trouxe água e luz para a cidade

Crédito: acervo Jornal Tempo Novo

Em 25 de dezembro de 1916, os Encarnação Miranda, humilde família serrana que vivia da pequena agricultura, comemoravam feliz um presente de Natal muito especial: o nascimento do caçula dos oito filhos do casal Izidra e Elesbão Alexandre, sendo-lhe dado o nome de Naly da Encarnação Miranda.

A origem simples levou o novíssimo, Encarnação Miranda, ainda adolescente, a ter que trabalhar duro para ajudar no sustento da família, sem, entretanto, deixar o tempo que podia ao estudo. O prêmio veio em 1959, aos 43 anos, ao bacharelar-se em Direito pela então Faculdade de Direito do Espírito Santo, o curso mais antigo do Estado, hoje agregado à Universidade Federal do Espírito Santo.

Naly trabalhou como pequeno comerciante, escriturário, contador, gerente, professor e em diversos cargos da Prefeitura da Serra e Guarapari. Também foi delegado do Ipase (Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado), inspetor e chefe de Seção de Estatística do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no Estado.

Além disto, fundou e presidiu muitas entidades serranas, entre elas: Banda de Música Estrela dos Artistas, Fundação Educacional Lourenço Braz, Colégio Serrano, Biblioteca Belmiro Geraldo Castello, Municipal Esporte Clube, Lions Clube e duas lojas maçónicas.

Do Exército à política

No começo de 1943, os preparativos do Brasil para entrar na Segunda Guerra Mundial encontram Naly servindo ao Exército, com a patente de cabo, chegando a ser mobilizado para o embarque. Mas deu baixa em outubro, porque se casara em 17 de julho com Nina Fraga Miranda, daí nascendo seis filhos.

Em 1954 ele assumia o primeiro cargo político-eletivo na Serra, como vereador, exercendo-o até 1959; durante o mandato foi eleito presidente da Câmara pelos colegas de legislatura.

Mas ele mal teve tempo para respirar, porque seu povo o fez prefeito de 1959 a 1963, quando desenvolveu um trabalho que o levaria de volta ao Poder Executivo dois mandatos depois, de 1967 a 1971.

Em 1962 ele se licenciou da Prefeitura por 30 dias, para se candidatar a deputado estadual, com expressiva votação em seu município, mas não bastante para, sozinha, elegê-lo, retornando ao Poder Executivo até o fim do mandato.

Entre as muitas conquistas como prefeito destacam-se: implantação do abastecimento de água na Sede, de eletrificação no município e consecução da localização do porto de embarque de minério da Companhia Vale do Rio Doce na Ponta de Tubarão, que então pertencia ao município da Serra.

Da militância política de Naly também faz parte a presidência dos diretórios serranos do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) em 1962, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) em 1976, de seu sucessor PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) e 1981 e do PDT (Partido Democrático Trabalhista) em 1984.

De seu currículo constam ainda atividades musicais (é autor do Hino do Ginásio Serrano e da valsa Sopro da Vida, letra) e jornalísticas: fundou e dirigiu o hoje extinto ‘Jornal da Serra’, dirigiu o ‘Jornal de Guarapari’ (1973/74) e publicou muitos artigos em diários da Capital capixaba, Vitória.

Literatura

Com o livro Divina Força, Naly faz sua terceira incursão em termos editoriais no campo da literatura, pois já tinha publicado dois outros livros: Reminiscências da Serra em 1984 e Comentários Históricos da Serra em 1990.

Neste terceiro título ele incursiona por um assunto polêmico, ao tentar mostrar sua concepção de Deus, fugindo totalmente à principal característica dos anteriores, inestimáveis fontes de pesquisa, consulta ou mesmo simples curiosidade sobre episódios já remotos na história de uma Serra que ele vivenciou intensamente.

Também fez parte da Academia de Letras e Artes da Serra (Aleas) sendo aclamado presidente de honra da entidade.

Homenagens a um cidadão ilustre

Homenagens a um cidadão ilustre Naly virou nome de uma avenida, no bairro São Lourenço e também de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Naly da Encarnação Miranda, o conhecido popularmente como Caie de Feu Rosa.

Morreu em casa

Este grande nome serrano faleceu no dia 21 de setembro de 1996 com 79 anos de idade. Ele completaria 80 anos de idade no dia de Natal, 25 de dezembro.

Naly foi vítima de complicações pulmonares, renais e cardíacas, que o maltrataram durante meses, tendo sido internado duas vezes e submetido a uma intervenção cirúrgica.

O ilustre cidadão serrano faleceu em casa ao lado de toda sua família, foi velado na sede da Banda de Música Estrela dos Artistas, que ele fundou, depois foi para a sala de reuniões da Prefeitura da Serra, onde recebeu honras de prefeito. Logo após, teve seu corpo levado para Igreja Matriz da Serra – a Nossa Senhora da Conceição, de onde foi levado em cortejo para o Cemitério da Serra- sede, onde foi enterrado.

Na ocasião, milhares de pessoas, entre amigos e familiares se reuniram para dar o último adeus a uma destas pessoas que, na verdade, não morrem: passam à história.

De sua casa, Dr. Naly tinha uma visão privilegiada do maior símbolo de sua Serra, o monte Mestre Álvaro. Crédito: Acervo TN.
Naly em sua casa, na região de Serra Sede. Foto: Acervo TN
Naly Mirada na companhia do casal Gilson e Sandra Gomes: Crédito: Acervo TN
Bordas de Ouro da Casal Miranda registrada em 1993 pelo Jornal Tempo Novo. Crédito: Acervo TN
Naly no lançamento de seu terceiro livro: A Divina Força. foto: Acervo TN
Jornal Tempo Novo publicado em 27 de setembro de 1996 repostava a morte de Naly. Crédito: acervo TN
Escola Professor Naly da Encarnação Miranda (popularmente conhecida como CAIC de Feu Rosa). Crédito: divulgação.

Este texto é uma adaptação da coletânea produzida e publicada pelo Jornal Tempo Novo em 2011, com o nome: ‘Protagonistas da Serra’. Escrito originalmente pelo jornalista Maurilen de Paulo Cruz e publicado na edição 927.

Redação Jornal Tempo Novo

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