Yuri Scardini
Em janeiro de 2018, o vice-governador Cesar Colnago (PSDB) deve assumir pela 11º o comando do Palácio Anchieta. Nesta entrevista, o tucano aponta os rumos para a economia capixaba, defende a retomadas da atividade da mineradora Samarco e diz que o governo tem investido na Polícia Militar. Na política, Colnago confirma a tendência do governador Paulo Hartung (PMDB) de desincompatibilizar do cargo em abril. Confira:
Quais são as soluções para o Brasil sair da crise econômica?
Temos que retomar um conjunto de reformas. Fizemos a Trabalhista e agora é hora da Previdência. A União teve um déficit de R$ 180 bilhões em 2017. Isso rebate na Previdência dos estados e municípios. Esse ano, tivemos no ES, R$ 1,7 bilhão de déficit. Temos também a Reforma Tributária, nosso Código Tributário é o mais complexo do mundo. Além do custo enorme, é muito propício para à sonegação e a evasão fiscal. Precisamos simplificar. Outra reforma que é a mãe de todas, é a reforma política. Criar regras para tornar as eleições mais baratas e com maior nível de representatividade.
A economia capixaba vem sofrendo sucessivos impactos: fim do Fundap, royalties, paralisação da Samarco, desaceleração da celulose, siderurgia, Jurong, e a crise hídrica. Essas mudanças são conjunturais ou representam um novo ciclo de mudanças para o ES?
Temos um modelo industrial e exportador, que já está consolidado e é importante a manutenção. Agora temos que inovar. Vivemos em um momento da economia B, da economia criativa, e desenvolver novas vocações. O turismo é uma área que temos que investir muito; temos belas praias, turismo de negócio e as nossas montanhas. Acho que no ES não cabe mais o velho modelo de trazer empresas poluidoras aqui. A discussão hoje é pela geração de emprego, renda e riqueza, juntamente com a sustentabilidade e que dê retorno, como saúde, educação e segurança. É uma realidade que ninguém vai recuar mais, por isso temos que ser criativos e investir nessas novas alternativas, principalmente no terceiro setor.
E quais seriam esses novos modelos de desenvolvimento sustentável?
A gente tem estimulado muito as novas tecnologias e aquilo que traz melhorias para o cidadão, por exemplo, a questão energética. Temos que pensar em alternativas como o ar e a luz solar. São matrizes energéticas mais compatíveis com o mundo de hoje. Na agricultura temos a tendência do orgânico. Incentivamos muitos produtores orgânicos no ES. É uma discussão de abandonar velhos hábitos, que com certeza são causadores de muitos malefícios.
É possível estender a Sudene até a divisa com o Rio de Janeiro?
Vou ser muito verdadeiro, eu não pensaria nesta hipótese. O meu receio é tentar ampliar muito e daqui a pouco o Rio de Janeiro estar reivindicando também. Temos que criar instrumentos de desenvolvimento, como o Fundesul por exemplo.
Como a escassez de água no ES impacta a economia? E como reverter isso?
Impacta diretamente. Antigamente ter terra era importante; hoje ter terra e não ter água não adianta. Do ponto de vista local, promovemos três ações: primeira é a produção de água. Criamos o programa Reflorestar, que é a cobertura vegetal de topo e encosta de morro para melhorar a infiltração e ter de volta as nascentes. Outro ponto é reservar água, construindo uma série de barragens. Por fim, a economia da água. Rever o processo tecnológico na agricultura, na indústria e nas áreas de serviços ou nos lares.
É possível no futuro as grandes plantas industriais utilizarem água de reuso?
Com certeza, e mesmo de outras alternativas, como dessalinização. Esse custo tende a cair com o tempo.
Qual é a dimensão do impacto com a paralisação da Samarco na economia capixaba?
Primeiro o impacto na própria bacia e os prejuízos aos pescadores. Segundo um impacto fiscal, já que a Samarco representa em torno de 5% do PIB capixaba. O desemprego cresceu muito, principalmente na sua área de influência houve um empobrecimento dessa área. É fundamental que a empresa também tenha condições de retomar. Trabalhamos com a perspectiva de retorno no segundo semestre do ano que vem, até porque tem uma dívida pelo desastre que causou e ela tem que quitar.
Em 2017, um fato que marcou os capixabas foi a paralização da Polícia Militar. O que fazer, na perspectiva de Estado, para que isso não volte acontecer?
A gente viu agora, que não foi uma coisa do acaso. Houve uma certa organização para que essa coisa pudesse acontecer. Estamos tomando todas as providências no sentido de, na medida do possível, investir na polícia. Foram milhões em equipamentos de proteção e viaturas, também vamos ampliar os serviços no HPM. Não dava para ceder naquele momento; a realidade mostrou o que está acontecendo no Estado do Rio e de Minas, com dificuldade de fechar as contas. O ES se recupera cada vez mais e a medida do possível, vamos atender os servidores. Mas nada fora do compasso.
Algumas lideranças políticas da Serra afirmam que o Estado investiu pouco no município nos últimos anos. Isso procede?
Com a crise, perdemos a capacidade de investimento de modo geral. Em 2010, investimos R$ 1 bilhão. Este ano, com recurso próprio será de cerca de R$ 200 milhões. Mas todos os municípios, por ação do Estado, receberam investimentos. Na Serra entregamos o sistema de Reis Magos, que vai garantir abastecimento para 150 mil pessoas, um investimento de R$ 70 milhões. Fizemos investimentos no 6º Batalhão da PM na Serra, unidade da Escola Viva, Ocupação Social e muito mais.
Quais são seus planos políticos em 2018?
Evidentemente, serei candidato. Vou definir ainda, posso ser candidato a deputado federal. Se o governador sair eu assumo o Governo. Ainda está avaliando a candidatura de Governo, mas não vou antecipar antes de a gente ter um cenário real.
O governador Paulo Hartung deve se desincompatibilizar e buscar um espaço em alguma chapa presidencial?
Só vamos saber em abril. Ele tem dito que pode sair, mas, tudo tem sua hora. A decisão é dele.
Como o senhor avalia o lançamento das pré-candidaturas ao Governo das principais lideranças locais: o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT) e o prefeito Audifax Barcelos (Rede)?
Feliz o Estado que possa ter lideranças de qualidade como essas para poder lançar. Ruim é quando você não tem nome. Acho que no caso do ES, temos além do nome de Hartung, belíssimos nomes. Podemos colocar as duas lideranças citadas, realmente representativas e outros.