Categories: Meio Ambiente

Nova mortandade de peixes atinge lagoa Juara na Semana Santa

Foto feita neste sábado (15) pela manhã na Juara. Foto: Divulgação/Claudiney Rocha

Bruno Lyra

A  mortandade de peixes virou rotina e atinge novamente a lagoa Juara neste final de semana. Para deixar o quadro ainda mais triste, está acontecendo durante o feriado da Semana Santa, quando há a tradição cristã do consumo de pescados.  

Morador da região da Juara e presidente do Instituto Brasileiro de Fauna e Flora (Ibraff), Claudiney Rocha, disse que a mortandade começou na última quinta –feira (13) e se agravou ontem (15), na Sexta Feira Santa.

“Junto com pescadores, navegamos por vários trechos da lagoa e a mortandade é generalizada. Estão morrendo animais de água doce, como a tilápia e camarões. E também os de água salobra, como tainha, robalo e siris. Acompanho a lagoa há anos e a falta de gestão ambiental só agravou a degradação. Hoje a Juara é uma lagoa condenada”, desabafa. 

Dragagem do rio Jacaraípe: manguezal retirado, rio mais largo, fundo e salgado. Foto: Arquivo TN/Bruno Lyra

Desde 2014 pelo menos outras três mortandades atingiram a lagoa: em janeiro daquele ano e em junho e setembro de 2016. Fato que Claudiney atribuir à forte carga de esgoto tratado ou não que é lançado na lagoa e nos córregos que a alimentam, mas sobretudo à sanilização que daquela época para cá passou a atingir a lagoa com mais força.  

É que a Juara, naturalmente ligada ao mar pelo rio Jacaraípe, passou a receber uma quantidade muito maior de água salgada com o aprofundamento e alargamento radical do canal deste rio, obra feita pela Prefeitura da Serra ao custo de R$ 10 milhões para tentar acabar com os alagamentos na região.

“Essa dragagem ainda acabou com os manguezais e matas ciliares do rio. O esgoto também é um problema sério, mas não acredito que tenha aumentado tanto nos últimos três anos. A dragagem é a principal responsável por este caos”, aponta. 

A mortandade de setembro de 2016 foi determinante para o fim da psicultura da tilápia. Foto: Arquivo TN/Bruno Lyra

Do Movimento Ambiental da Serra, a ativista Luciana Castorino esteve nas margens da Juara na última quinta-feira. Ela lamentou a situação. “A lagoa está podre cheia de urubus comendo os peixes nas margens. O pior é que ainda tem gente que pega os peixes agonizantes, um risco para a saúde” , alerta.

Luciana reclamou do excesso de poluição na Juara e espera que a CPI do Esgoto, tocada na Câmara de Vereadores, possa ajudar a pressionar as empresas de saneamento a melhorar o serviço na região.

Degradação acaba com produção de tilápia

Além da fauna e flora, a degradação da Juara tem produzido impactos econômicos e sociais negativos. Um deles foi no projeto da produção de tilápia em tanques rede, que depois de 11 anos teve que ser encerrado em setembro do ano passado, quando houve grande mortandade.

O presidente da Associação de Pescadores Deraldo Balestreiro: antes do colapso, tanques rede produziam 5,5 ton de tilápia/mês. Foto: arquivo TN/Fábio Barcelos

Para não perder a renda, a Associação de Pescadores da lagoa Juara passou a cultivar os peixes na lagoa do Aguiar em Linhares, e trazê-los para vender na Praça da Tilápia – espaço às margens da lagoa que Juara referência pela peixaria e restaurantes.  

Só que além de terem que vender o peixe mais caro por conta do custo do frete, ainda tem que lidar com a desconfiança de muitos clientes que já não se sentem segurança por conta da degradação da Juara.

Problema que bateu ainda mais forte nos pescadores que pegavam os peixes soltos na Juara para vender. De acordo com Claudiney Rocha, do Ibraff, cerca de 70 famílias dependiam da Juara, contanto as turmas da piscicultura e dos que capturam os peixes soltos.

Prefeitura diz que dá suporte a pescador e promete melhorar lagoa

No final de março, a assessoria de imprensa da prefeitura da Serra disse que o município planeja revitalizar a lagoa,  com a construção de decks, reforma dos pontos de vendas de pescado, paisagismo, calçamento, entre outros. Tal projeto está em fase de estudo para captação de recursos.

Falou também que a região terá 100% de esgoto tratado através da Pareceria Público Privada (PPP) em vigor na cidade desde 2015. Disse ainda que apoia os pescadores divulgando o polo gastronômico da Praça da Tilápia, cujos peixes agora vem de outra região. Mas a assessoria não mencionou o problema da salinização.

Redação Jornal Tempo Novo

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