O governo norte americano anunciou na semana passada novas restrições para importação de aço do Brasil. A medida tem potencial para impactar a economia da Serra. Isto porque a maior indústria instalada na cidade – a ArcelorMittal Tubarão – é uma das maiores produtoras nacionais de aço e tem nos Estados Unidos um dos destinos de principais de suas exportações.
Além de proporcionar milhares de empregos diretos e indiretos na Serra e cidades vizinhas na Grande Vitória, a atividade da siderúrgica gera impostos e ativa rede de empresas locais fornecedoras e prestadoras de serviço. E ainda está ligada a outra gigante do Complexo de Tubarão, a Vale. Esta fornece minério de ferro em pelotas e opera a logística por onde chegam calcário e carvão mineral, insumos para a fabricação das placas de aço que a ArcelorMittal Tubarão exporta aos EUA.
Para entender como essa nova medida do governo dos EUA afeta a produção nacional de aço e por conseguinte o arranjo siderúrgico instalado em solo capixaba é preciso voltar a 2018. Naquele ano o presidente Donald Trump estabeleceu cota, estimada em 3,5 milhões de toneladas por ano, para importação do aço brasileiro. A cota foi implantada no lugar de taxar o produto importado em 25%.
O que aconteceu na semana passada foi a redução dessa cota, justificada pelo presidente Donald Trump pela redução da demanda por aço em razão da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. A medida gerou preocupação ao governo Brasileiro, que no entanto não divulgou de quanto foi a redução da cota. Mas o Instituto Aço Brasil estimou que no 4º trimestre de 2020 aos invés de exportar 350 mil toneladas, as siderúrgicas brasileiras só devam conseguir mandar 60 mil toneladas de aço ao território norte americano.
Questionada sobre o impacto da redução em sua unidade na Serra, a ArcelorMittal Tubarão, disse que não comentaria o assunto. Mas é mais um baque vivido pelo setor siderúrgico no ES, que além da recente crise gerada pela pandemia, já havia sido impactado pela adoção da cota no EUA em 2018 e pelo rompimento das barragens de rejeitos da Vale em 2019 e da Samarco (Vale + BHP) em 2015.
Tanto que até o religamento do Alto Forno 2 no último dia 26 de julho, a ArcelorMittal estava operando com menos da metade da capacidade total instalada na planta da Serra, que é de 7,5 milhões de toneladas/ano. A empresa segue com o Alto Forno 3 desligado.
Procurado pela reportagem, o Instituto Aço Brasil disse que não faria uma avaliação particularizada sobre o impacto da redução da cota dos EUA no parque siderúrgico instalado no ES. Mas considerou “razoável” a negociação que permitiu que pelo menos 60 mil toneladas de aço possam ser exportadas pelo Brasil aos EUA no último trimestre do ano. Antes da redução da cota anunciada na semana passada, esse volume seria de 350 mil toneladas. Confira ao final dessa reportagem o posicionamento do Instituto na íntegra.
Já o governo brasileiro evitou o confronto com a Casa Branca. Em nota conjunta divulgada no último sábado (29) pelos ministérios das Relações Exteriores e Economia, Brasília diz que nova rodada de negociações com os EUA devem acontecer em dezembro e espera que haja restabelecimento ou até crescimento do comércio de aço semi-acabado entre as duas nações.
Sempre que há turbulência no mercado internacional do aço ou problemas como a tragédia de Brumadinho – MG acende o alerta de preocupação na Serra. Isso porque são situações com potencial para afetar a ArcelorMittal Tubarão, empresa gigante que é um dos pilares da economia não só da Serra, mas também do ES.
Para entender isso, basta observar os números da siderúrgica. Segundo estudo feito pela UFES em parceria com a ArcelorMittal Tubarão, as atividades da empresa representaram 12,6% do PIB do ES em 2016. Naquele ano, a empresa tinha 5,3 mil funcionários próprios, fora os terceirizados, e injetara R$ 2,82 bilhões na economia capixaba.
O mesmo estudo revelou ainda que entre 2004 e 2016, a ArcelorMittal Tubarão recolheu por ano R$ 4,5 milhões para o município de Vitória e R$ 3 milhões para a Serra em ISS e IPTU. De tributos estaduais foram recolhidos R$ 204 milhões anualmente, em média, no período citado.
O Instituto Aço Brasil considerou razoável o processo negocial que levou à decisão dos EUA de liberar a importação de 60 mil toneladas de aço semiacabado brasileiro no 4º trimestre/20, de um total de 350 mil toneladas.
“Nosso acordo foi razoável frente ao que os EUA adotaram com outros países, como por exemplo, a taxação de 25% nas importações de alumínio do Canadá. Dentro do contexto geral, nós já exportamos 90% da cota e ficou uma parte que não está perdida. Vamos discutir em dezembro”, afirmou Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil.
Em junho passado, o governo americano, através da USTR (United States Trade Representative) externou ao Ministério das Relações Exteriores preocupação com a rapidez com que as quotas trimestrais de semiacabados eram preenchidas, requerendo que o Brasil flexibilizasse o preenchimento dessas quotas no 3º trimestre.
Foi explicado ao governo americano que o preenchimento das quotas se deve à necessidade do importador americano. É ele quem determina o ritmo da internalização dos produtos nos EUA.
Na sequência, o governo americano solicitou que não fosse exportada a quota do 4º trimestre. Tal pleito se deveu à pressão das usinas americanas que passaram a ter condição de ofertar as placas, devido ao fato de que com a queda do mercado americano com a Covid-19, ficaram ociosas.
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