Esses quinze primeiros dias de governo já foram suficientes para Paulo Hartung (PMDB) perceber que este mandato será bem diferente dos seus dois primeiros mandatos.
Doze anos atrás, quando assumiu o governo pela primeira vez, Hartung pegou um Estado tido como ‘terra arrasada’, mas em um período onde a população cobrava menos, a natureza era mais gentil e chovia mais. Período em que havia menos veículos nas ruas e avenidas, e o risco no trânsito era menor. Quando andar de Transcol era mais seguro.
Hartung chegou dia 1º e já pipocaram dezenas de problemas. Um dos mais graves é a falta de água em Guarapari, município administrado por um aliado seu, que já deixou claro que ‘não quer farofeiro’ na cidade durante o verão. A situação de abastecimento de água pela Cesan é tão caótica no balneário mais famoso do Estado, que centenas de residências ficam até 15 dias sem uma gota de água. Isso vem ditando o sono da Cesan.
Ainda bem que a Companhia Siderurgica de Ubu – CSU, pilotada pela Vale, em Anchieta, não foi viabilizada, apesar dos esforços do governo Hartung na época. A siderúrgica captaria água do Rio Beneventes e a situação seria ainda mais dramática.
O que o novo governo Hartung já percebeu é que o povo hoje vai para as ruas por qualquer insatisfação coletiva. Como vem sendo constatado em Vila Velha, onde crianças têm sido atropeladas e mortas na Rodovia do Sol – que apesar de ser administrada pela concessionária Rodosol – falta sinalização, iluminação e segurança suficientes para os pedestres. O ônus político dessa precariedade vai para a conta do governo.
As autoridades já perceberam, andar de Transcol está se tornando um risco. Em cinco dias três ônibus foram parados, abordados por bandidos atirando contra outros supostos bandidos. De quebra atingindo outras pessoas. Essa é uma tendência assustadora, que coloca cara a cara bandidos e pessoas de bem, separadas centímetros de distância do bico de revólveres e de pistolas.
Nova cara e poder do povo
A comunicação de hoje é muito mais rápida do que a de quatro anos atrás. As pessoas dispõem de muitas alternativas; uma pequena frase e o apertar de uma única tecla, um recado com qualquer conteúdo pode chegar a dezenas e centenas de pessoas. Pode ser uma mensagem evangélica, de autoajuda, e até conteúdo criminoso.
As pessoas estão mais informadas e menos tolerantes. Quando não vão protestar nas as ruas, guardam dentro de si as insatisfações e no momento do voto trocam aquele governante com o qual não estão satisfeitos por outro.
O ex-prefeito Sérgio Vidigal (PDT) perdeu a eleição para Audifax há dois anos porque não atendeu às expectativas da população. Vidigal andava nas ruas; o povo o abraçava, beijava, cumprimentava, sorria e o respeitava, mas nas urnas, sem estardalhaço mostrou a sua insatisfação.
O ex-governador Renato Casagrande (PSB) ficou quatro anos no poder e foi trocado por Paulo Hartung. Se o grau de satisfação para com ele fosse maior, certamente teria sido reeleito. Foi um governador popular e de fácil acesso, mas o seu governo não agradou o suficiente.
No plano nacional, a guerra suja para garantir a reeleição de Dilma Roussef (PT). Golpes baixos, nunca vistos no país e a um alto custo para a população. É uma daquelas vitórias que não se comemora.
São exemplos de que parece que o governante está bem e não está; que as pesquisas mostram um bom percentual, mas que não o suficiente para garantir uma nova vitória.
O povo quer respostas rápidas; quer obras; quer bons serviços públicos; quer se sentir seguro de fato. O povo não quer saber se o país, estado ou município está em crise, se falta dinheiro, isso não é problema dele. O povo não pediu a ninguém para se candidatar; quem se candidatou foi por conta própria. O povo não tem a obrigação de ser complacente, tem é o direito de cobrar e, se for o caso, trocar o seu governante.
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