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Nunca houve um movimento que paralisasse 100% da Polícia Militar

Pompeu se filiou recentemente ao PDT e disse que poderá disputar a eleição de 2018. Foto: Bruno Lyra

Bruno Lyra

Um ano após o movimento da Polícia Militar que gerou caos na segurança do ES, o secretário de Estado de Direitos Humanos, Júlio Pompeu, fala sobre as consequências da crise e as ações do governo durante e após o aquartelamento. O secretário participou das negociações com os familiares e entidades que representam os PM´s durante a crise. Afirma que o movimento teve motivação política, defendeu a punição aos líderes e admitiu que os policiais capixabas estão ressentidos, além de comentar a liderança da Serra nos índices de violência no ES. 

Em fevereiro faz um ano paralisação da Polícia Militar. O que motivou aquele movimento?

Política. Havia um movimento político nacional, que foi revelado durante a crise. Paralisaria cinco polícias militares no Carnaval de 2017 (Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Pará e Rio de Janeiro). O que aconteceu aqui foi que houve uma antecipação.

Pode explicar?

Havia uma disputa interna entre associações de PM’s: Cabos e Soldados, Subtenentes, Sargentos, Oficiais e do outro lado a Agem, Associação Geral dos Militares, para ver quem assumiria o protagonismo com o Estado das reivindicações das pautas policiais. A Agem tentou assumir o protagonismo fechando o 6º Batalhão, na Serra. Com isso esperava-se que o Governo fosse chamá-los para a mesa. Mas a primeira reunião foi para dizer que ‘o caminho não é por aí, o que vocês estão fazendo está errado’. Resolveram então dobrar a aposta; só que duvido que tivessem naquele momento a dimensão de onde a situação iria chegar.

E por que chegou naquela situação?

 Honra é um baita valor para um militar. ‘Se eu saio daqui e vou para a rua estou abandonando os meus colegas, que estão cometendo um crime militar’. Por outro lado, deixar de ir à rua e cumprir o seu dever é também uma desonra. É desonra versus desonra. Eles ficaram em um dilema moral, paralisados.

E anistiar lideranças identificadas. O senhor é favorável?

Eu sou contra, já manifestei várias vezes e não mudei de ideia porque esse não foi o primeiro movimento desse tipo no país, foi só o maior. Nunca houve um movimento que paralisasse 100% da Polícia Militar.

O trabalho da PM está normalizado? Há insatisfações entre os militares, associações falam sobre o elevado índice de homicídios, depressão…

A produtividade das polícias voltou ao patamar que era antes da crise. Os policiais estão nas ruas, mas tem ressentimento que é em parte choque de geração. Nas gerações mais antigas se você dizia ‘vai lá’ eles diziam ‘sim, senhor’. As gerações mais novas se falar ‘vai lá’ eles perguntam ‘por que?’. É uma dificuldade para manter uma disciplina militar; esse ressentimento existe.

O Governo poderia ter evitado a crise, ter cedido um pouco, faltou sensibilidade?

Não, tem um diálogo com essas associações, como com outras tantas categorias quando a pauta era aumento; o momento era de uma baita crise. Um monte de estado começou a quebrar e não pagar salário. Quando o movimento chega à mesa havia duas pautas: anistia, que o Governo do Estado não pode conceder, a competência é federal. E a outra: Lei de Responsabilidade Fiscal, Estado em nível de alerta.

A Serra há quase 30 anos lidera as estatísticas de homicídio e alguns outros crimes. O que explica isso?

Primeiro que tem uma extensão territorial grande, as áreas urbanas têm grandes intervalos entre uma região e outra, acaba ganhando vida própria. E você não tem na Serra, aliás, não tem no ES, mas lá isso é particularmente explosivo, o domínio de atividade criminosa na mão de um grande grupo. Cada bairro, cada microrregião tem um grupinho que controla o crime e é altamente beligerante com o outro grupo por disputa territorial e na mão da juventude.

Como reduzir os índices?

Trabalhar com os jovens de um jeito diferente. Foi aí que entrou a ocupação social. Reduzir a evasão escolar, aumentar o retorno à escola; a gente tem uma massa de 16 mil jovens como massa recrutável para o crime. Isso pega oito municípios; Serra é o que tem o maior número de bairros nessa condição. Tem que desenvolver habilidade socioemocional nesses jovens, dar pra eles geração de emprego e renda. Então entra casado curso profissionalizante, sistema S e Sebrae. Pra quem não quer correr atrás de emprego, vamos empreender, esse país tem mais gente trabalhando por conta própria do que por carteira assinada, casado com microcrédito do Bandes e agora do Banestes, para dar uma chance para o cara dar três passos para se desenvolver.

A Serra conta apenas com uma delegacia 24h. É suficiente?

Acho que o modelo de delegacias é ruim porque transformou as delegacias em cartório. A gente está investindo em um sistema da delegacia on line, que é um banco de dados que permite às polícias atuarem com menor necessidade de empatar gente com trabalho burocrático.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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