Bruno Lyra
A Serra perdeu no último sábado (07) um dos seus ícones culturais: o pintor Walter de Assis. Nascido em 18 de novembro de 1931 na localidade de Putiri, que fica entre Serra Sede e Nova Almeida, o artista ficou famoso por pintar quadros retratando a paisagem da Serra antiga e também de outros lugares do Espírito Santo, como São Mateus, Vitória e Cariacica.
Segundo a filha, Norma Mayoli, Assis – como era mais conhecido – morreu no hospital da Associação dos Funcionários Públicos do ES em decorrência de complicações respiratórias após ter pneumonia. E foi sepultado neste domingo (07) no cemitério de Maruípe em Vitória.
O pintor estava morando na casa da família em Goiabeiras, em Vitória, e nos últimos anos enfrentava dificuldades de saúde em consequência de sucessivos acidentes vasculares cerebrais, o que limitou seus movimentos.
“Mesmo assim papai continuava pintando, embora suas mãos já não tivessem a firmeza de antes. Ele começou a pintar na adolescência, foi desenhista no jornal A Gazeta, trabalhou no Diário Oficial e na Secretaria de Educação do Estado, onde se aposentou. Na virada da década de 1970 para 1980 fundou o Jornal da Serra, publicação que durou mais ou menos dois anos”, detalha Norma.
A filha do pintor diz ainda que mesmo com as limitações físicas Assis fazia questão de ser levado para o sítio onde nasceu em Putiri, uma de suas paixões.
Descendente de escravos
Descendente de escravos, Assis teve também como inspiração em muitas de suas obras a Insurreição de São José do Queimado, a maior revolta negra contra a escravidão ocorrida na região Sudeste do Brasil, cujo palco foi a extinta vila da Serra que dá nome ao episódio e que ficava às margens do então navegável rio Santa Maria da Vitória. A Insurreição ocorreu em 19 de março de 1849.
Atualmente, quadros do pintor estão expostos na prefeitura da Serra, Câmara de Vereadores,
Assembleia Legislativa e até no Palácio do Planalto em Brasília. Há também um painel na Serra – sede, ao lado da Praça do Encontro. E uma sala no museu histórico da Serra dedicada às obras do artista.
Assis chegou a pintar um afresco no teto da Igreja Nossa Senhora da Conceição, monumento histórico da Serra – sede. Mas, de súbito, um padre novato mandou apagar a obra. A amigos, o pintor dizia ser esse episódio uma de suas maiores decepções.
“Assis era uma pessoa muito espirituosa, divertida. Foi muito ativo na cultura da cidade, dava aulas de pintura no antigo Centro Cultural da Serra Sede, numa época em que o violonista Maurício de Oliveira era o professor de música do espaço”, conta a presidente do Conselho de Cultura da Serra, a cineasta Suzy Nunes.
Amiga pessoal de Assis, Suzy retratou o artista no documentário “Reminiscências da Serra”, lançado entre 2010 e 2011, e que conta histórias antigas do município a partir de personagens icônicos da cidade. O pintor também era membro da Academia de Letras e Artes da Serra.
Em abril de 2015, Walter Assis concedeu entrevista ao Tempo Novo. Confira no link https://www.portaltemponovo.com.br/a-serra-precisa-de-um-teatro-e-espaco-para-exposicao-de-artes/