Por Bruno Lyra
Morador e empresário da Serra, o administrador João Falqueto assumiu a presidência da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps) no início de 2015, entidade que tem 773 empresas afiliadas no ES, sendo 42 delas no município. Nesta entrevista Falqueto traça um panorama do setor e aponta potenciais e desafios no município e no ES.
O que faz a Acaps?
O papel principal é defender o setor. Muitas vezes são criadas políticas públicas e leis que vêm da cabeça de pessoas que não conhecem o setor. Por isso temos de ter conversas com o legislativo e executivo para que as leis possam ser aplicadas. O mandato à frente da Acaps é de dois anos, assumi a entidade há três meses. Mas minha história na Associação começou há 16 anos, 14 como vice-presidente e dois como diretor.
Os capixabas se queixam do fechamento dos supermercados aos domingos. Há chance das lojas voltarem a abrir?
Hoje a abertura aos domingos é permitida a empresas familiares. O sindicato dos trabalhadores não permite que os funcionários trabalhem aos domingos. As médias e grandes lojas não conseguem atender esses requisitos. Mas o momento econômico não nos permite brigar pela abertura aos domingos, pois estamos sendo forçados a reduzir o consumo de energia e de água. De qualquer maneira vai haver nova rodada de negociação em outubro.
Quantos supermercados há na Serra? Quantos empregos geram e qual a estimativa de movimentação financeira?
No estado nós temos 1.245 estabelecimentos do gênero alimentício, 773 filiadas à Acaps. E na Serra temos 97, com 42 filiadas. Na Serra estamos gerando cerca de 8 mil empregos diretos e o faturamento anual gira em torno de R$ 800 milhões por ano. Em todo o estado fica por volta de 6,3 bilhões. A Serra tem uma boa quantidade de lojas considerando o tamanho da população, mas há um excesso de supermercados na região de Laranjeiras.
Como está a experiência dos supermercados online? Há risco de afetar as lojas físicas?
Em nível de estado é um negóocio que está engatinhando ainda. Há dificuldades logísticas na entrega. Mas é um campo que vai evoluir, talvez demore uns 4, 5 anos para tomar uma proporção.
Como os supermercados menores fazem para encarar as concorrências dos hipermercados e atacarejos?
Com o associativismo, e a Serra é o berço. Aqui fica a sede da Central de Compras, Rede Show, Multimax e Nossa Rede também. No estado ainda tem outras como a Rede Terra, Rede Norte. Esse modelo barateia a compra, armazenamento e a publicidade. Para o pequeno existem muitas possibilidades. Hoje no Brasil tem uma expectativa de crescimento de 7,4% para o comércio varejista de até quatro caixas.
Nos últimos anos redes de grande porte vieram para Serra…
Vieram de olho no crescimento da Serra. Embora o Perim esteja tentando vir para Barcelona e o Carone para Jardim Limoeiro, para 2016 não temos expectativas de novas lojas, pois o mercado está em estagnação para os grandes.
Como a Acaps coordena a parte sanitária e a qualidade dos serviços oferecidos por seus associados ao consumidor?
Nós temos uma reunião mensal e uma também semanal quando falamos de tudo que interfere no setor. Também nos reunimos com as prefeituras. Não podemos errar, pois o cliente vai observar e mudar de loja. Por outro lado, supermercadistas menores têm medo de expandir seus negócios, pois atender exigências legais é muito caro.
Na Serra como está o ambiente de incentivo e de legislação municipal para o empreendedor da cidade?
Tenho certeza que a Serra poderia ter mais lojas hoje se não fosse essa morosidade na liberação de documentos. O poder público tem divisões que não contribuem para o negócio andar rápido. Hoje uma liberação não sai em menos de um ano e meio. Carone e Perim já pediram liberação há quase dois anos e até agora não conseguiram.
Como a Acaps avalia esses primeiros meses do governo Hartung?
Ontem (terça, 24) tivemos uma reunião com o governador. Ele nos tranquilizou afirmando que as finanças do estado estão equilibradas. Saí da reunião animado. Mas Hartung alertou que até o fim do ano ele não tem como fazer investimentos sem ser do Governo federal.
E o cenário político e econômico nacional?
Muito preocupados, mas confiantes. Temos de pensar o cenário nacional e agir no cenário local. Estado e prefeitura estão com dificuldade nas receitas, mas temos procurado manter esse diálogo.
Qual impacto da alta do dólar no setor?
Boa parte dos nossos produtos – carne, arroz, milho, indústria química – estão atrelados ao valor do dólar. Estamos na colheita do arroz e da soja e mesmo assim o preço não cai. Impacta também no bacalhau, no azeite, fortemente no trigo. O que nos preocupa mais é a mercearia e a cesta básica da loja.
Ano que vem é provável que tenhamos uma disputa ferrenha entre Audifax e Vidigal pela prefeitura da Serra. Como a Acaps vê isso?
A Acaps acompanha e é favorável ao debate. Ela vai ouvir e vai estar aberta para o debate com os candidatos, mas se resume a isso. O que a gente precisa é de uma reforma política. Não aguentamos mais eleição de dois em dois anos.
Recentemente moradores de Nova Almeida fizeram uma petição online pedindo a instalação de mais um supermercado no bairro. Como o senhor vê isso?
É interessante, um fato diferente. Mas médias e grandes empresas dificilmente irão. Os números da região não permitem. No entanto Nova Almeida deve receber pequenas empresas em alguns anos.
Quais são as dicas da Acaps para o consumidor comprar bem e com segurança?
Olhar os aspectos da loja, de limpeza de loja, estrutura. Se quiser conhecer a retaguarda do negócio, é só pedir ao gerente. Se ele não abrir, desconfie. Quanto aos preços, não existe muita diferença no estado. Se um produto subiu, olhe com carinho uma marca similar.