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O dever de casa da Serra no meio ambiente

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Amanhã (05) é Dia Internacional do Meio Ambiente. E mais do que celebrar, a Serra tem um imenso dever de casa.  Primeiro por ser a mais industrializada e populosa cidade capixaba, que teve crescimento vertiginoso nos últimos 51 anos, saltando de 17 mil moradores (Censo, IBGE) para 527 mil (Estimativa, IBGE) hoje. Isso trouxe prosperidade mas também problemas ambientais crônicos. Muitos deles podem ser solucionados ou pelo menos amenizados.

E o poder público local tem papel fundamental nisso, embora prescinda também do Estado, da União e da participação da sociedade civil, incluindo o setor produtivo. É lógico que a conjuntura internacional também conta muito. A cidade não é uma ilha isolada do resto do mundo.

Corrego Irema em Portal de Jacaraípe após atravessar Feu Rosa, que mesmo com Estação de Tratamento de Esgoto, não consegue evitar poluição das águas. Foto: Arquivo TN/Bruno Lyra

A poluição de córregos, rios, lagoas e praias por esgoto doméstico e industrial é severa e não dá sinais de recuo. Há uma esperança –  pelo menos para o esgoto doméstico – de que a Parceria Público Privada (PPP) Cesan/Ambiental Serra possa melhorar esse cenário. Já são seis anos de PPP e os mananciais seguem sujos. Ainda faltam 24 anos de concessão e é preciso haver resultado na recuperação dos mananciais. Quanto ao esgoto industrial as indústrias são as responsáveis. Cabe aos órgãos ambientais fiscalizar e exigir melhoria.

Na Serra tem 7 reservas ambientais. Uma estadual, a APA Praia Mole. Cinco municipais, as APA’s Jacuném, Vilante, Manguezal Sul, Mestre Álvaro e o Parque Natural Municipal de Bicanga. Há ainda uma reserva federal marinha, a APA Costa das Algas que pega da boca do rio Reis Magos até Capuba. Todas demandam aprimoramento da gestão.

Mais fiscalização, mais ações de recuperação ambiental. As Apas Jacuném e Manguezal Sul até tem centro de visitantes, mas estão fechados ao público. E não é por conta da pandemia. É preciso dar estrutura para turismo em todas, seja ele contemplativo, educacional, científico, de aventura.

O caso mais gritante é o do Mestre Álvaro. Muito procurada, a APA não tem estrutura nem controle de visitação. A sede da APA foi construída distante do morro, no Horto, ficando sem função prática de apoio e fiscalização. A atual gestão municipal prometeu construir um centro de apoio no próprio Mestre Álvaro e sinalizar trilhas. Se fizer será um avanço.

Obra do Contorno do Mestre Álvaro está gerando grande impacto ambiental na região. Foto: Bruno Lyra – 01/03/2021

Vale lembrar que o Mestre Álvaro está sendo profundamente impactado pela obra do Contorno (BR 101), imprescindível para a fluidez do tráfego na cidade, mas que proporcionalmente não está compensando o estrago à fauna e flora da mais famosa montanha do litoral do ES.  A nova rodovia precisa, no mínimo, ter os túneis para evitar atropelamentos de animais silvestres.

Alagados e turfas

Merece muita atenção os alagados do Mestre Álvaro. Eles estão sendo impactados por essa obra. E por aterros dos polos industriais TIMS, Piracema, Jacuhy e expansão urbana entre Laranjeiras Velha e Carapina. Ali há o solo de turfa, suscetível a incêndios em épocas de seca extrema, cuja fumaça tóxica dura semanas e afeta a saúde respiratória da população. É preciso gestão dos alagados considerando todas as variáveis ambientais, incluindo as periódicas enchentes.

Bombeiros em ação durante combate do incêndio nas turfas em setembro de 2015. Foto: Arquivo TN/Bruno Lyra

E falando em saúde respiratória, essa já é afetada por outras fontes de poluição urbanas. Mas que tem na Grande Vitória um imenso agravante: o pó preto da Vale e da ArcelorMittal Tubarão. A solução desse mal depende da força da sociedade local (e das lideranças políticas) em cobrar soluções efetivas das gigantes multinacionais endinheiradas. Desde a década de 1960, quando a Vale decidiu colocar o complexo siderúrgico em Tubarão e depois seguir expandindo, sempre com aval dos governos que ignoraram os alertas da ciência sobre a questão dos ventos, o interesse nas mineradoras – ter maior faturamento com o menor gasto possível – tem preponderado.

Áreas verdes e arborização urbana    

Desmatamento e avanço indevido sobre área verde de Laranjeiras, às margens do Tobogã. Foto: Arquivo TN/Bruno Lyra/ 19-12-2014

Diferente das suas co-irmãs Vitória, Vila Velha e Cariacica, a Serra cresceu com bairros mais afastados entre si e com remanescentes de Mata Atlântica, alagados, nascentes e lagoas. Patrimônio cada vez mais ameaçado pela pressão imobiliária. Essas áreas seguem alvo de invasores e muito deles não são pobres necessitados. Mas espertalhões que ganham grana com grilagem. É preciso endurecer a fiscalização e apoiar iniciativas da sociedade civil que visam proteger esses fragmentos.

Quase não há plantas na Av. Central de Laranjeiras, a mais movimentada da Serra. Foto: Arquivo TN/Edson Reis

Se de um lado há fragmentos de mata entre os bairros, por outro, no interior deles, sobra concreto e asfalto. Veja o exemplo da Av. Central de Laranjeiras, principal polo comercial da cidade: praticamente não há plantas. Isso se repete na maioria dos bairros. Urge um plano municipal de arborização, que saiba escolher espécies adequadas e tenha política de manutenção das mesmas.

Parques urbanos

A Serra tem dois. O Parque da Cidade e o Horto, atualmente denominado Jardim Botânico. Ambos são preciosos e foram melhorados com muitos plantios fruto do bom trabalho desenvolvidos por gestores desses espaços. Que sejam bem cuidados e sirvam de modelo para implantação de mais parques em outros pontos do município.

Lixo e outros resíduos sólidos

Coleta seletiva do lixo é algo praticamente simbólico na Serra. A cidade precisa ter isso em massa, apostar numa economia de reciclagem e geração de renda. Hoje o lixo é coletado misturado para ser aterrado na Marca Ambiental em Cariacica, na zona de influência do rio Santa Maria.

Ponto viciado de lixo, entulho e outros resíduos em frente ao campo de Feu Rosa. Foto: Bruno Lyra 15 – 01 – 20

E tem o problema do entulho, resto de poda, móveis e eletrodomésticos velhos jogados nos pontos viciados, os chamados lixões. São centenas deles, a maioria nas áreas verdes. A cidade tem poucos pontos de coleta desses materiais, como o de Barcelona, precisa disseminá-los e investir mais na educação dos moradores. Aumentar a fiscalização e punir efetivamente os sujões.

A cidade também precisa ter atenção com o aterro industrial existente em Putiri, na zona rural, a cerca de 4,8 km da capação de água no rio Reis Magos. O aterro passou recentemente por expansão e recebe rejeitos tóxicos de indústrias siderúrgicas, químicas e extração de petróleo.

Há ainda um aterro de resíduos da indústria de rochas ornamentais –  dentre eles a lama abrasiva – aos pés da APA do Mestre Álvaro entre Pitanga e Barro Branco. A Serra é o principal polo beneficiador de rochas do ES, estado que por sua vez é o maior produtor do país.

Água de abastecimento

A Serra bebe água dos rio Santa Maria e Reis Magos, que vêm de municípios pequenos do interior. Rios sujos de esgoto, agrotóxico e barro. A Serra pode – e deve – ser mais efetiva na co-gestão das duas bacias com os demais município e também o estado, para reverter a degradação desses rios. A Serra é bem mais rica que Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Santa Teresa e Fundão, de onde vêm essas águas. E tem empresas bilionárias como Vale e Arcelor que precisam investir nisto, inclusive também já deveriam estar usando esgoto doméstico tratado (água de reúso) em suas plantas para aliviar a pressão sobre os rios.

Em janeiro de 2020 houve descarga química em afluente do rio Santa Maria, que abastece a Serra, na sede do município de Santa Maria de Jetibá. Foto: Divulgação/Edson Peixoto

Outra frente que demanda atenção é a qualidade da água tratada. Tem sido recorrentes os problemas de deficiência no tratamento da Cesan – como o excesso de sal e cloro no líquido – e o município é responsável pela fiscalização. Precisa aprimorar essa fiscalização e cobrar da Cesan melhorias, pois é uma questão de saúde.

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