Desde a semana passada, o meio político da Serra está em intensa agitação. Sinais evidentes sugeriam que o prefeito Sergio Vidigal poderia não ser efetivamente candidato à reeleição. A resposta definitiva veio entre esta quarta-feira (13), quinta-feira (14) e sexta-feira (15), quando o próprio Vidigal percorreu entre seus principais aliados e confirmou a informação. Em termos de imprensa, a confirmação foi dada pessoalmente ao Jornal Tempo Novo na noite de quinta-feira.
Até então, diversas sinais apontavam que o ceticismo prevalecia entre os principais players desse jogo: governador Renato Casagrande (PSB), os deputados Vandinho Leite (PSDB), Alexandre Xambinho (Podemos) e Pablo Muribeca (Republicanos), além do ex-prefeito Audifax Barcelos (PP), o presidente da Câmara, Saulinho da Academia (PDT), o secretário de Estado Bruno Lamas (PSB), e lideranças do PL e PT, entre outros.
A perspectiva geral, incluindo desse próprio colunista, era de que se tratava de um blefe para embolar o tabuleiro eleitoral. Uma manobra até comum, que serve para esticar ao máximo a decisão do ocupante do cargo em disputa, para que ele fique mais confortável no exercício da função até o afunilamento do calendário eleitoral. Expediente utilizado, por exemplo, pelo próprio governador Renato Casagrande em 2022, que deixou para os últimos momentos a confirmação de que ele seria efetivamente candidato à reeleição, ainda que isso fosse tratado como certeza pelo meio político.
Esse ceticismo generalizado tinha como base a razão. Pois, na ótica da racionalidade, não fazia sentido o prefeito mais longevo da história da Serra, no exercício funcional do cargo, relativamente bem avaliado e podendo contar com o apoio de um governador e uma gama de lideranças, declinar de um projeto de reeleição.
Porém, o equívoco não estava no mérito das variáveis, mas sim no modelo de análise. Vidigal não tomou uma decisão baseada em critérios racionais; ao contrário, foi guiado por critérios fundamentalmente emocionais e por motivações pessoais externas ao universo político. O erro foi não percebê-lo fora da bolha política, em vez de investigar o ser humano por trás da função de prefeito que ele ocupa.
Esse ser humano, ao que tudo indica, está em processo de introspecção, que envolve a autoanálise e reflexão sobre seus próprios pensamentos, sentimentos, motivações e ações. Vidigal embarcou em uma jornada de autoconhecimento e compreensão de si mesmo. E poucos, muito poucos, tinham consciência da real dimensão desse processo no qual ele estava imerso.
Como ele ainda não se pronunciou publicamente, o que está previsto para acontecer neste sábado (16) às 9h no Cerimonial Porto Belo, só é possível, jornalisticamente falando, tratar até certo ponto. A partir daí, entra-se na esfera das questões familiares, sobre as quais, sem o consentimento dos envolvidos, esta coluna não se sente à vontade para discutir. Porém, superficialmente, menciona-se uma condição de saúde que foi fundamental na decisão tomada.
Essa condição, no ano passado, abalou a família e fez com que Vidigal reavaliasse suas escolhas e prioridades. Além disso, uma forte pressão de uma corrente familiar contribuiu para que ele intensificasse a ideia de não concorrer à reeleição. Por trás do Vidigal prefeito, sujeito a todo tipo de elogio, reconhecimento, crítica, cobrança e escrutínio de uma população volátil, havia um marido, pai e avô que passou a considerar o peso de outros aspectos na balança de sua experiência humana neste mundo.
A decisão de encerrar seu ciclo à frente da Prefeitura da Serra parece ser uma das encruzilhadas mais difíceis pela qual Vidigal tenha passado. O ser humano que esteve frente a frente com este colunista na noite de quarta-feira (13) era alguém que se recordava do passado com saudosismo e tentava equilibrar seus desafios familiares com o afeto e o senso de responsabilidade junto à cidade que governou por quatro mandatos. Tratava-se de um ser humano com emoções intensas de um autêntico ‘Dilema de Sofia’.
Vidigal optou pela família, pela esposa, filhos e netos. Decisão digna de um grande homem que, após 35 anos, desde quando foi eleito vereador da Serra, cumpriu com sua missão na carreira e na vida pública, com todas as suas controvérsias, polêmicas e complexidades, típicas dos grandes seres humanos que escreveram seus nomes na história do local a que estão vinculados. Vidigal tem no seu sangue o espírito público.
Seu trisavô, Manoel Soares Leite Vidigal, foi vereador da cidade de Nova Almeida e organizou a recepção ao imperador Dom Pedro II em 1860. Seu bisavô, Benigno Soares Leite Vidigal, foi líder de Nova Almeida, reconheceu a legitimidade de Afonso Cláudio como primeiro governante do Espírito Santo após a Proclamação da República e exerceu o cargo de deputado estadual com reduto na Serra e na então cidade de Nova Almeida. É essa ancestralidade que corre nas veias do médico que se tornou, de longe, o prefeito mais popular da história da Serra desde a instituição da Lei das Prefeituras no início do século XX.
Neste sábado, o ‘Getúlio Vargas da Serra’ — com todas as suas controvérsias, polêmicas e complexidades — deve anunciar que sua missão à frente da Serra chegará ao fim em 31 de dezembro de 2024 (ainda que ele tenha até agosto para mudar de ideia), um acontecimento que vai significar mais um capítulo da literatura política da Serra. Antes disso, ele deverá fazer uma última jogada como prefeito: tentar criar uma linha de sucessão pedetista. Tarefa difícil, mas longe de ser impossível.
Toda pessoa pública está sujeita a julgamento. Nem sempre, durante o curso desse processo, é totalmente compreendida a herança deixada por aquele ser humano. Um exemplo mais icônico é que, após vencer a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill perdeu as eleições gerais do Reino Unido em 1945. O que pode ou não ser o caso de Vidigal, o tempo dirá. Mas, entre as heranças deixadas pelo pedetista, foi ele quem iniciou o processo que ressignificou o que é ser serrano, um processo continuado pelo seu primeiro sucessor, Audifax Barcelos. Há 30 anos, dizer que se morava na Serra era motivo de vergonha. Hoje, ser serrano é um orgulho. Ressignificar um povo é o legado deixado por aquele grupo que assumiu uma prefeitura falida em 1997.
Daqui em diante, deve haver uma reconfiguração do tabuleiro eleitoral. Novas estratégias serão adicionadas e um novo contexto estabelecido. Sem Vidigal na disputa, muda tudo, ainda que seja cedo fazer uma avaliação mais sofisticada, já que o meio político foi pego de surpresa.
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