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“O ES tem que buscar outros caminhos além das commodities”

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Cícero Moro diz que a Serra é o muinicípio que tem a melhor condição para crescer mais na Grande Vitória. Foto: Bruno Lyra

 

 Aos 38 anos, o empresário Cicero Moro é o presidente eleito da Associação dos Empresários da Serra (Ases), entidade que irá assumir no dia 21 de novembro para o próximo biênio. Diretor da Motociclo, empresa sediada na cidade com atuação internacional no ramo de peças de moto, Cícero diz que polo de inovação e Contorno do Mestre Álvaro devem atrair novos investimentos. Enxerga que a cidade e o ES precisam construir alternativas frente ao declínio do setor minero siderúrgico e que a instalação de novo porto será fundamental para melhoria da logística. Também espera entregar nova sede física da Ases e defende renovação política no executivo e legislativo municipais.  

Como e quando o senhor começou a atuar no ramo empresarial?

Vou comemorar 20 anos de empresa ano que vem. Esta é uma empresa familiar, quem começou foi meu pai, Idalberto Moro, em 1980, em Vitória. Na década de 2000 mudou para a Serra, mas hoje essa empresa não é só nossa, temos sócios. A Ciclomoto atua                                          no comércio, importação e logística de distribuição de peças de moto, inclusive com marcas próprias. Temos hoje cerca de 600 funcionários. Comecei no chão de fábrica, contando parafuso. Nas férias de janeiro enquanto meus amigos iam para a praia, eu vinha para a empresa contar parafuso, pegava caixas de 100 mil parafusos e fazia saquinhos de 10. Fiz faculdade de administração com ênfase em comércio exterior. Entrei na parte de importação da empresa, morei fora para aprender o inglês. Hoje 60% do que a Motociclo trabalha é importado e 40% nacional. Todo esse importado sou eu quem participo, desenvolvimento das peças, de fornecedores, feiras.

O que te motivou entrar para o movimento empresarial da cidade?

Em 2005 entrei na CDL Jovem e fiquei por alguns anos. Saí de lá entrei na Ases, onde estou na 3ª diretoria, sendo atual vice-presidente. Quero buscar um mundo melhor para o empresário. É muito difícil hoje para o empreendedor conseguir aberturas ou desenvolver seu negócio. Tenho esse desafio de assumir uma entidade de 42 anos, cujo atual presidente, Djalma Neto, conseguiu criar sinergia entre os poderes públicos e setor produtivo. Pretendo dar continuidade a esse trabalho, a inovação é um dos pilares. Também quero entregar parte da obra Casa do Empresário em Morada de Laranjeiras, perto do Jayme (hospital) e mudar a sede da entidade para lá até o final de 2020. Também vamos usa parte do espaço para parceira com Sebrae e também um banco, de preferência estadual, Banestes ou Siccob, para atuar ali que também está no polo Inova Serra.

Quais são os potenciais e gargalos para o empreendedor na Serra?

A Serra é a maior cidade do ES e consegue crescer muito ainda. Diferente das outras cidades da Grande Vitória, que estão batendo no seu topo. A Serra tem um viés logístico, tem as empresas industriais, temos grandes hospitais. Se antes as pessoas já trabalhavam na Serra, hoje elas estão vindo morar aqui.

Há obras de logística expressivas no sul da Grande Vitória: duplicação da BR 101, rodovia Leste Oeste, viadutos no eixo 101 BR 262. Isso não pode reorientar os investimentos na região metropolitana?

Existe o projeto do Contorno do Mestre Álvaro, que é muito importante para a Serra, que sofre hoje gargalo grande por conta das carretas que transitam dentro da cidade. Isso vai dar agilidade para o setor de transporte, que hoje cobra mais caro por conta do custo desse gargalo. Aquela região da Serra ainda não é habitada, então a prefeitura tem o interesse de criar também zona de expansão urbana para que novos empreendimentos surjam na região, movimentando a economia.

Obras na extremidade norte do futuro Contorno do Mestre Álvaro, na região de Chapada Grande. Foto: Arquivo TN/Bruno Lyra

E os impactos negativos do Contorno do Mestre? Há setores como autopeças, serviços automotivos, postos de combustível e até atacarejo que podem perder vendas com a redução do tráfego entre Carapina e Serra Sede…  

Negativos, claro, vão existir. Tanto para alguns negócios que se beneficiam desse fluxo maior de veículos, quanto pelo risco do crescimento desordenado, com grileiros, invasões. Para isso o município precisa desenvolver planejamento, senão terá mais custos e menos arrecadação. Porém vejo impactos mais positivos, como a expansão da cidade, atração de novos empreendimentos e melhoria na logística. Por exemplo, posso falar da nossa empresa, hoje nossa mercadoria entra pelo porto de Vila Velha. Aqui na Serra temos muitos importadores e distribuidores que sofrem bastante pelo fato da cidade não ter um porto. Existe uma previsão de, em quatro anos, a Imetame lançar o porto dela em Aracruz, perto do Portocel. A Imetame vai usar 30% da capacidade para operações próprias, o restante será para terceirizados. Será muito melhor que usar Vila Velha, que tem horário para entrar, Vitória tem horário para entrar.

Os portos do complexo de Tubarão não servem às empresas de logística da cidade?

O porto de Tubarão é 100% voltado para commodities: pó de minério e operação pequena de soja. Não é um porto para receber contêineres, assim como o Porto de Praia Mole. Para o município de Serra o porto Imetame será fantástico. A Serra é muito desenvolvida para o lado de Vitória, como o porto Imetame e o Contorno do Mestre Álvaro ela pode crescer para o norte.

A Ases e o Ifes são parceiros da prefeitura no recém criado polo de tecnologia. Uma das características do setor é a desterritorialização e a Serra já tem mais de 400 empresas de tecnologia espalhadas por diversas regiões. Foi acertado delimitar área para conceder benefícios fiscais?  

As empresas de tecnologia já instaladas na Serra terão a vez delas, elas tem soluções muito interessante, mas nós precisamos organizar. Vamos abrir o polo, fomentar start-ups embrionárias e atrair novas empresas. No polo Inova Serra, temos a Prefeitura que tem interesse em desenvolver a área, a academia que são as escolas que vão trazer esses alunos e pegar a demanda das grandes empresas que estão hoje associadas a Ases. Já temos os players na mesa e agora é organizar as demandas. E isso depende da Ases, Ifes e Prefeitura. Vamos criar um comitê e tudo vai ser deliberado neste conselho. O que a gente não quer é que as empresas venham prestar serviço na Serra e depois voltem para seus municípios de origem. Para isto vai haver rodada de negócios, vamos chamá-las para conversar, mostrar qual é nossa demanda. Não vamos abrir e jogar todo mundo de vez lá para virar uma guerra comercial ou deixar empreendedor sem negócio por ter sido mal assessorado.  Não é tão simples como a gente acha. Hoje temos dois ‘cases’ de sucesso no país, um polo em Santa Catarina e em Recife

O arranjo mínero siderúrgico liderado pela Vale, vem enfrentando turbulências. Há mudanças estruturais em curso que apontam para o declínio do setor, pelo menos na região?    

Essas empresas (Vale, Arcelor, Samarco) são muito robustas, de faturamento muito alto. Elas sabem e a gente também que o minério vai acabar futuramente.  E até pela poluição, o mundo vai ter que tomar outro caminho e essas empresas estão se reinventando. Por exemplo, a Arcelor apresentou recentemente um projeto de dessalinização da água do mar.  A Vale, fora a mineração, tem se especializado em transportes. Ele hoje tem o setor ferroviário, tem porto que ela abrir futuramente para outros modais, contêineres. E ela também está se especializando em inovação, eles possuem um laboratório interno para isso. Já prevendo que, daqui a alguns anos, diminuírem o minério e irem para outras áreas.

Planta da ArcelorMittal no Complexo de Tubarão, entre Serra e Vitória: logística deve ser uma das saídas para economia do ES diante de eventual recuo do setor mínero siderúrgico, aposta Cícero. Foto: Divulgação/ArcelorMittal Tubarão

Confirmando esse cenário, qual seria a saída para a economia capixaba?

A gente tem que se reinventar, nos preparar para essa realidade. Essa preocupação já existe. Sabemos que o ES é fomentador de negócios em relação a commodities, não só da área do minério, mas pedra e café. O ES tem que buscar outros caminhos além das commodities e está fazendo isso. Tanto que o governo estadual separou um fundo para investir em outras áreas que não dependam só das commodities. Estrategicamente falando, o ES é muito bem localizado. Temos Minas, Brasília, São Paulo, Bahia, Rio, grandes centros ao nosso entorno. A logística do ES ainda vai continuar forte. Precisamos ter mais portos, lançar o Porto Central no extremo sul, lançar um porto em Linhares, o Imetame em Aracruz. Estamos duplicando as rodovias.

Duplicando parte e com atraso da BR 101, pois a 262 travou….

É, mas temos que esperar a economia do Brasil sair desse buraco. As perspectivas são boas, a economia voltando a funcionar, voltam as obras, a classe C e D precisa ter acesso mais fácil ao crédito, pois assim voltam a comprar, como foi há 15 anos. O ES está indo nesse caminho, mas sabemos que para isto existem um tempo.  Diferente de muitos estado, o Espírito Santo está com equilíbrio fiscal e por isso já pode olhar para o futuro.

Foi anunciada a volta da Samarco. Como o senhor vê o rebatimento para economia da Serra?

Total.  A Samarco hoje tem 7% do PIB capixaba. É muita coisa. A empresa emprega muita gente, gera muito imposto para os municípios do sul do ES. O setor produtivo está fazendo de tudo para que ela volte. É bom para tudo mundo, inclusive a rede de fornecedores e prestadores de serviço instalada na Serra e que perdeu negócios com a paralisação da mineradora.

Nos últimos anos se acentuou o problema da falta d’água na Serra. Como setor empresarial vê a situação? E como pode ajudar a reverter ? 

O ser humano não vive sem água. Os rios sofrem com a poluição e secas, evento extremo que tende a ser mais frequente com as mudanças do clima. Temos que proteger as nascentes e margens dos rios, como setor produtivo temos que ajudar projetos nessa direção. Se que aqui na Serra o Prefeito já mapeou essas áreas a fim de conservar. A falta d’água afasta investimentos. Temos o problema do Canal dos Escravos que precisa ser organizado, o prefeito já levou projeto de drenagem ao governador, pois quando chove ali enche empresas e residências. No canal de Jacaraípe já foi feito um belo trabalho de drenagem.

Ano que vem tem eleição municipal. Como o senhor vê a sucessão?

A Ases é uma entidade apartidária, mas nos preocupamos com quem vai suceder a administração atual. Temos compromisso com nossos associados de estar presente, estabelecendo essa comunicação junto ao Estado e Prefeitura

Como a Ases enxerga a polarização política entre Audifax e Vidigal na Serra?

É importante que haja renovação. Hoje temos um congresso com mais da metade dos parlamentares novos. Acho que o prefeito Audifax e o ex-prefeito e atual deputado federal Sérgio Vidigal contribuíram imensamente, organizaram o município, trouxeram investimentos, o município cresceu. Mas vejo que é um momento de renovação. A Serra precisa de gente nova, ideais novos. Eles podem continuar contribuindo em outros cargos, são pessoas experientes. É hora de renovar não só a prefeitura mas também a Câmara de Vereadores. A Ases vai apoiar quem ganhar, independente de partido. Mas é bom que haja renovação.

O senhor não tem vontade de se candidatar a um cargo eletivo?   

Não. Hoje meu tempo é focado para o lado do setor produtivo. Quero participar com movimento empresarial e associativista. Na minha visão, não preciso de um cargo (eletivo) para fazer política.

 

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