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“O futebol capixaba declinou porque dirigentes só pensam no próprio bolso”

O atleta disse que faltam representantes na política que defendam os interesses dos esportes do Espírito Santo. Foto: Clarice Poltronieri

Genilson Brito Rodrigues, o Mão, eleito quatro vezes o melhor goleiro do mundo e tricampeão pela seleção brasileira de futebol de areia (beach soccer) é morador da Praia da Baleia. Pouco antes de seguir com a seleção para o Equador, onde disputa o Sul Americano neste fim de semana, Mão conversou com Tempo Novo. Confira:

Por que o sucesso do futebol de areia no ES?

Atribuo ao trabalho de evolução construído há uns 15 anos pelo Índio, junto à Federação do ES, que revelou grandes jogadores e nos fez tricampeões brasileiros. Bastou ele sair da parte técnica por causa da saúde para o beach soccer declinar. Não tivemos mais técnicos com a mesma qualidade.  Mas temos grandes jogadores e alguns talentos a desenvolver. O ES é o Estado que mais cedeu jogadores à seleção brasileira.

Por que o mesmo não ocorre no futebol de campo?

Falta credibilidade de alguns dirigentes e atuação da Federação. O futebol de campo teve seu tempo áureo. Vi China, Giovani, Morelato, Arildo Peçanha, jogadores referência. Mas surgiram dirigentes que só pensavam em seu próprio bolso e o futebol capixaba declinou. Ainda há possibilidade de crescer, basta ter pessoas de bem para atuar no esporte. Hoje tanto no beach soccer quanto no futebol de campo há pessoas que só atrapalham.

Como está o beach soccer no Estado e na Serra?

Em declínio. O estadual de beach soccer é um dos mais organizados do Brasil por Paulo Sérgio, mas não é ele quem toma conta dos times. Será meu último ano no campeonato estadual, porque não aguento mais ficar à mercê de pessoas que só querem ganhar dinheiro às custas dos atletas. O primeiro campeonato estadual foi em 2000 e a Serra foi campeã. Foi minha estreia como profissional. Por incompetência da Secretaria de Esportes o beach soccer não existe mais.

Como é o mercado de jogadores de beach soccer?

É parecido com o do futebol de campo. Somos respaldados pela CBF. Algumas transferências passam por ela. Até porque a comissão técnica da seleção brasileira tem que acompanhar. A questão de empresário é um pouco mais complicada conseguir, mas o atleta que tem conhecimento ou uma pessoa de sua confiança, acompanhada de um bom advogado, pode gerir sua carreira.

Com o esporte você desenvolve o projeto social na Serra. Como é? 

Há 10 anos tenho o projeto na Praça Encontro das Águas.  Tive uma infância difícil, mas sempre sonhei em ser goleiro e dizia que se um dia eu fosse profissional, teria um projeto social. Tento trazer para esses jovens oportunidades que não tive. Não é fácil. Hoje temos 25 alunos e por aqui já passaram mais de 300. O esporte é uma ferramenta que faz com que a criança veja a escola de forma mais aprazível e é uma grande ferramenta de recuperação.

Como avalia as políticas públicas voltadas para o esporte?

Nunca tive apoio da prefeitura da Serra. Temos apoio apenas de uma marca, a Cobra D´água.  Me entristece ver que a cidade não reconhece os atletas em evidência que são daqui.  Quando você pede apoio, escuta que não tem critério para solicitar isso. Como eu não tenho critério? Eu sou um atleta da seleção brasileira, moro no município e não tenho direito? Não há políticas públicas para o esporte no Estado, nem no município.

A Educação Física escolar ajuda a desenvolver um praticante de esportes?

Em ano de Olimpíadas vem uma onda de tentar descobrir atletas nas escolas. Mas a Educação Física escolar deve ser lúdica, para a criança ter prazer em fazer uma atividade física. O atleta de alto rendimento pratica o esporte porque precisa, o praticante, porque gosta.  Hoje a educação física não estimula os alunos à prática esportiva.

É difícil conseguir patrocinadores esportivos?

Muito. Tenho um patrocinador direto aqui para mim e o projeto, a Cobra D´água, e uma bolsa de estudos (Doctum). Empresas têm interesse em patrocinar, mas não entram porque falta credibilidade no esporte capixaba. Por aqui há situações em que a empresa passa R$ 100, a pessoa recebe e só repassa R$ 20 para o projeto e se chegar a isso. No campeonato estadual de beach soccer é assim. Ele é muito bem organizado, maravilhoso, mas as pessoas que administram os times não têm boa índole, não são do esporte, nunca fizeram nada pelo esporte.

Acha que algum atleta capixaba trará medalhas olímpicas em 2016?

Tem o Esquiva Yamaguchi, mas não sei se ele poderá competir como profissional, porque trocou de categoria. E tem a ginástica. Acredito muito que as meninas da ginástica olímpica podem fazer nosso Estado se elevar ainda mais.

E sobre o beach soccer nas Olimpíadas?

Há uma briga política muito grande, mas já se está conversando, estão começando a se acertar. Não sei se em 2016, mas acredito que na próxima Olimpíada ele já esteja inserido. Não sei se vou competir, mas será um grande prazer assistir ao beach soccer nas olimpíadas.

Como fica praticar esporte no ambiente capixaba com pó preto?

Nosso Estado passou a ser visto de forma muito negativa pela questão do pó preto. Tenho amigos que vêm para cá e perguntam se não vão passar mal respirando esse ar, se poderão dar um mergulho na praia. O Estado poderia evoluir mais, ter mais qualidade de vida, uma infraestrutura melhor.

Se o povo capixaba fosse às ruas e solicitasse de forma democrática o combate ao pó preto, à poluição da praia de Camburi, à violência e pedir a revitalização de Vitória, da Serra, teríamos muito mais efeito.  A seleção brasileira está treinando em Vitória e sempre me perguntam se podem dar um mergulho na praia de água escura, com areia escura.

 

 

 

 

Mari Nascimento

Mari Nascimento é repórter do Tempo Novo há 18 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a de Política.

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