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“O futebol do ES precisa ter um bom projeto para vender bem o produto”

Gabriela nasceu no interior do ES, morou em Vitória e há três anos veio com sua família para o balneário de Manguinhos. Foto: Divulgação

Thiago Albuquerque

 Meia – atacante da seleção brasileira de futebol feminino, a capixaba Gabriela Zanotti veio morar há três anos em Manguinhos. Atualmente ela só vem à cidade durante as férias, pois se transferiu para o futebol chinês. Da cidade de Hohot, na China, Gabi, como é mais conhecida, falou para o Tempo Novo sobre o sonho do ouro olímpico e as dificuldades do futebol feminino no ES e no país. Confira.  

Como você vê a Serra hoje, comparando com o que já viu pelo mundo?

É difícil fazermos comparações com cidades de primeiro mundo, porque por mais que falte algo, o coração fala mais alto. É o país que amo e a cidade onde mora minha família, e pelo pouco tempo que fico aí, vejo que a Serra teve e tem um desenvolvimento muito rápido. Os recursos necessários são poucos, dificultando para os governantes. E quem sofre as consequências disso é o cidadão.

Você imaginava que viraria jogadora profissional de futebol? Como isso aconteceu?

Foi isso que sempre quis e busquei, tanto que desde criança já tive que abrir mão de muitas coisas, inclusive viver longe da minha família. Então o que era apenas um sonho, foi amadurecendo e aos poucos fui construindo minha carreira.

Quais dificuldades mais encontradas pelo futebol feminino no Brasil e no Espírito Santo?

São inúmeras: desde ser visto realmente como uma profissão, passando por encontrar um clube que ofereça uma estrutura adequada, com profissionais qualificados e que ofereça um salário digno para trabalhar. Creio que esse é um problema no Brasil inteiro, mas vejo que no ES a situação é ainda mais critica. Faltam pessoas sérias e que gostam da modalidade para trabalhar no futebol feminino.

O que esperar da Seleção feminina nessas Olimpíadas? Dá para trazer o ouro?

Essa é nossa meta, estamos trabalhando e nos dedicando muito para isso. Vamos em busca do ouro nas Olimpíadas do Rio. Sabemos que a missão será muito difícil, mas não impossível diante do elenco qualificado que temos.

As mudanças na direção da FIFA, e da CBF, sem contar outras federações espalhadas pelo mundo, podem melhorar a gestão do futebol?
Se vai melhorar eu não sei, mas é o que todos esperam. Estamos confiantes e esperando mudanças significativas.

Como é jogar ao lado de uma Estrela como a Marta, eleita cinco vezes a melhor do mundo?

Eu diria que jogar ao lado dela fica tudo mais fácil. Ela simplifica o jogo, tem muito recurso, é uma atleta diferenciada. É sempre uma honra poder compartilhar esses momentos com ela.

O mercado chinês de contratações feminino está seguindo a tendência do masculino, de virar um dos principais centros do mundo?

Sim, essa é a meta da China. Por isso a ideia de trazer atletas e treinadores estrangeiros.

Como é viver na China, um país culturalmente diferente do nosso e politicamente fechado?

É um país com uma cultura completamente diferente da nossa. Se não fosse atleta, acho que nunca teria essa oportunidade um dia. Já que estou aqui, eu quero aprender mais sobre a cultura deles e experimentar de tudo um pouco. Quando não consigo tirar minhas dúvidas com eles, vou pesquisar na internet mesmo. E os chineses ficam felizes quando a gente demonstra interesse em conhecer mais sobre a cultura local. É um país totalmente controlado pelo estado, tanto que muitos sites e redes sociais (Facebook, Google, Youtube, Instagram) são bloqueados, assim o estado consegue controlar e restringir a população de certas informações.

Por que o futebol capixaba (masculino), não consegue decolar? Você acha isso possível isso acontecer algum dia?

Acho que é possível, mas pensando em algo de médio a longo prazo. Aí está o problema, pois todo investidor que coloca dinheiro no esporte quer resultado imediato, aí fica complicado. Precisa criar um projeto, vender bem o produto, conseguir patrocinadores para segurar os melhores jogadores no estado. Talento nós temos, mas a maioria desses atletas acabam saindo muito antes de se tornarem profissionais.

O que você acha do novo Kleber Andrade? É possível melhorar?

Ainda não tive a oportunidade de conhecer, mas tive informações positivas a respeito do estádio, exceto para o estacionamento e para a parte de venda das bebidas e comidas.

Qual conselho você dá para uma menina que está começando a jogar e sonha com sucesso no futebol profissional e, quem sabe, chegar à seleção?
Eu procuro ser sempre realista. As dificuldades serão grandes, as coisas têm melhorado, mas o processo ainda é lento. Tem que ser persistente, dedicada e disciplinada. Só consegue quem tenta e quem se abdica de algumas coisas. Hoje eu tenho convicção que tudo valeu a pena! No mais, sucesso e boa sorte!

Você sente que ainda falta apoio, até por parte de alguns dirigentes, para o futebol feminino no Brasil?
Sem dúvida. Os dirigentes não têm interesse porque o futebol feminino ainda não é lucrativo no Brasil. Mas é só saber fazer que possa se tornar lucrativo, assim como fizeram com o voleibol e o basquete brasileiro. O futebol feminino é atrativo, já podemos comprovar isso diversas vezes. O fato mais recente ocorreu essa semana, onde a seleção feminina conseguiu colocar no estádio mais de 40 mil pessoas para assistir a final do Sul Americano sub 17 entre Brasil x Venezuela.

Depois da aposentadoria dos gramados você pretende continuar trabalhando no futebol?

Não me vejo trabalhando como técnica. Gostaria de atuar mais fora das 4 linhas, pois me vejo mais na função administrativa. Uma outra possibilidade também, seria trabalhar como agente/empresária no futuro.

Tags: ESfutebol
Gabriel Almeida

Jornalista do Tempo Novo há mais de oito anos, Gabriel Almeida escreve para diversas editorias do jornal. Além disso, assina duas importantes colunas: o Serra Empregos, destinado a divulgação de oportunidades; e o Pronto, Flagrei, que mostra o cotidiano da Serra através das lentes do morador.

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