Roberto Carlos
Depois das recentes manifestações a favor e contra o Governo da presidente Dilma Rousseff (PT), sobretudo com as opiniões de juristas e analistas políticos sérios, chega-se a conclusão de que estamos em plena gestação de um golpe parlamentar-midiático. Em que consistiria esse golpe? Retirar a presidente da cadeira de dirigente máxima da nação, não pelo crime de responsabilidade, porque ele não está caracterizado nas ditas pedaladas fiscais, mas sim porque as ruas exigem uma resposta para a crise política e econômica que assola o país.
Dentro desse contexto, reúnem-se no consórcio do golpe empresarial-midiático-parlamentar os seguintes personagens: o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), que responde processo na comissão de ética da Câmara dos deputados, casa presidida por ele mesmo, e, de forma oportunista e golpista, enxerga no impeachment a possibilidade de tirar seu nome das páginas políticas e policiais; o líder do maior partido de oposição, senador Aécio Neves (PSDB), com várias citações na operação Lava Jato, vendo no impeachment a possibilidade de se vingar do governo pela sua derrota nas urnas; e, por fim, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), também muito enrolado pelas investigações na Lava Jato, político reconhecidamente de pouco voto, tanto que mesmo sendo cacique do peemedebista, nunca ousou disputar uma eleição majoritária em seu estado. Temer é o interessado direto na cadeira da presidente por ser o seu sucessor imediato.
Associado a esses personagens políticos, temos o consórcio empresarial midiático trabalhando 24 horas para desgastar o governo e dar cobertura diária à operação Lava Jato, quando esta envolve personagens ligados ao governo. Em contrapartida, a mais influente rede de televisão do país não divulgou os nomes dos líderes da oposição que constavam na lista de propina da empreiteira Odebrecht, inclusive o próprio vice-presidente da república.
A tentativa do impedimento da presidente é claramente um desejo dos grupos econômicos, políticos e empresariais que tiveram seu projeto político derrotado nas urnas em 2014. Para o bem da jovem democracia brasileira, os verdadeiros democratas precisam se posicionar contra o golpe, e buscar alternativas políticas para a crise econômica que afeta todos os setores, sobretudo os mais pobres.
Neste momento, não cabe o oportunismo de políticos que querem ficar “bem na fita”, pois é na hora da crise que se revelam os verdadeiros estadistas, aqueles que estão mais preocupados com a nação do que com a eleição. A crise vai passar, esperamos que logo, e a jovem democracia brasileira não pode morrer por falta de capacidade política e maturidade democrática na busca por alternativas golpistas fora do Estado Democrático de Direito.
Roberto Carlos é ex-vereador, ex-deputado estadual e atual diretor da Codesa