Por Bruno Lyra
Audifax Barcelos (Rede) ou Sérgio Vidigal (PDT). Se nada extraordinário acontecer, um dos dois comandará a prefeitura da maior e mais industrializada cidade do Espírito Santo, a Serra, pelos próximos quatro anos. Não se sabe ainda se o vencedor sairá neste domingo (02) ou em 2º turno no próximo dia 30 de outubro.
Sérgio Vidigal foi prefeito três vezes: de 1997 a 2000 e depois entre 2001 e 2004, e de 2009 a 2012. Audifax de 2005 a 2008 e uma de 2013 até agora. Ou seja, ambos se revezam no poder há 20 anos e isso vai permanecer por mais um mandato.
Audifax vem da escola Vidigalista de gestão da cidade. Tanto que o atual prefeito foi alçado à condição de liderança política por Vidigal, quando Audifax foi escolhido para suceder Sérgio ainda em 2004. O rompimento dos dois aconteceu em 2008. E não foi por ideologia nem de projeto de gestão, mas porque Audifax queria reeleição e Vidigal não deixou, pois precisava de um mandato para não correr risco de definhamento político, após perder a eleição de governador para Paulo Hartung em 2006.
Desde então, o grupo político da Serra encabeçado por Vidigal rachou. E nunca mais teve a mesma força, com uma polarização que transformou a política na Serra em autofágica: enquanto um grupo tenta derrubar o outro, a representação política da cidade fica debilitada a nível estadual, onde lideranças da capital Vitória continuam hegemônicas.
E quem chega ao poder por aqui enfrenta muita dificuldade. Haja vista a oposição que Audifax enfrentou na câmara neste último mandato. Por enquanto não há sinais de que isto vá mudar. Logo, quem vencer terá este primeiro grande desafio: a governabilidade.
Audifax e Vidigal são lideranças preparadas e fizeram bons trabalhos, não obstante as falhas de cada um. Mas para além da complicada equação política municipal, vão ter que buscar boa articulação junto ao governo estadual e federal, para a cidade não ficar sem dinheiro dessas duas esferas. Nos últimos anos poucos investimentos estaduais vieram. Dinheiro da União, quase nada.
Isso num cenário em que população segue crescendo enquanto a arrecadação municipal está em viés de baixa, por conta da crise econômica nacional e que no Espírito Santo se revela ainda mais dramática. Se mesmo nos tempos áureos na década passada e o no início da atual, educação, saúde e limpeza urbana tinham suas deficiências, é um tremendo desafio melhorar esses serviços agora.
A assistência social é outro. Com uma expressiva população de migrantes pobres instalados em áreas de risco, a Prefeitura assumiu papel fundamental na distribuição de cestas básicas e organização de diversos programas sociais à população de baixa renda. Ponto que sempre teve atenção especial da dupla Vidigal/Audifax, até por questões eleitorais.
E apesar de ser uma obrigação constitucional de mais peso para o Estado, a segurança pública também é desafio do próximo prefeito. A cidade lidera há mais de 20 anos o número de assassinatos, chegando ao cúmulo de nos últimos meses, representar metade dos casos registrados nos sete municípios da Grande Vitória.
A falta d’água e a gestão ambiental também vão exigir muito do próximo líder. Apesar dos esforços pontuais de cada um, em seus respectivos mandatos, hoje as áreas de preservação da Serra estão mais degradadas, os cinturões verdes reduzidos e as águas mais poluídas. O potencial turístico do Mestre Álvaro segue sem ser aproveitado.
A atração de novos empreendimentos também é um desafio. Hoje a cidade está estagnada economicamente, menos por culpa dela, mais por questões conjunturais e estruturais da macroeconomia. Desburocratizar e saber captar empreendimentos que flertem com uma economia mais sustentável é também necessário para um bom mandato.
Seja Audifax, seja Vidigal: o próximo mandato terá que ser muito melhor do que ambos já fizeram até agora. Ou a Serra continuará a ser relegada a segundo plano pelos capixabas.