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O que os brasileiros perdoam

Desde que assumiu o comando do Palácio do Planalto, em Brasília, em 1º de janeiro de 2003, o PT teve papel decisivo na mudança de olhar para as causas sociais do país.  O governo do PSDB, que antecedeu o ciclo petista, tinha uma visão muito desenvolvimentista e o Brasil pedia políticas sociais mais inclusivas.

Nesses 12 anos a reforma agrária avançou; o governo instituiu o sistema de cotas nas universidades; a comunidade LGBT saiu do armário e ganhou as ruas sem medo de ser feliz; milhares de famílias trocaram a submoradia por um teto mais digno. Através do programa Bolsa Família o governo distribuiu renda; surgiram mais oportunidades de emprego, o povo teve mais comida na mesa; passou a ter acesso a crédito bancário e também a bens de consumo, como automóveis e aparelhos eletroeletrônicos.

Essas conquistas sociais são o grande legado do Partido dos Trabalhadores e não há como tirar isso dele.

O custo dessa mudança de olhar para a nação é controverso. A oposição considera elevado, o PT não; a oposição o considera assistencialista, o PT considera como sendo a maneira mais correta de diminuir as desigualdades. Divergências à parte, o fato é que elas foram e são necessárias.

Se o PT acertou a mão no âmbito social, em outras áreas ele se perdeu. Primeiro ele deixou de ser um partido diferenciado para se tornar um partido comum, mais comum até do que outras legendas. Ele está no seleto grupo do PMDB e do PP e onde já esteve o ex-PFL, hoje DEM, que pasmem, virou oposição. Por mais bizarro que pareça, não seria exagero dizer que o PT migrou para a direita e o DEM para a esquerda.

Muitos dos fracassos do PT se perdoam. Esse negócio de PIB pequeno, de baixo crescimento econômico, entre outros indicadores negativos na economia podem ser relativizados, pois vivemos uma globalização e há momentos de altos e baixos, sendo que o Brasil atravessa momento de baixa. Perdoa-se também a frouxidão na área ambiental; os desatinos nas relações internacionais; as falhas no Enem e as dezenas de erros. Perdoa-se até mesmos os bilionários empréstimos ao empresário Eike Batista.

Violência e corrupção: dupla intolerável

Mas não dá para perdoar o partido e seus membros envolvidos nos escândalos do mensalão e agora mais ainda no da Petrobras. Como também não dá para perdoar a ineficiência do governo petista para com a segurança pública.

São muitas denúncias de fraudes, de desvios, de roubos, de improbidade administrativa. São denúncias sérias, graves, de valores grandes. São denúncias que deixam a população estarrecida. São bilhões de reais que poderiam estar sendo injetados no próprio crescimento da Petrobras ou destinados a projetos das áreas sociais, educacionais, de saúde, de infra-estrutura e meio ambiente.

Esses fatos que envolvem a Petrobras e que de acordo com os delatores ocorrem também em outros setores são imperdoáveis. Também não dá para perdoar a ineficiência do governo petista na segurança pública. É inegável o avanço da criminalidade nos últimos doze anos no país. O Brasil é um país de crime; de todos os tipos, cometidos por pessoas de ambos os sexos, de faixa etária diversa e de camada social variada.

Aqui, mata-se muito, rouba-se muito, trafica-se muito e de tudo. Literalmente todos os tipos de crime que há no mundo com certeza há no Brasil. E são feitos sem muita cerimônia, sem medo de punição, sem temer as autoridades e num enfrentamento às forças policiais nunca visto antes.

Tudo que o PT fez de errado ou não deu conta de fazer certo seria perdoado se o partido e seus líderes, no exercício do poder tivessem sido austeros no combate ao cancro que é a corrupção e a violência.

 

 

 

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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