Há muito tempo me interesso pela interpretação das práticas sociais associadas aos sete pecados capitais.
Avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça, vaidade (ou soberba dependendo da tradução) têm sido reinterpretadas por parte da sociedade e ganhado outras conotações.
Avareza tem sido confundida com controle financeiro. A gula é incentivada, direta ou indiretamente, por comerciais de fast foods. Para a inveja foi elaborado um termo racista para amenizar aquele pecado – fala-se em ‘inveja branca’ para dar uma conotação positiva ao termo. A ira é justificada – até pela lei – em casos passionais (posso garantir que muitos sentiram vontade de aplicar a pena capital aos assassinos da nutricionista esta semana). A luxúria, em tempos de discussões sobre as liberdades sexuais, é totalmente reinterpretada. Preguiça, num mundo tão agitado como o nosso, pode ser erradamente confundida com ócio criativo. E a vaidade…
Este último pecado por vezes também aparece de forma positiva. O excessivo culto à beleza ao corpo é uma das possibilidades. Mas gostaria de analisa-lo brevemente sob a perspectiva política.
A vaidade é muito útil para entender a corrupção, por exemplo. Quando observamos os acusados da Operação Lava Jato vemos pessoas que já possuíam patrimônios e vida financeira invejável, se comparado à maioria dos brasileiros. As ações ilícitas tiveram o claro objetivo de manter e ampliar o status econômico e o poder político. A vaidade de se manter no comando tem justificado, inconscientemente, tais atos. Por outro lado, a superação das vaidades das lideranças sociais, seja no Brasil ou na Serra, poderia construir cenários mais favoráveis à população.