Se tem uma frente em que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) está tendo sucesso é a do meio ambiente. Sim, você não leu errado. É que desde os tempos da campanha o ex-capitão do Exército nunca escondeu suas intenções em relação ao assunto. Dos 13 candidatos, foi o único a não apresentar propostas para a proteção da natureza.
Portanto, está sendo muito bem sucedido ao implantar a maior retrocesso sofrido pelo meio ambiente desde a redemocratização do país em 1985. Vide a falta de resposta federal para o vazamento de óleo que atingiu a costa do Nordeste e Sudeste. As queimadas e desmatamentos recordes da Amazônia. O crescimento da devastação da mata Atlântica. A complacência com a epidemia de invasões a terras indígenas por garimpeiros, madeireiros e grileiros. A fragilização dolosa do Ibama. E ainda a recente e inócua operação do Exército sob o comando do vice-presidente Mourão para tentar conter a destruição da Amazônia. Isso para ficar em alguns exemplos.
Para executar seus planos para o meio ambiente, Bolsonaro escalou Ricardo Salles, aquele que o aconselhou a aproveitar a atenção da imprensa com a pandemia e “ir passando a boiada” nas regras de proteção à natureza.
Antes de virar ministro, Salles já era um condenado pela Justiça em 1ª instância por alterar ilegalmente o zoneamento de uma área de proteção ambiental em São Paulo no intuito de favorecer mineradoras quando era secretário de meio ambiente daquele estado.
O desmonte da gestão ambiental – que já vinha ocorrendo antes de Bolsonaro assumir – está tão grave no Brasil que tem levantado críticas até do agronegócio, notório gerador de passivos ambientais e que agora se vê pressionado pelo mercado internacional. Por conta do desmonte ambiental promovido por Bolsonaro, investidores ameaçam tirar recursos e compradores podem suspender negócios.
Não deixa de ser uma ironia, já que o presidente teve amplo apoio do agronegócio nas eleições ao prometer reduzir burocracia para desmatar, regularizar terras, acabar com a demarcação de novos territórios indígenas e frear criação de novas unidades de conservação.
Agora, pelo menos parte do agronegócio faz coro à comunidade internacional e ao Ministério Público Federal pedindo a cabeça de Salles e uma guindada na política ambiental do governo. Será que nem mesmo o interesse financeiro vai conseguir frear a sanha do governo contra o meio ambiente?
Sobra para a Serra também
Tudo isso tem desdobramentos para a Serra. Se o agronegócio nacional perder mercado, haverá impacto nas operações logísticas do complexo de Tubarão, uma vez que o porto local opera também com produtos e insumos agrícolas do centro do país. Negócios instalados na cidade vendem e prestam serviço às operadoras de Tubarão.
Outra frente de desdobramento é a ambiental. Mais populosa e industrializada do ES e com crescimento urbano estratosférico em pouco mais de quatro décadas, a Serra tem enormes passivos ambientais, que estão se agravando e precisam ser revertidos em nome da saúde de cada pessoa que habita esse lugar. E, porque não, da economia.
Com um presidente explicitamente anti-meio ambiente, fica mais difícil esperar avanços na redução do pó preto e outros poluentes do ar. Na descontaminação de rios, praias e lagoas. Na preservação das florestas e áreas verdes ainda de pé. Na solução para o problema dos incêndios nas turfas. Na crescente escassez de água. No tráfico e consumo de animais silvestres, fonte de problemas como atual pandemia do novo coronavírus.