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Obras do Contorno do Mestre Álvaro provocam impactos nas águas e bichos

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A região tem muita água e é habitat de diversas espécies ameaçadas, além de passagem para bichos silvestres entre Duas Bocas e Mestre Álvaro. Foto: Bruno Lyra

As obras do contorno do Mestre Álvaro estão a todo vapor. E como já era esperado, estão provocando impactos ambientais na região, que além de córregos, terrenos alagados e solos de turfa, é corredor ecológico entre a Área de Proteção Ambiental (APA) da principal montanha da Serra e a Reserva Biológica de Duas Bocas.

Na manhã desta quinta-feira (1º), a reportagem percorreu parte do trecho da futura via, entre os alagados do Jacuhy, próximo ao Contorno de Vitória, e a região de Muribeca e Garanhus. E é exatamente nesta última parte onde as obras estão mais avançadas, com a terraplanagem já revelando a largura de cerca de 80 metros que terá a faixa de domínio da rodovia.

O maior impacto, até agora, está no aterro de áreas alagadiças. Há também a detonação de rochas num morro próximo ao presídio do Queimado e esse material está sendo aplicado como substrato para os aterros, assim como outro morro vizinho está sendo cortado para fornecer terra para o mesmo fim.

Numa lagoa prestes a ser aterrada pela estrada, peixes pululavam. Traíras, morobás, camboatás (espécies nativas), bagres africanos e tilápias (espécies exóticas) estão entre os peixes comuns naquela região, segundo o pescador Edgar Ribeiro Montarroyos, que disse existirem também camarões naquelas águas brejosas.

Trecho entre Garanhuns e Muribeca, onde a terraplanagem está bem adiantada. Foto: Bruno Lyra

Dois funcionários de uma empresa contratada para resgate de fauna viam a cena e explicaram, sob a condição de não terem os nomes divulgados, que peixes não estão na lista dos animais que devem ser resgatados. “Resgatamos anfíbios, em sua maioria, e também aves, répteis e mamíferos. Os feridos vão para o projeto Cereias, em Aracruz. Os demais são soltos numa área definida pelo Ibama”, disse um desses funcionários.

Também há terra solta em volta da água, embora o EIA RIMA (Estudo/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente) apresentado ao órgão licenciador, o Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente), preveja a instalação de mantas nas bordas dos taludes para minimizar o assoreamento dos corpos hídricos.

Num trecho que está em fase inicial de terraplanagem, já próximo à pedreira Ibrata, o fluxo do córrego Brejo Grande foi interrompido por aterro sem que houvesse manilhamento, o que deu efeito dique no local.

Funcionário da empresa contratada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) para acompanhar a execução da obra afirmou – também sem autorizar a divulgação de seu nome – que haverá implantação de “drenagem profunda” nesse e noutros trechos para minimizar a retenção de água e evitar agravamento de enchentes, que são naturalmente severas na região.

Túneis para animais e escória nos alagados
Escória da ArcelorMittal Tubarão jogada no início da obra em abril de 2017 para estudo de estabilização do solo continua no local, nos alagados do Jacuhy. Ação que acabou embargada pelo Iema, que considerou o rejeito nocivo para o alagado. A siderúrgica diz que o material não é prejudicial. Foto: Bruno Lyra

Disse, também, que já foi implantado um túnel para a passagem de gado – a qual também servirá para a travessia segura de animais silvestres – e que outras passagens, chamadas de túneis de fauna, também serão feitos. Medida prevista do EIA-Rima para reduzir atropelamentos e mortes de animais silvestres quando o fluxo de veículos estiver liberado. Onças, jaguatiricas, lontras, cachorros do mato, raposas e cobras estão entre os bichos que vivem na região e deverão ter a rodovia como barreira para se deslocarem entre os ambientes que ficarão fisicamente separados.

Também permanece a escória da ArcelorMittal Tubarão jogada para testes de estabilidade no solo em abril de 2017, que na prática foi a primeira parte da obra. Esses já estão nos alagados do Jacuhy, próximos a outro trecho do Ribeirão Brejo Grande, já perto da extremidade sul do Contorno do Mestre Álvaro, ponto em que a nova via encontrará o Contorno de Vitória (BR 101).

O uso da escória como substrato de aterro acabou embargada pelo Iema, que considerou o material prejudicial ao ambiente de alagado. Na manhã da última quinta-feira, a reportagem percebeu que as poças d’água não continham peixes, girinos, insetos e nem moluscos. E uma delas apresentava uma cor azul incomum para águas da região. A ArcelorMittal diz que os rejeitos não são prejudiciais, que são usados para o mesmo fim em outros países e que normas técnicas brasileiras preveem o uso da escória para aterros. 

Há mais de um mês, o TEMPO NOVO vem questionando o Iema sobre as ações de redução de danos ambientais e compensações das obras do Contorno do Mestre Álvaro. Entretanto, a assessoria de imprensa não dá retorno. Já a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) diz que fiscaliza em parceria com o Iema, órgão licenciador da obra. 

Confira mais fotos dos impactos da obra: 

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