As obras do contorno do Mestre Álvaro estão a todo vapor. E como já era esperado, estão provocando impactos ambientais na região, que além de córregos, terrenos alagados e solos de turfa, é corredor ecológico entre a Área de Proteção Ambiental (APA) da principal montanha da Serra e a Reserva Biológica de Duas Bocas.
Na manhã desta quinta-feira (1º), a reportagem percorreu parte do trecho da futura via, entre os alagados do Jacuhy, próximo ao Contorno de Vitória, e a região de Muribeca e Garanhus. E é exatamente nesta última parte onde as obras estão mais avançadas, com a terraplanagem já revelando a largura de cerca de 80 metros que terá a faixa de domínio da rodovia.
O maior impacto, até agora, está no aterro de áreas alagadiças. Há também a detonação de rochas num morro próximo ao presídio do Queimado e esse material está sendo aplicado como substrato para os aterros, assim como outro morro vizinho está sendo cortado para fornecer terra para o mesmo fim.
Numa lagoa prestes a ser aterrada pela estrada, peixes pululavam. Traíras, morobás, camboatás (espécies nativas), bagres africanos e tilápias (espécies exóticas) estão entre os peixes comuns naquela região, segundo o pescador Edgar Ribeiro Montarroyos, que disse existirem também camarões naquelas águas brejosas.
Dois funcionários de uma empresa contratada para resgate de fauna viam a cena e explicaram, sob a condição de não terem os nomes divulgados, que peixes não estão na lista dos animais que devem ser resgatados. “Resgatamos anfíbios, em sua maioria, e também aves, répteis e mamíferos. Os feridos vão para o projeto Cereias, em Aracruz. Os demais são soltos numa área definida pelo Ibama”, disse um desses funcionários.
Também há terra solta em volta da água, embora o EIA RIMA (Estudo/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente) apresentado ao órgão licenciador, o Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente), preveja a instalação de mantas nas bordas dos taludes para minimizar o assoreamento dos corpos hídricos.
Num trecho que está em fase inicial de terraplanagem, já próximo à pedreira Ibrata, o fluxo do córrego Brejo Grande foi interrompido por aterro sem que houvesse manilhamento, o que deu efeito dique no local.
Funcionário da empresa contratada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) para acompanhar a execução da obra afirmou – também sem autorizar a divulgação de seu nome – que haverá implantação de “drenagem profunda” nesse e noutros trechos para minimizar a retenção de água e evitar agravamento de enchentes, que são naturalmente severas na região.
Túneis para animais e escória nos alagados
Disse, também, que já foi implantado um túnel para a passagem de gado – a qual também servirá para a travessia segura de animais silvestres – e que outras passagens, chamadas de túneis de fauna, também serão feitos. Medida prevista do EIA-Rima para reduzir atropelamentos e mortes de animais silvestres quando o fluxo de veículos estiver liberado. Onças, jaguatiricas, lontras, cachorros do mato, raposas e cobras estão entre os bichos que vivem na região e deverão ter a rodovia como barreira para se deslocarem entre os ambientes que ficarão fisicamente separados.
Também permanece a escória da ArcelorMittal Tubarão jogada para testes de estabilidade no solo em abril de 2017, que na prática foi a primeira parte da obra. Esses já estão nos alagados do Jacuhy, próximos a outro trecho do Ribeirão Brejo Grande, já perto da extremidade sul do Contorno do Mestre Álvaro, ponto em que a nova via encontrará o Contorno de Vitória (BR 101).
O uso da escória como substrato de aterro acabou embargada pelo Iema, que considerou o material prejudicial ao ambiente de alagado. Na manhã da última quinta-feira, a reportagem percebeu que as poças d’água não continham peixes, girinos, insetos e nem moluscos. E uma delas apresentava uma cor azul incomum para águas da região. A ArcelorMittal diz que os rejeitos não são prejudiciais, que são usados para o mesmo fim em outros países e que normas técnicas brasileiras preveem o uso da escória para aterros.
Há mais de um mês, o TEMPO NOVO vem questionando o Iema sobre as ações de redução de danos ambientais e compensações das obras do Contorno do Mestre Álvaro. Entretanto, a assessoria de imprensa não dá retorno. Já a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) diz que fiscaliza em parceria com o Iema, órgão licenciador da obra.
Confira mais fotos dos impactos da obra: