As famílias das casas às margens da lagoa Pau Brasil em Hélio Ferraz voltaram a sofrer com água de alagamento misturada a óleo da Vale no último fim de semana. Após a superchuva que atingiu a Serra e cidades vizinhas na Grande Vitória entre a noite de sexta-feira (17) e a manhã de sábado (18), a lagoa transbordou e invadiu as residências ribeirinhas. E o pior, trouxe substâncias oleosas que extravasaram do Complexo Industrial de Tubarão, que é vizinho ao bairro.
Presidente da Comissão de Meio Ambiente do bairro e morador, Vágner de Paula Gomes, disse que ainda há residências alagadas no início da tarde desta segunda – feira (20). Segundo ele, cerca de 200 pessoas tiveram que deixar suas casas por conta do ocorrido.
“A água não abaixou porque a Vale está impedindo para que não desça para a praia de Camburi e todos vejam o óleo que ela deixou derramar. Os moradores afetados tiveram que ficar de favor na casa de vizinhos, pois a Prefeitura prometeu abrigo no Centro de Convivência do Idoso, mas não abriu o espaço”, diz Vágner.
O morador acrescenta que, por enquanto, algumas famílias afetadas receberam colchões e cestas básicas do município, porém o benefício ainda não abrangeu todos os que estão precisando. “Muita gente perdeu tudo. Alagamento dentro de casa já é ruim, com óleo é pior ainda”, aponta.
Confira vídeo:
Situação semelhante já havia ocorrido na mesma comunidade durante outra a superchuva que atingiu a Serra. Foi há quase cinco anos, entre 30 e 31 outubro de 2014. Na ocasião, além de transbordar, a lagoa Pau Brasil recebeu carga de óleo e graxas que transbordaram do tanque de tratamento de efluentes da oficina de locomotivas da Vale em Tubarão.
Na ocasião a empresa foi multada em R$ 4,6 milhões pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), mas até julho do ano passado, a empresa não havia pagado.
Em nota a prefeitura da Serra disse que está desde sábado (18) monitorando a área. Foi constatado vazamento de substância oleosa, que, segundo a Prefeitura e diferente da afirmação dos moradores e vídeos, não chegou à Serra. A Prefeitura notificou a Vale para realizar dragagem e limpeza trimestral da lagoa, além de exigir o envio de relatório de atividades realizadas no local para evitar novos acidentes. A Prefeitura reitera que está dando assistência às cerca de 60 famílias afetadas. A multa de R$ 4,6 milhões referente ao vazamento de óleo de 2014 não foi paga e está em juízo.
Já a Vale enviou nota confirmando que novamente houve vazamento de óleo de uma oficina no Complexo de Tubarão, vizinha à Helio Ferraz. Mas nega que tenha chegado até às casas junto com o alagamento e que esteja retendo o fluxo de água da lagoa Pau Brasil. Confirma abaixo a íntegra do posicionamento da Vale envidado à reportagem na manhã de terça-feira(21).
Em razão das fortes chuvas que ocorreram neste final de semana, elevaram-se os níveis das lagoas existentes na Grande Vitória. A Vale ressalta que as lagoas existentes na Unidade Tubarão não possuem nenhum tipo de comporta ou sistema de controle de vazão da água e que a redução do nível da água se dá por processos naturais. Também em função da chuva, houve extravasamento de resíduos oleosos provenientes de uma oficina. A ocorrência foi notificada aos órgãos ambientais e a empresa tomou todas as medidas para conter e recolher o material, que não chegou à comunidade.