O petróleo contamina a costa brasileira da região Nordeste ao Espírito Santo, onde foi detectado pela primeira vez na última sexta-feira (08). E está cada vez mais perto da Serra. As manchas mais próximas, foram avistadas na praia de Pontal de Ipiranga, em Linhares. Em linha reta, isso dá cerca de 65 km (conforme medição feita no Google Earth) da foz do rio Reis Magos, ponto mais ao norte do litoral do município.
Vale lembrar que, por conta das correntes marinhas, a contaminação está sendo trazida da direção norte para o sul. Além do litoral de três municípios do norte Capixaba onde já foram encontradas manchas – Conceição da Barra, São Mateus e Linhares, a sujeira deve chegar a outras cidades. Há risco até para o litoral do Rio de Janeiro.
Como já está em Linhares, para chegar à Serra falta apenas a costa de Aracruz e Fundão. A reportagem conversou com o presidente da Associação de Pescadores de Jacaraípe, Manuel Bueno dos Santos, o Nego da Pesca, na manhã desta segunda-feira (11). Ele, que além de morador de Jacaraípe também preside a associação de pesca local, disse que a expectativa é que a contaminação chegue ao município em breve.
“A situação está muito tensa. Nosso litoral já foi impactado pela lama da Samarco (Vale + BHP) e agora esse novo baque. É preciso repensar esse modelo de desenvolvimento. A mineração já mostrou que não está preparada para remediar seus desastres e a agora quem mostra essa incapacidade é a indústria do petróleo. E o Governo também está mostrando essa incapacidade”, avalia Nego.
O dirigente disse também que, até agora, o Governo Federal não anunciou auxílio – defeso extra para os pescadores capixabas. O benefício já foi prometido aos pescadores nordestino afetados pelo óleo. O valor do auxílio é de R$ 996.
Queda nas vendas
Nego explica ainda que pescadores da Serra e de outros municípios capixabas já estavam sendo afetados mesmo antes da chegada do óleo ao Espírito Santo, por conta da proibição extraordinária da pesca de lagosta e camarão no entorno de Abrolhos. Proibição determinada pelo Governo Federal sob alegação de risco de contaminação química do pescado e que entrou em vigor no último dia 01 de novembro e, a princípio, se estenderá até 31 de dezembro.
“O principal pesqueiro de lagosta e camarão das embarcações capixabas é o entorno de Abrolhos”, lembra Nego.
Dona de quatro embarcações e uma banca de peixe em Jacaraípe, a pescadora Míriam Scheneider conta que as vendas caíram 30%. O motivo é a desconfiança dos consumidores quanto à qualidade do pescado por conta do óleo. No entanto, também na manhã desta segunda-feira (11), ela afirmou que os peixes comercializados foram pescados em áreas onde não se detectou óleo.
Manguezais em risco
Além das praias, há preocupação espacial com os manguezais. Em entrevista ao Tempo Novo na última semana, o superintendente do Ibama no Espírito Santo, Diego Libardi, disse que estava sendo avaliadas medidas para tentar impedir que o petróleo entrasse nesses ambientes, pois a remoção é muito mais complexa. Uso de redes de pesca apreendidas, barreiras de contenção e remoção física usando embarcações de baixo calado estavam entre elas. Mas admitiu que, até agora, as tentativas de contenção nos manguezais do Nordeste não foram bem sucedidas.
Na Serra, a maior preocupação é com o rio Reis Magos e a lagoa Juara. O primeiro, inclusive, abastece a região da Serra Sede e tem influência do mar até o ponto de captação da Cesan em Putiri, zona rural a cerca de 13 km de Nova Almeida. Já a lagoa Juara, se comunica com o mar pelo canal do rio Jacaraípe. Comunicação que foi ampliada com a dragagem e alargamento do rio feito pela Prefeitura da Serra a partir de 2014.
Para Nego da pesca, embora não tenha confirmação, o óleo já pode ter atingido manguezais capixabas. “Se chegou na praia, entrou nos mangues. O problema é que uma vez no manguezal, o óleo fica mais de difícil de ser enxergado. Ele tem uma cor parecida com a da lama do mangue”, explica o dirigente pesqueiro.
Impacto econômico
Segundo Nego da Pesca, no ES cerca de 10 mil pescadores atuam nos manguezais e no mar, sendo 600 deles moradores da Serra. “Para cada emprego na pesca, outros quatro são gerados na cadeia produtiva gerada pela atividade, que vai desde o atravessador na peixaria, supermercado, manutenção de barco, fornecedor de combustível, fabricante dos petrechos, ao trabalhador e ao empresário do restaurante que serve a moqueca”, detalha.