Não é só a falta d’água e o calorão cada vez mais presente e intenso que a devastação da mata Atlântica no Espírito Santo provocou. A derrubada indiscriminada da floresta também colocou em situação dramática a onça pintada, que conta atualmente com apenas 17 exemplares em território capixaba.
Todos os animais estão nas reservas entre Linhares e Sooretama, municípios do norte do estado onde ficam os trechos contínuos mais preservados da mata Atlântica. É o que revela a pesquisa publicada esta semana na Oryx, revista internacional especializada em conservação de flora e fauna.
O trabalho foi desenvolvido pela professora Ana Carolina Srbek de Araujo (Universidade Vila Velha), em colaboração com o professor Adriano Chiarello (Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto), e representa a primeira estimativa populacional das onças-pintadas, não só na região de Linhares, como em todo o ES.
Segundo o site da ong capixaba Últimos Refúgios, a população de onças nas reservas de Sooretama e Vale começou em 2005. E as conclusões iniciais apontam para o declínio dessa população.
Atropelamentos, caça e cruzamento entre parentes
O estudo revela que entre os maiores riscos a estas últimas sobreviventes estão o atropelamento na BR 101, que corta a reserva de Sooretama, sem que existam possui túneis, telas de proteção e pontes para a passagem dos bichos. A rodovia, hoje sob a responsabilidade da concessionária Eco 101, será duplicada, aumentando a ameaça.
Outro fator é a caça indiscriminada de bichos que são presa para os felinos, podendo os levar à morrer de fome ou procurar comida em fazendas próximas, se tornando assim alvo de conflitos com humanos. Há ainda o cruzamento entre parentes, já que os bichos estão isolados de outras populações, que leva ao enfraquecimento genético, tornando as onças mais suscetíveis a doenças.
O estudo diz que a espécie só permanecerá na região se aplicadas medidas urgentes para sua conservação. Dentre elas o reestabelecimento de fluxo genético com outras populações de onças-pintadas através de corredores florestais, combate à caça e ações para reduzir as dezenas de atropelamentos diários nos trechos da BR 101 que cortam as reservas.