Eu deveria estar usando o pronome ‘senhor’ para me dirigir ao presidente da República. Mas Bolsonaro não merece. O que ele tem feito de 2019 para cá é achincalhar o mais importante cargo público do país, atacando sistematicamente a Constituição e até valores básicos da civilização.
Nesta segunda-feira (21) o ex- capitão do Exército voltou a mandar um repórter calar a boca. Desta vez foi Laurene Santos, de TV Vanguarda, afiliada da Globo, que havia perguntado o porque do presidente ter circulado sem máscara na cidade de Guaratinguetá – SP num momento em que a pandemia segue sem controle e com meio milhão de vítimas fatais no país.
Na condição de presidente, Bolsonaro já havia mandado outros repórteres calarem a boca. Foi em 05 de maio, em Brasília, no calor da crise gerada pela demissão do então ministro Sérgio Moro, que acusara o presidente de trocar o comando da Polícia Federal para supostamente tentar blindar seu filho Flávio de investigações em curso que apontam ligação do rapaz com milícias e esquema de rachadinha quando era deputado estadual. Os repórteres haviam perguntado a Bolsonaro se ele tinha interferido na troca de comando da PF, quando ouviram de reposta o cala a boca.
É dever da imprensa perguntar. É direito também, o artigo 220 da Constituição deixa claro ao proibir qualquer tipo de censura de natureza política, ideológica ou artística. E é obrigação dos agentes públicos responderem, afinal, administram o dinheiro de todos.
Portanto a postura de Bolsonaro afronta as leis do país e é incompatível com a de um presidente da República. E pior, cada dia mais vai fomentando a radicalização de seu ruidoso séquito de fanáticos e os encorajando a agredir verbal e fisicamente não só os profissionais da imprensa, mas qualquer pessoa que os questionem.
Emblemático também o fato de que o cala a boca de ontem tenha sido contra uma mulher. Bolsonaro fez questão de tirar a máscara para vociferar descontrolado aspergindo perdigotos na cara da profissional e sua equipe. Uma atitude misógena, grotesca e de desprezo pelo cuidado sanitário que o momento exige. Prova inequívoca de que sua permanência no cargo é ameaça não só para o Brasil, mas para a humanidade.
Em nome de Laurene Santos e de todas as pessoas que trabalham para levar ao público notícias bem apuradas: Se for para falar barbaridades que só promovem o caos no país, cala a boca você, Bolsonaro.
Bruno Lyra, repórter do Jornal Tempo desde 2005
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