Ser contra tudo o que a ciência defende para o freamento da pandemia de Covid-19 no Brasil e mundo. Esse foi o personagem escolhido por Jair Bolsonaro durante a maior crise sanitária já vivida no século 21. O presidente atua como um antagonista à saúde do povo brasileiro, promove desinformação, fragiliza a confiança das pessoas na ciência e cria uma guerra político-ideológica em situações desnecessárias e preocupantes. Mais uma vez, o chefe do Executivo nacional chocou o país ao comemorar a interrupção temporária do teste da vacina chinesa contra o coronavírus após a morte de um voluntário. O que ele classifica como uma “vitória” pessoal, na verdade trata-se de uma grande derrota coletiva.
As declarações dadas por Bolsonaro na última terça-feira (10) desnudam sua falta de preocupação com a gravidade do avanço do coronavírus nos estados brasileiros, além de revelar a desrespeitosa falta de atitude para frear as mortes causadas pelo vírus, que até o momento já chegaram no patamar de 160 mil vidas perdidas. Mas o que esperar do autor das tenebrosas e nada responsáveis declarações sobre a Covid-19: “E daí?”, “não sou coveiro”, “gripezinha”.
Para piorar, no mesmo dia, o presidente se comporta como um líder desgovernado, diz que o Brasil precisa parar de falar da pandemia e sugere uma ameaça de guerra aos Estados Unidos. E nas redes sociais, Bolsonaro estampa sua felicidade ao receber a notícia de que uma morte de voluntário fez os testes da vacina Coronavac serem paralisados pela Anvisa. O líder da nação ainda classificou uma das esperanças do povo brasileiro para imunização da população como “morte, invalidez e anomalia”. Como de praxe, acusações vindas da sua obscura mente e sem embasamento científico nem provas.
Mas essa postura não é de agora. Desde sua candidatura à Presidência, Bolsonaro sempre deixou claro ser adepto do “jogo do contra”. Quando assumiu o comando, fez diversos ataques à ciência, à imprensa e à democracia, inclusive neste ano, divulgando falácias de um medicamento que não possui nenhuma comprovação científica contra o coronavírus. É claro que estamos falando da cloroquina, que ganhou fama e virou um imbróglio após se defendida pela autoridade como a “salvadora de vidas”.
Agora, contrariando sua decisão de indicar métodos sem comprovação aos seus eleitores, Jair Bolsonaro tenta colocar a população contra a vacina chinesa – que só será distribuída após completar todos os testes necessários para sua aprovação – por motivos ideológicos e políticos. Inclusive, o presidente ajuda a fortificar o perigoso movimento anti-vacina, ao defender a não obrigatoriedade da imunização. Atitude essa contrária às orientações de especialistas do mundo inteiro, que defendem a vacinação de todos.
E após transformar a terça-feira (10/11) num dia caótico, tanto no âmbito político, quanto para a população em geral, Bolsonaro se tornou alvo de uma avalanche de críticas. Em função das declarações irresponsáveis divulgadas pelo presidente, senadores, médicos, deputados federais, estaduais e outras autoridades reagiram e trataram de ‘apagar a chama’, que, infelizmente já tinha se alastrado. É importante destacar que, apesar das inverdades contadas pelo presidente, a vacina chinesa não foi a causadora da morte do voluntário. Segundo laudo médico, ele teria se suicidado ou sido vítima de uma overdose.
Após sugerir que caso não consiga manter o diálogo com o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, partirá para o confronto, Bolsonaro se espelha em seu ídolo, o republicano atual presidente dos EUA, Donald Trump, que também se mostra extremamente narcisista e negacionista. Bolsonaro, ao proferir tais afirmações sobre o democrata Biden, mostra que está um pouco perdido, após assistir a derrota do líder em quem se espelhava.
De todo esse caos, surge o aumento da desmoralização da ciência e a falta de confiança da população na imunização, que até o momento foi apontada com a única e possível arma contra um vírus que já fez milhares de vítimas. O pior é a motivação por trás de tudo isso. Bolsonaro mostra que pretende ficar no poder o máximo que puder e para isso, precisa manter as pessoas desinformadas. Ele coloca seus interesses pessoais – como a briga com João Doria (governador de São Paulo e principal articulador da vacina chinesa) – acima de tudo e todos.
Até o momento, o presidente joga a favor do coronavírus. Vide as acusações de que muitas das mortes por consequências da pandemia estejam na conta do negacionista. E olha que após as atitudes dele, essas afirmações nem soam como exagero.
O Brasil precisa de um presidente que tenha capacidade [e responsabilidade] para ocupar o mais alto cargo da nação. Um governante que tenha sensibilidade e compaixão com a dor e o sofrimento do povo. Mas infelizmente, no momento o país é conduzido por alguém que brinca com a saúde e põe o poder acima de tudo, a ignorância acima de todos. Alguém que ainda diz que o “Brasil tem que deixar de ser um país de maricas”.
Por fim, entendemos que Jair Messias Bolsonaro não necessita com urgência de uma imunização contra a Covid-19, mas sim de uma vacina contra a ignorância e o negacionismo.