A Serra é uma das cidades mais antigas do Brasil – esse ano completou 464 anos. Entretanto, enquanto fenômeno urbano, somos uma cidade na adolescência. A guinada urbanística e populacional da Serra remonta do final da década de 70 para o início de 80, especialmente por meio dos loteamentos feitos pela extinta Cohab e a implantação da CST – atual ArcelorMittal Tubarão em 1983 (mesmo ano da criação do jornal TEMPO NOVO).
De uma Serra rural, a base da economia do abacaxi, passamos a exportar aço, abrimos estradas, avenidas e rodovias, construímos terminais de ônibus e gigantescos conjuntos habitacionais. A partir daí foram necessários oferecer serviços de saúde, educação, assistência, lazer, etc. Nas últimas décadas, a Serra avançou em infraestrutura pública, com unidades de saúde, escolas e creches.
Toda obra que vinha, era comemorada, e muitas vezes a qualidade do investimento sequer era questionada, já que a demanda era enorme e a carência por serviços públicos expunha uma Serra que se contentava com o básico. Mas a cidade avançou, se tornou a mais populosa e economicamente a locomotiva capixaba. Os polos industriais trouxeram a classe média, e a cidade foi ficando mais exigente.
Hoje em dia, com a explosão da comunicação em rede somada a todos os efeitos da antropologia da Serra, a população tem se mostrado muito perceptiva às obras. Na prática, a cidade não se contenta mais com qualquer coisa. Quer qualidade, durabilidade e inteligência no emprego do recurso público.
Esse ano, o TEMPO NOVO recebeu uma enxurrada de opiniões, percepções e críticas a respeito de obras na cidade. O que demonstra que a população está mais criteriosa, atenta e não se contenta apenas com obras, e sim com a qualidade delas. Pelo menos quatro obras foram campeãs de críticas, todas de responsabilidade da Prefeitura da Serra: Recapeamento da Avenida Norte-Sul; construção da Rotatória de Maringá; urbanização da Avenida Talma Rodrigues Ribeiro; e a orla de Bicanga – que ainda não foi inaugurada.
A qualidade dessas quatro obras reflete uma Prefeitura com a cabeça da Serra do abacaxi. A obra da Norte-Sul não suportou a primeira chuva. Em novembro de 2019, uma tempestade torrencial alagou completamente a Avenida Norte-Sul na altura de Colina de Laranjeiras. Máquinas da Prefeitura tiveram que quebrar as muretas que dividem as pistas para escoar água. De lá pra cá são constantes as reclamações de buracos e desníveis. Volta e meia equipes da prefeitura estão lá tampando buracos em uma obras que foi entregue há poucos meses.
Já na região do Civit, a Prefeitura prometeu resolver um problema antigo: a rotária que liga Barcelona, Porto Canoa e Maringá, local que transitam 150 mil pessoas diariamente. Depois de uma obra arrastada e cheia de contratempos, a Prefeitura entregou um equipamento público muito questionado pela população e que sucinta dúvida sobre sua efetividade. A Rotatória de Maringá foi tema inclusive de várias matérias do TEMPO NOVO que expunha o descontentamento dos moradores da região.
Fato que também ocorreu na urbanização da Avenida Talma, que liga a Serra continental à Serra litorânea. É a porta de entrada de Jacaraípe e a avenida que atende parte expressiva da vida industrial da cidade. A Prefeitura foi recentemente notificada pelo Governo do Estado (que foi quem pagou pela obra), para fazer reajustes, já que o equipamento deixou a desejar. Pelas redes sociais, os moradores denunciaram a baixa qualidade da ciclovia. Em outubro desse ano, a própria Prefeitura teve que destruir a faixa de pedestres elevada, que ligava a entrada de Castelândia (Jacaraípe).
Por fim, a urbanização da orla de Bicanga, entra na lista. Essa semana, moradores da Serra entraram em contanto com o TEMPO NOVO para denunciar problemas em uma obra que sequer foi inaugurada ainda. As reclamações vão desde a falta de iluminação, pisos elevados e/ou quebrados, buracos e bancos de madeira empenados, além de falta de sinalização horizontal e vertical.
A população não quer uma Prefeitura que se intitula ‘campeã de obras’ se tais investimentos não apresentam qualidade mínima. A Serra segue avançando antropologicamente e essa nova cidade é mais exigente. Os gestores que não se atentarem a isso, precisam voltar a plantar abacaxi.