Após meses de isolamento social e com a desaceleração do contágio da Covid-19, boa parte da população se esqueceu do ‘novo normal’ e voltou a viver como se nem existisse pandemia, vide as aglomerações registradas semanalmente em bares, praias e outros espaços públicos da Serra. O problema é que um aumento repentino de óbitos e infectados nos últimos dias trouxe novamente uma preocupação com a tão temida ‘segunda onda’ do coronavírus. Mas quem serão os ‘culpados’ por isso?
Em apenas dois dias, a Serra registrou mais dez moradores mortos pela doença. Número esse que, nas semanas anteriores, era pouco menos do total de registros em seis ou sete dias. Os dados de casos confirmados também demonstram uma acentuada aceleração: 442 novos moradores infectados em 48 horas. Apesar de não haver nenhuma confirmação de que isso esteja ligado a uma possível nova onda, a preocupação existe e é grande.
Para quem não sabe o que significa essa ‘segunda onda’, basta voltar na história e entender o que ocorreu durante a pandemia da Gripe Espanhola, entre 1918 e 1919. Num certo momento, a doença parecia ter sido vencida, mas voltou com tudo, ainda mais contagiosa e letal.
E na lista de quem seriam os possíveis culpados por essa história se repetir estão os causadores de aglomerações. Esses que ignoram o perigo real do coronavírus e lotam bares, praias e outros espaços públicos. Mas as autoridades também possuem uma boa parcela de culpa.
Na Serra, por exemplo, a administração municipal – que é a responsável por conter superlotação em bares, praias e praças – parece fechar os olhos, enquanto muitos moradores perdem a vida por conta do vírus. O Município até afirma fiscalizar, mas entre dizer e realmente fazer existe um gigantesco abismo.
Sem falar nos políticos, que após realizarem convenções partidárias lotadas de pessoas que não respeitavam o distanciamento social, agora causam aglomerações em ruas e outros eventos. Em nível nacional, também temos um presidente – Jair Bolsonaro – que sequer usa máscara e continua insistindo em falácias, além de incentivar seus eleitores a desrespeitarem as autoridades de saúde.
Todos torcem para que não haja um verdadeiro aumento de óbitos e infectados, mas caso ocorra uma segunda onda na Serra e no Espírito Santo, por falta de aviso não foi. Diariamente, veículos de imprensa, inclusive o TEMPO NOVO, insistem em alertar à população sobre os perigos do vírus e quais cuidados devem ser tomados, mas a reposta de uma parte são comentários ofensivos e caluniosos.
Na página deste jornal no Facebook, por exemplo, alguns leitores duvidam dos dados, classificam as matérias como fake news e, em alguns momentos, acusam os jornalistas de “quererem causar pânico nos moradores”. Além da imprensa, as autoridades de saúde estaduais e o governador, Renato Casagrande, também alertaram sobre os riscos diversas vezes.
Lógico que é totalmente compreensível o desgosto da população com as medidas de distanciamento, mas ainda não é momento para tudo voltar ao normal. O poder público, moradores e o setor comercial precisam entrar num consenso e entender que as medidas de flexibilização são necessárias e as atividades precisam funcionar, mas tudo com muito cuidado e nada do jeito que era no ‘velho normal’. A crise é sentida por todos, mas lotações e desrespeito trarão, na verdade, ao invés de benéficos, mais problemas para o futuro, já que se houver um aumento nos casos e mortes, tudo volta à estaca zero.
A Itália é um exemplo disso. O país que sofreu milhares de perdas no início da pandemia voltou a registrar alta de casos e mortes, e o Governo já decidiu restringir novamente atividades para evitar a ‘segunda onda’. Países como França e Portugal também têm contabilizado números diários de infectados maiores do que o que registraram no início da pandemia. Por lá, restrições também já ocorrem mais uma vez.
O que podemos concluir com isso tudo é que um dia os responsáveis por esses novos óbitos serão expostos, já a história ainda irá nos contar quem são, pois nela já estão cravadas as 520 mortes de pacientes da Serra por complicações da Covid-19 e também as outras 150 mil vítimas fatais da pandemia em todo o Brasil.
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