Bolsonaro não será o presidente de 55%, mas sim de todos os brasileiros, já que somos uma República, e não uma banda de rock ou um time de futebol. Acredito que nosso futuro presidente vai precisar amadurecer no cargo, assim como seu seguidor mais apaixonado.
Bolsonaro é um produto de muitas coisas e sua habilidade em saber tirar o proveito de cada uma delas é incrível.
Agora, por anos, ele foi ‘martelo’ e suas frases de efeito o alçaram a condição de ‘mito’ por uma claque de afeiçoados pelo radicalismo e pelas soluções simplórias e ingênuas. Mas o ‘martelo’ vai virar ‘prego’, uma vez que estará em suas costas a pressão por respostas aos inúmeros problemas da nação. Soluções que não serão resolvidas com dedinhos imitando armas e seus chavões.
Acredito que, sabidamente, Bolsonaro deve ir aos poucos moderando seu discurso e suas práticas, uma vez que a complexidade da sociedade brasileira é de proporções continentais e isso obriga seu governante, quem quer que seja ele, a se tornar um equilibrista. Bolsonaro tem uma agenda reformista e modernizante pela frente, que precisa balancear o desenvolvimento econômico com a promoção de igualdade social e proteção ambiental, que vai testar sua real capacidade de governar.
Como valorizar os militares, expoentes diretos da segurança pública e ao mesmo tempo equacionar o problema da Previdência, onde os mesmos militares respondem por quase 50% do rombo? Este é só um micro-dilema do tecido que Bolsonaro vai ter que costurar. Se Bolsonaro não for equilibrista, terá que ser ditador. E isso não serviu no passado e não servirá agora.
O ex-capitão não é mais da bancada dos ‘excluídos’ no Congresso. Daqui em diante, ele se relaciona com a ONU, com a China, com os EUA, com a União Europeia. Bolsonaro agora não é responsável apenas pelos seus atos, ele é ordenador de R$ 1.3 trilhão de dinheiro público por ano, dono de uma caneta com 23 mil cargos comissionados e regente de uma orquestra com 200 milhões de espectadores diretos e bilhões indiretos. Este é o tamanho do desafio no maior país da América Latina.
O pragmatismo deve tomar o lugar da paixão política, caso contrário, seus apoiadores correrão o risco de se tornar tudo aquilo da qual mais dizem se enojar, da cegueira que inibe o senso crítico da realidade transmutado para uma espécie de corporativismo de direita ou de esquerda, uma coisa atrasado e emburrecedora.
Para muitos amigos que se viram mergulhados nestas querelas eleitorais de rede social e que acham que ‘jogo acabou’ e que ‘combateram o bom combate’, um aviso: na verdade o jogo mal começou.