* Fabíola dos Santos Cerqueira | Professora de Sociologia da rede estadual
* Hilton Dominczak | Sociólogo
Nos últimos cinco meses, desenvolvemos Pesquisas com alunos do Ensino Médio de uma escola da rede estadual do município de Serra/ES, com o objetivo de criar um canal de interlocução com esses estudantes, durante a suspensão das aulas em virtude do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus. A pesquisa mais recente, “A pandemia e o retorno à escola”, foi realizada entre os dias 23 de junho e 13 de julho, ou seja, dentro do período considerado letivo e, talvez por essa razão tenha sido a pesquisa com maior adesão dos estudantes das três séries do Ensino Médio, mas ainda uma tímida adesão.
Nessa Pesquisa constatamos que mais da metade (55%) das residências dos estudantes tem entre 4 e 5 pessoas, o que aumenta o risco de contaminação. A maioria das famílias (61%) tem renda famíliar de até dois salários mínimos e necessita sair diariamente para o trabalho, ficando dessa forma mais expostas ao vírus. Essas famílias não tem oportunidade de fazer o isolamento social; a hashtag “#fiqueemcasa” não vale para essas famílias.
Em suas respostas, os estudantes fizeram várias críticas ao governo, diante do anúncio de uma possível data de retorno à escola, por entenderem que não há possibilidade de evitar aglomeração no ambiente escolar, ou mesmo no trajeto entre suas residências e a escola, no transporte público. Sobre o retorno à escola, rejeitam as aulas presenciais sem que haja vacina, o que garantiria a segurança dos estudantes e professores; rejeitam também as atividades não presenciais como letivas, pois acreditam que os estudantes que não têm acesso serão prejudicados.
O retorno às aulas presenciais, a nosso ver, é irresponsável e expõe trabalhadores, estudantes e suas famílias ao vírus. A pressão feita pelos donos de escolas particulares começa a surtir efeito, levando o governo estadual a cogitar e a planejar o retorno das aulas presenciais para setembro. Há uma estabilidade no número de mortes provocadas pelo covid 19 no estado, no entanto, a pandemia ainda não acabou, ainda não há vacina e nem mesmo medicamento para cura, ou seja, a pandemia não está controlada e abrir escolas significa mais pessoas nas ruas e nos transportes públicos (que continuam cheios). Não há sequer menção a testagem de professores e alunos. A portaria conjunta SEDU/SESA Nº 01-R, de 08 de agosto de 2020, mostra que o governo joga nas mãos da comunidade escolar a responsabilidade pelo controle da doença na escola.
Num momento em que todos nós tememos ser contaminados pelo coronavírus e contrair a doença Covid-19, identificamos na Pesquisa, que também para os estudantes a preservação da vida não se sobrepõe ao desejo frenético de dar continuidade ao ano letivo 2020, assim como seguir com a flexibilização das mais diversas atividades econômicas, buscando uma “normalidade” que não mais existe.
O texto não é de responsabilidade do TEMPO NOVO, mas sim dos autores do artigo de opinião.
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