Yuri Scardini
Nessa semana, a atenção se concentrou na prisão dos supostos hackers que teriam vazado à imprensa diálogos entre o atual ministro e então juiz, Sérgio Moro, e procuradores da Lava Jato. Sem entrar no mérito em si das mensagens, para não cair no emaranhado de narrativas, politicamente, fica explícito que Moro é a personificação antagônica ao ex-presidente Lula. No entanto, atualmente, não passa de um auxiliar nomeado por Bolsonaro, um presidente reconhecidamente despreparado.
Bolsonaro é um PT-dependente. Ancorado no antipetismo, ele precisou do PT para se eleger e precisa para governar; basta analisar o mantra de seus eleitores: “Ah, pelo menos tiramos o PT” ou “Com o PT seria pior”. As supostas mensagens vazadas demonstram protagonismo de Moro na prisão de Lula, mas eleitoralmente foi Bolsonaro que soube capitalizar.
Portanto, o lavajatismo e o bolsonarismo se uniram taticamente, mas eles não são a mesma coisa e tendem a se separar num declínio político de Bolsonaro, que inclusive vem caindo vertiginosamente em pesquisas científicas de avaliação. Moro tem em mãos uma metralhadora seletiva de investigação e punição, além de apoio de uma parcela expressiva da população. Se um dia ele decidir que ‘precisa’ dar sequência à ‘limpeza ética e moral’ no Brasil (à qual a Lava Jato se propôs), a próxima vítima teria que ser Bolsonaro ou seus filhos, já que estão no epicentro do poder e, filosoficamente, a noção de honestidade absoluta é utopia, ainda mais se tratando na escala brasileira.
Bolsonaro parece ser circunstancial, mas o ‘justiceiro’ Moro não, já que é o antônimo político de Lula. Até quando a união tática do bolsonarismo e do lavajatismo vai se manter de pé é uma incógnita e, provavelmente, depende da relação entre as demais forças do governo, como as alas militar, ruralista, liberal-financeiro, evangélica e olavistas, além do apoio popular, que é o último pilar que separa a governabilidade do caos.
No meio dessa confusão toda está a democracia, que vive dias de incerteza. O que o Brasil vive não parece ser apenas refluxo de preconceitos patriarcais que estavam soterrados no subsolo das consciências. A democracia está sob ataque e o humanismo e a noção de verdade precisam prevalecer, pois sem a política só restará a guerra e a autocracia.