Bruno Lyra
O monstruoso ataque na escola de Suzano na semana passada, em São Paulo, é exemplo extremo do quão difícil tem sido a vida no ambiente escolar no Brasil. Para crianças, adolescentes e jovens, a escola é espaço de socialização. Papel que certamente ganha mais importância num mundo cada vez mais urbano, virtual e hostil, onde as brincadeiras de rua foram perdendo espaço para a violência e o trânsito frenéticos, e a sedução das redes sociais.
Essa escola contemporânea e seus professores estão sob ataque no Brasil. Parte da sociedade e lideranças políticas que emergiram ao governo federal defendem o que chamam “escola sem partido”. Querem o retorno do culto à disciplina tal como era praticada décadas atrás. Defendem que educação sexual orientada para diversidade e opiniões políticas de professores, dependendo da ideologia, sejam cerceadas. Até mesmo o Ministério da Educação estimula a filmagens de professores supostamente de esquerda e que os vídeos sejam usados para denunciá-los.
A ideia da escola sem partido é tão desonesta que, na verdade, quer impor uma agenda político-ideológica conservadora, alinhada com o atual governo. O que além de não ajudar o processo pedagógico, fere a liberdade de cátedra garantida pela Constituição Federal.
Disciplina e respeito à escola são importantes por parte dos alunos. Mas também importa a criticidade, o questionamento, a liberdade de expressão. Escola não tem que ser de direita ou esquerda. Tem que ser de todos, incluindo as questões de gênero. Ciência se faz com pluralidade. Civilização avança com tolerância.
No cerne desse debate está a eficiência de ensino. É notório que o modelo escolar é falho e custou para fazer pequenos avanços. Transversal a isso, vieram a internet e as redes sociais. Hoje, qualquer aluno pode questionar o conhecimento transmitido pelo professor, dispondo de acesso à web e tendo discernimento de checar fontes fidedignas.
Tudo que as escolas não precisam é ficar ainda mais quadradas. E o pior, bélicas. De autoridades, vieram defesas de teses de que professores e funcionários deveriam atuar armados. Parece loucura, e é. Tais ideias só refletem uma sociedade cada vez mais armada, intolerante e violenta. Exatamente o oposto da razão para a qual foram criadas escolas.