Há algumas semanas a Serra ultrapassou a trágica marca de 1.000 mortes por Covid-19. É um número tão devastador, que obrigou o prefeito Sérgio Vidigal a reduzir de quatro para três anos o prazo de exumação de corpos, para tentar driblar o risco de colapso funerário no município.
Para fazer uma comparação rasa, a Covid está matando bem mais que arma de fogo na Serra, cidade da qual convive historicamente com a chaga da violência desde o início do apogeu urbano datado da década de 80, com a implantação da antiga CST, atual ArcelorMittal.
Mas se a maioria absoluta dos moradores da Serra temem sair à noite, especialmente em bairros periféricos, uma parte expressiva segue desdenhando da pandemia, que estatisticamente é mais mortal e impiedosa do que a violência urbana.
E qual o símbolo maior do desdenho? Com certeza, é o não uso da máscara, que é o artigo mais básico na luta contra a pandemia. Alguns podem até falar: ‘ah, estou de saco cheio de usar essa máscara’…Nossa! Imagina um cara em Londres em 1940 dizendo que está com o saco cheio das restrições de circulação impostas pela guerra e saindo na rua durante a blitzkrieg de 7 setembro.
Se essa pessoa tinha amor próprio e por seus semelhantes, teve que rapidamente ‘esvaziar esse saco’ para viver com restrições por mais cinco anos.
E isso é idêntico nesse momento, afinal estamos todos em guerra contra o vírus. Não usar máscara, não é somente um ato de irresponsabilidade individual, mas antes de tudo, é também um erro de caráter coletivo, já que todos dividimos o mesmo planeta.
Por isso, o decreto da Prefeitura da Serra do qual torna obrigatório o uso de máscara e prevê multa para quem insistir com o contrário, é sim, justificável e necessário. O Poder Público existe para regular a coletividade, e se uma minoria de irresponsáveis põe em risco de vida a maioria, é preciso a intervenção estatal.
Não seria necessário se a ciência fosse ouvida e respeitada por todos; mas as sub-culturas estimuladas especialmente pelos fenômenos da comunicação virtual em rede, chegaram para arregimentar os anti-ciência.
Não podemos prever quando essa pandemia vai acabar, ainda mais sem vacinação em massa, que é o caso do Brasil. Portanto, fechar o cerco contra quem não usa máscara, está no escopo de ações necessárias na luta contra a doença.
O conhecimento empírico de epidemias e pandemias passadas é importante, mas não desvenda o fenômeno. Pode durar 15 semanas e outras 150 semanas. Deixar a população se infectar para alcançar mais rapidamente imunidade de rebanho, além de ser humanamente injustificável, é errado. Pois durante o período de contágio acelerado podem aparecer mutações que inviabilizem a imunidade natural adquirida para a cepa anterior (e até para a imunidade por vacinação). Por isso, a única – repita-se com ênfase: A ÚNICA – medida eficaz e aceitável é reduzir as interações e a utilização em escalda de medidas sanitárias básicas, como uso de máscara e higienização, que é o que ainda falta a Serra.
Diferente de outros municípios, que seguem fazendo vista grossa, a Prefeitura da Serra, seguiu as orientações dos órgãos de controle, incluindo o Ministério Público, e não se acovardou em exercer seu papel mais fundamental: regular a coletividade em prol do bem social. Vacina sim! E nesse intervalo, cerco contra aqueles que querem boicotar a vida. Não quer tomar multa? É só usar a máscara.