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Opinião TN | Rodrigo Caldeira: acuado e desidratando

Rodrigo Caldeira é presidente da Câmara da Serra. Foto: Gabriel Almeida

Caldeira produz calor para transformar água em vapor. É tão simples que até rima. Fazendo jus a esse fenômeno termodinâmico, o presidente da Câmara, Rodrigo Caldeira (Rede) ferveu a política da Serra que está em ebulição, mas, apesar do trocadilho, este pode acabar não rimando.

Passados uma semana do ápice da crise institucional na Serra, quando o prefeito Audifax Barcelos (Rede) veio à público e acusou a Câmara de estar sob controle do crime organizado e capitaneado por Caldeira que estaria pronto para dar o bote e destituir Audifax do cargo, os ânimos (públicos) parecem que baixaram.

A fase aguda das retóricas denuncistas deu lugar a uma intensa atividade de bastidor. Neste flanco de combate, Caldeira parece que está perdendo o calor e corre risco de esfriar rápido. Se somar isso à notória fragilidade do mérito em si (que já foi até suspenso pela Justiça), que é a CPI da Saúde e as oito Comissões Processantes, estabelece então um horizonte pouco simpático a Caldeira.

A CPI da Saúde foi estruturada a partir de um áudio vazado entre dois ex-servidores comissionados, entre eles o ex-secretário de Saúde. Além de não haver comprovação de autenticidade, o áudio é uma metralhadora de acusações das mais diversas possíveis, além é claro do conteúdo ser sugestivo, quando um dos ex-servidores afirma que o seu “foco sempre foi o bendito do prefeito” e que “os vereadores são fáceis de manipular”.

No que tange as oito comissões, foram estruturadas a partir de uma denúncia de supostas irregularidades fiscais. Foram protocoladas por um ex-assessor da própria Câmara, que se apresenta como motorista, e que objetivamente, faz uma denúncia tida como genérica e rasa, escrita em uma página de papel. Este teria embasado a abertura de oito frentes de investigação que poderiam cassar o prefeito. Parece desproporcional.

Se o mérito das ações é frágil, Caldeira perdeu também na retórica. Ao dizer que há crime organizado na Câmara, Audifax chamou a atenção de todos os órgãos de controle e da imprensa estadual para os vereadores. Agora, todo o movimento deles será visto com lupa e a tal rede oculta da qual Audifax diz existir, poderá ficar temerosa em colocar a cabeça para fora e sair da obscuridade.

Ainda na retórica de Audifax, ele diz que o movimento de oposição da Câmara começou após ele, supostamente, negar pedidos sombrios de Caldeira, entre eles: intervir na licitação da PPP do Lixo no valor de R$ 2 bilhões. Neste caso específico, é de chamar a atenção, uma vez que houve um fato efetivo: em 2018 a Câmara aprovou um projeto autorizando a Prefeitura em implantar PPP por decreto, e na semana passada, os mesmos vereadores aprovaram um projeto que cancela o primeiro ato e obriga as parcerias a passarem por dentro da Casa de Leis, dando mais fôlego para as acusações que Audifax fez.

Acusado pelo frágil mérito das investigações da Câmara e na persuasiva retórica do prefeito, Caldeira desidratou também em pelo menos outros 4 acontecimentos.

Em ordem cronológica:

1 – A decisão da Justiça em suspender as investigações da Câmara, classificando-as como “genéricas”, o que fortaleceu a tese de perseguição e/ou retaliação.

2 – A criação do Fórum Reage Serra, que contempla 40 entidades da sociedade civil organizada e que na última quinta (04) publicou uma dura nota contra a Câmara, dizendo que os vereadores oposicionistas “forjaram fatos políticos” para “desestabilizar a administração do município” e que as tais ações no Legislativo contra o prefeito não tem “nenhum fundamento técnico”.

3 – Na mesma quinta-feira (04), um personagem muito expressivo deu declarações de apoio à Audifax e em desfavor de Caldeira. Se trata do deputado Marcelo Santos (PDT), que no evento de prestação de contas do prefeito, pediu desculpas públicas por no passado ter atuado em favor de Caldeira e se apresentando como um aliado de Audifax neste embate. Lembrando que Marcelo foi fundamental no movimento que culminou na derrocada da ex-presidente da Câmara, Neidia Maura (PSD) e que emergiu Caldeira ao poder da Câmara.

4 –Outro ponto expressivo é a acusação do Ministério Público que pesa sobre um dos aliados mais próximos de Caldeira. Trata-se do vereador Nacib Haddad (PDT), que é acusado pelo órgão de participar de um cartel para interferir em licitações milionárias. Caso que Hacib nega. Mas, apesar de serem fatos separados, acaba servido de combustível para fragilizar o núcleo mais próximo do presidente.

Já há relatos no meio político de vereadores arrependidos/temerosos e querendo fazer o caminho contrário. Caso esse movimento oposicionista perca força dentro da Câmara, este será o inicio do fim para Caldeira.

Redação Jornal Tempo Novo

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