Bruno Lyra
Tido como fundamental para a mobilidade na BR 101 no Espírito Santo e para melhorar a qualidade de vida dos serranos que moram ao longo do trecho da rodovia entre Carapina e Serra Sede, o Contorno do Mestre Álvaro começou a sair do papel.
Na rota dos 19 km da via, uma das áreas mais sensíveis ambientalmente do estado: as turfas e alagados, morada de animais e plantas nativos ameaçados, além de rota de passagem da vida silvestre. Tanto que integra o Corredor Ecológico Mestre Álvaro – Duas Bocas, duas das mais importantes reservas ambientais capixabas.
A área é acomodadora de água no tempo das chuvas. O Contorno fatalmente vai impactar isso tudo. Por esta razão, a sociedade precisa vigiar a adoção de medidas amenizadoras e compensatórias. Ainda mais em tempos de retrocesso ambiental promovido pelo próprio governo federal.
A nova pista tem que ter passagens para animais silvestres. O EIA-Rima (Estudo – Relatório de Impacto Ambiental) aprovado pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), licenciador da obra, até prevê isso. Mas não especifica quantas e nem onde, o que é preocupante.
O mesmo Estudo obriga a instalação de placas avisando sobre a presença de animais silvestres, bem como a colocação de redutores de velocidade para proteger os bichos. Elementar e necessário.
Outro item é o fluxo das águas. A nova pista será um dique a dificultar o já lento escoamento das águas na região. Algo que precisa ser bem gerido, sob pena de piorar os alagamentos nas empresas do Jacuhy, Piracema, TIMS e bairros da Serra nas baixadas marginais ao Mestre Álvaro.
Atenção também com uso de escória da Arcelor para aterro na obra. Item não previsto no EIA, foi usado pela empreiteira Contractor para testes de estabilidade do solo. Ação embargada pelo Iema, que alegou riscos ambientais com rejeitos siderúrgicos em alagados, o que a Arcelor nega.
Outro item é o controle de incêndios, por ser região de turfas. Margens de estradas são extremamente suscetíveis ao fogo. Olho vivo, ainda, na eventual suspensão da obra sob alegação de impacto ambiental, como está ocorrendo com a duplicação da BR 101 norte. Parte da elite econômica e política não tem pudor em usar a natureza como bode expiatório para ocultar a própria incompetência ou interesse escuso. É moda constranger ambientalistas e jogá-los contra a turba enfurecida.