Opinião | Vandinho Leite, o coringa mais cobiçado na eleição da Serra em 2024

Na política, o termo ‘coringa’ é emprestado do baralho e usado para descrever um político desejado por outros candidatos, especialmente em contextos onde sua flexibilidade, versatilidade ou capacidade de atrair diferentes segmentos eleitorais é enfatizada, tornando-se assim um recurso valioso para um partido ou coligação. Na Serra, parece que o deputado Vandinho Leite (PSDB) ocupa essa posição.

Até o momento na Serra, existem três tipos de pré-candidatos a prefeito. O primeiro é formado pelo ex-prefeito Audifax Barcelos (PP) e pelo deputado Pablo Muribeca (Republicanos), que não escondem o jogo e estão se movimentando para articular suas futuras campanhas. São pré-candidatos declarados e, o mais importante, com aval de seus partidos.

O segundo tipo são os pré-candidatos que dependem do contexto a qual estão inseridos e da vontade de seus partidos. Dois exemplos são o Prof. Roberto Carlos, que aguarda o fechamento de um consenso no PT para formalizar sua pré-candidatura, e alguém do PL, que pode ser o vereador Igor Elson, a suplente do senador Magno Malta, conhecida como Marcinha, ou mesmo outro nome que ainda não foi revelado. Outros mais distantes são o deputado Alexandre Xambinho (Podemos) que aparenta estar fechado com o prefeito Sergio Vidigal (PDT) e o secretário de Estado, Bruno Lamas (PSB), que esbarra na aliança estadual do seu partido junto PDT.

O terceiro tipo de pré-candidato é o que esconde o jogo, e trata-se do próprio prefeito Sergio Vidigal. No meio político da Serra, ele é considerado o candidato a ser batido, ainda que ele mesmo sequer tenha dito que é pré-candidato. Vidigal reúne todas as condições para disputar a eleição e é tratado como pré-candidato por todos, sendo frequentemente o alvo das narrativas adversárias.

Diante desse cenário pré-eleitoral e dos nomes apresentados, um observador político da Serra pode fazer a pergunta mais óbvia: onde está o deputado Vandinho Leite? Esse questionamento surge por vários motivos: 1) Vandinho é uma liderança política reconhecida na cidade; 2) seu nome aparece espontaneamente em pesquisas de intenção de votos; 3) há quatro anos, concorreu à prefeitura e quase avançou para o segundo turno, obtendo 35.838 votos. Dois anos depois, foi reeleito deputado em uma eleição marcada por polarizações ideológicas, conseguindo 13.562 votos de eleitores serranos, mesmo sem se engajar totalmente nessa onda; 4) é uma figura-chave nas decisões partidárias do PSDB na Serra e um importante líder em nível estadual; 5) possui excelente relação e influência junto ao governador Renato Casagrande (PSB), uma figura basilar nas definições eleitorais na Serra; 6) detém enorme inserção entre as lideranças evangélicas da cidade, que historicamente costumam ter muito peso eleitoral.

Reunindo essas características, Vandinho poderia se colocar facilmente como pré-candidato, mas em nenhum momento o fez. Ao contrário, quando o tema surge ele logo dá um jeito de mudar de assunto. O deputado tem dialogado com muitos outros pré-candidatos, em especial Muribeca e Audifax. Certamente o único veto de Vandinho é o PT por diferenças ideológicas insuperáveis.

Há também uma situação não resolvida em relação ao prefeito Sergio Vidigal, pois ao ponto em que Vandinho não mantém conversas políticas com o prefeito, ele também não faz parte dos barulhentos grupos de oposição que diariamente promovem narrativas contra ele, o que parece deixar a coisa em aberto, até porque, hipoteticamente falando, em caso de vitória de Vidigal, o prefeito não teria a possibilidade de disputar novamente, ou seja, seria no máximo mais quatro anos; enquanto os outros postulantes poderiam chegar a 8 anos (eleição + reeleição), contexto que pode ter alguma influência nos planos do deputado.

Vandinho parece ocupar uma posição confortável, desprendida, sem ser contaminado com a vaidade de ser candidato a qualquer custo, optando por uma abordagem bastante racional. Essa flexibilidade e versatilidade de dialogar com todos, somados as seis características políticas acima listados, fazem dele o coringa eleitoral mais cobiçado entre aqueles que querem governar a Serra pelos próximos 4 anos. O PSDB é um partido organizado e que em termos ideológicos pode casar-se com qualquer um, com exceção do PT. Além disso, embora tenha reduzido de tamanho nacionalmente, conserva sua importância na fatia dos Fundos Partidários.

Não por coincidência, informações do meio político não deixam dúvida quanto ao esforço de pré-candidatos, declarados ou não, em se aproximarem de Vandinho para estreitar um possível apoio. Sem dúvida é um jogo maroto do deputado, mas sobretudo bastante maduro politicamente. Aliás, essa mesma astúcia foi bastante importante para inserir Ricardo Ferraço, então no PSDB, na vice de Casagrande na eleição de 2022, da qual foi uma construção que passou pela articulação direta de Vandinho, presidente do PSDB.

Talvez o político Vandinho esteja sofrendo cada vez mais influência do investidor Vandinho. Pois, para quem não sabe, o deputado é um estudioso do mercado financeiro, está cursando uma pós-graduação nesse sentido e parece muito animado com esse mundo de oportunidades que os investimentos podem render, em especial a um habilidoso, versátil e racional investidor.