Depois de ‘passar o rodo’ na Amazônia e no Pantanal, a boiada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles chega à sua praia, serrano. É que está marcada para a manhã desta segunda-feira (28) a votação de medida que retira manguezais e restingas da condição de Áreas de Preservação Permanente (APP).
A medida, uma articulação de Salles, será apreciada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). E as chances de passar são grandes. No início da gestão Bolsonaro o Conselho foi esvaziado com a redução de 96 para 23 cadeiras. Quem mais perdeu participação foi a sociedade civil e os estados, ficando o governo federal com a maioria das cadeiras.
O que está em jogo na Serra, são faixas de restinga que ainda restam em trechos dos 24km de orla entre Praia Mole e Nova Almeida. E os fragmentos de manguezais no rio Jacaraípe, no rio Reis Magos e nas pequenas porções formadas pelos riachos que deságuam em Manguinhos.
Manguezais são berços de caranguejos, siris, ostras e sururus. Muitas aves vivem ali. Mamíferos e répteis, também. Peixes marinhos adentram a segurança e fartura de suas águas para se reproduzirem. Duas espécies em especial, o robalo e a tainha. No ES, milhares de famílias dependem economicamente dos manguezais, na Serra inclusive, que possui até uma Associação de Catadores de Caranguejo em Jardim Carapina.
Na restinga, vegetação que cresce sobre a areia da praia, a riqueza biológica também é expressiva. A restinga é ainda responsável pela contenção da erosão marinha, ou seja, também presta um serviço econômico de alto valor a uma cidade que já tem a maior parte do seu litoral ocupado e precisa conter o avanço do mar. Sem contar o serviço de manter a temperatura mais baixa, purificar o ar e equilibrar o ciclo da água que qualquer formação vegetal natural faz.
Salles está cumprindo o que prometeu ao seu chefe Bolsonaro na reunião de 22 abril. Está aproveitando a pandemia para “ir passando a boiada” nas regras ambientais infralegais, que não dependem do congresso para serem alteradas.
Enquanto Bolsonaro mente na ONU dizendo que o Brasil é exemplo de preservação ambiental, o país se transforma numa ameaça global. E o ataque à natureza ganha dimensão inédita desde a Constituição de 1988 no momento em que uma onda calor em pleno início de primavera torra os miolos dos moradores das duas maiores cidades do país e chega ao ES esta semana.
Até agora Bolsonaro mostrou que tem dois projetos. Um é o de se manter no poder o máximo que puder. O outro é o de acabar com a proteção ambiental no Brasil. Tem sido bem sucedido em ambos.