Localizada nas montanhas de Santa Teresa, a região das nascentes do rio Reis Magos – manancial que abastece a Serra Sede e o entorno – vem sofrendo com destruição ambiental por conta da expansão imobiliária para implantação de sítios, chácaras e condomínios em áreas rurais.
Para tentar reprimir crimes e outras irregularidades contra a natureza na região, uma força tarefa envolvendo município, estado, União e Ministério Público foi articulada na última semana. E flagrou pelo menos cinco ilegalidades ligadas à expansão imobiliária no Circuito Turístico do Caravaggio, onde nasce um dos afluentes do córrego São Lourenço, formador do rio Timbuí/Reis Magos.
Em texto divulgado no final da tarde da última sexta-feira (01) no site do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), o órgão informou que foram flagradas diversas situações de descaracterização das condições naturais da região, que originalmente era coberta por Mata Atlântica. Dentre elas desmatamento, terraplanagens, instalação de barragens sem autorização, captação irregular de água subterrânea, interrupção do fluxo do rios, até a construção em áreas de preservação e movimentação de terra sem licença ou superior ao estabelecido.
O material publicado pelo IEMA traz uma declaração do gerente de Gestão e Infraestrutura Hídrica da Agência Estadual de Recursos Hídricos (AGERH), Rafael Wolfgramm. Vale lembrar que além da Serra Sede e entorno na Grande Vitoria, as águas que descem do Caravaggio abastecem o centro de Santa Teresa.
“Cortes e aterros elevam o nível de escoamento, impossibilitando penetração da água de chuva no solo, reduzindo a recarga dos mananciais e aumentando ainda mais o assoreamento dos rios”, alertou Rafael.
Em outras palavras, o que acontece lá pode piorar a já delicada situação de abastecimento de água da Serra. Ainda de acordo com o texto do Iema, apoiou a ação em Santa Teresa a promotora do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) Vera Lúcia Murtha Miranda. Além do Iema, Agerh e MPES também participaram da fiscalização, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), Polícia Militar Ambiental e Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
O Tempo Novo, em parceria com o site Convergente, já havia noticiado em maio a gravidade da destruição ambiental no Circuito Caravaggio e também em outras regiões das montanhas de Santa Teresa.
Domingos Martins, Alfredo Chaves, Afonso Cláudio e drone aliado.
A operação da última semana se estendeu ainda a outros municípios da região serrana do Espírito Santo, que assim como a Doce Terra dos Colibirs, também sofre com a expansão imobiliária desordenada em áreas rurais: Domingos Martins, Afonso Cláudio e Alfredo Chaves. Conforme o Iema, foram flagrados outros cinco crimes ambientais espalhados por esses três municípios.
Porém, o órgão estadual destacou que as situações mais graves foram flagradas no Circuito Turístico do Caravaggio, em Santa Teresa. A fiscalização conjunta contou com 12 agentes, e com a operação de drones pelo Iema, que contribuíram com a vistoria de áreas, em especial daquelas de difícil acesso, dando ampla visão das irregularidades cometidas.
“Fizemos apoio durante toda a operação com o drone, que foi o principal recurso empregado e possibilitou ter a dimensão dos danos ambientais”, destacou o servidor do Iema, Manoel Nunes, em declaração publicada no site do Instituto.
Ainda segundo o Iema um relatório detalhando as irregularidades flagradas será confeccionado. Até agora não foram divulgados nomes de pessoas físicas e/ou jurídicas responsáveis pela destruição. Nem os valores das multas aplicadas.
Equipe jornalística é intimidada por degradadores
No último dia 03 de junho, a reportagem do Jornal Tempo Novo e a equipe do site Convergente chegaram a ser intimidados por empresários e lideranças ligadas ao mercado imobiliário de Santa Teresa. A intimidação ocorreu no auditório do Senac logo após a solenidade pública de anúncio, por parte do Estado, de mais de R$ 30 milhões em investimentos em Santa Teresa. Dentre eles, a pavimentação da estrada do Circuito Caravaggio.
O caso está sendo acompanhado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em Brasília.