Embora eu, como colunista, possua maior liberdade linguística e editorial para produzir conteúdo, ainda assim, não sou adepto da linguagem em primeira pessoa, a fim de deixar claro que o mérito do texto reside em seu próprio conteúdo, mesmo que contenha elementos opinativos, evitando que seja confundido com algum tipo de ufanismo. No entanto, neste texto, faço uma exceção, pois ele trata diretamente do Tempo Novo e da obra literária à qual me dediquei.
Na noite dessa quarta-feira (21), comemoramos o aniversário de 40 anos do Tempo Novo, que é o terceiro jornal mais longevo em operação do Espírito Santo. Somente Deus e nós sabemos o tamanho das lutas travadas durante essa jornada. O Tempo Novo não é um jornal oriundo de um grande grupo empresarial ou de uma poderosa família política, como é o caso de parte do que se conhece por grande imprensa capixaba (o que não deslegitima em nada tais empresas – que fique claro).
Historicamente, somos, em essência, um pequeno grupo de pessoas, todas residentes na Serra, com uma forte relação identitária com a cidade e capazes de produzir um jornalismo verdadeiro e que tenham ou não formação acadêmica em comunicação social. Optamos sempre por uma perspectiva aberta a esse respeito, considerando que, nesta área, o título acadêmico importa menos do que a visão de mundo que o indivíduo traz consigo, especialmente no contexto da Serra, o que faz daquele profissional alguém único e que invariavelmente vai deixar sua marca nesta empresa.
O que fizemos nos últimos 40 anos, com toda a humildade do mundo, posiciona o Tempo Novo como a maior expressão de mídia alternativa, independente, gratuita e municipalista do Espírito Santo; e isso só é possível porque o Tempo Novo é, fundamentalmente, um jornal da Serra. Somos um grupo pequeno, porém ágil na obtenção, apuração e produção de conteúdo. Adaptamo-nos rapidamente às novas tecnologias, compartilhamos fontes, assim como a memória histórica de 40 anos de trabalho, transmitida e compartilhada com cada um da redação durante o exercício cotidiano do trabalho. É pouco provável, por exemplo, que um estagiário saia do Tempo Novo sem conhecer ao menos metade dos 129 bairros da Serra.
O Tempo Novo mantém uma proximidade histórica com líderes comunitários, servidores públicos, instituições, setores econômicos e agentes políticos, o que nos capacita a ter uma visão ampla da cidade. Meu pai, Eci Scardini, popularmente conhecido como Gerereu, fundou o jornal na virada de 1983 para 1984. Naquele momento, o desgaste do regime militar dava lugar ao florescer da democracia, e na Serra, o processo de urbanização se acelerava com a instalação da CST meses antes. Por isso, ele vislumbrou um tempo novo que se aproximava para a Serra.
Estou envolvido com o Tempo Novo desde a infância, observando, aprendendo, conhecendo e até escrevendo desde muito jovem. Há 11 anos, quando estava prestes a completar 21 anos, assumi a direção do jornal, uma vez que meu pai havia se dedicado a outra atividade no setor imobiliário, voltada para áreas e terrenos de alto valor agregado para empresas e investidores. Naquele momento, o debate sobre o futuro da comunicação na era da internet ainda era incerto. Deveríamos encerrar a versão impressa do jornal? Tentar integrar um projeto online com o impresso? Aguardar para compreender melhor as direções e impactos dessas mudanças?
A certeza que tínhamos era o nosso compromisso em produzir um conteúdo articulado, inteligente e feito com o coração de serrano para serrano. Era evidente a limitação física, pois, apesar de ser um veículo de comunicação consolidado, o alcance do Tempo Novo era restrito a pequenos, porém influentes, nichos da sociedade, limitando-se a uma tiragem de 7 ou 8 mil jornais por semana.
A decisão mais acertada foi a transição do papel para o digital, concluída definitivamente em fevereiro de 2020, no início da pandemia no Espírito Santo, o que se provou ser uma escolha acertada. Hoje, com a horizontalidade proporcionada pela internet, somos um jornal online tão grande dentro dos limites da Serra quanto os demais jornais considerados de grande imprensa, muitas vezes superando-os em audiência, engajamento, impacto social e na pauta do debate público. O Tempo Novo é uma missão à qual estamos profundamente vocacionados.
Nesse contexto, havia um projeto ao qual já me dedicava há alguns anos, levantando fontes de informações de épocas passadas da Serra, algumas até manuscritos originais, outras já digitalizadas ou transcritas. Informações até mesmo nunca antes publicadas. Já havia brotado o sentimento de produzir uma obra literária com o objetivo de promover um olhar histórico para uma das cidades cujo território está entre os mais antigos do Brasil em que a exploração e colonização portuguesa se iniciaram.
No início de 2021, a decisão estava tomada: eu iria escrever um livro sobre a história da Serra. Conforme o projeto avançava e ganhava forma, surgiu a possibilidade de concluir o trabalho justamente no ano em que o Tempo Novo celebraria suas 4 décadas de existência. Para tornar isso possível, foi necessário me afastar por quase um ano das atividades principais da redação. Durante esse período, pude contar com total apoio da nossa equipe e conseguimos manter os níveis de audiência e a qualidade da informação. Simultaneamente, esse esforço conjunto permitiu celebrar nossos 40 anos com a entrega de uma obra literária para a cidade. E assim, tudo se concretizou na noite dessa quarta-feira com lançamento do livro ‘Serra: a história de uma cidade’.
Não tenho bacharelado ou licenciatura em História, mas isso não me impede de ser um pesquisador independente, desde que sob critérios e métodos científicos bem definidos; e no Brasil, os livros com olhar histórico nunca foram exclusivos de historiadores de formação acadêmica, sendo praticados também por pessoas da área da comunicação. Em particular, no Espírito Santo.
Como exemplo, temos Mario Aristides Freire, José Teixeira de Oliveira, Basílio Daemon, Misael Penna, Afonso Cláudio, Amylton de Almeida, Levy Rocha… entre tantas outras personalidades que passaram pela área da comunicação e deixaram legados de suas obras de caráter histórico. Não me entendam mal, de forma alguma estou me comparando a esses autores citados. Estou apenas reforçando a importância dos profissionais da comunicação na construção da identidade e na formação do ethos de um povo a partir de suas obras lançadas.
Em resumo, este livro traz uma estética jornalística, mas respeita e atende aos critérios da historicidade, que incluem a explicitação de fontes, o detalhamento de notas de rodapé, compiladas em cada uma das seis partes que compõem os 23 capítulos do livro, além, é claro, dos diálogos com a bibliografia que enriquecem o entendimento daqueles interessados em entender a origem daquela informação.
Este livro adota uma abordagem revisionista e, com isso, oferece uma nova perspectiva sobre a Serra. Não se trata de recontar completamente a história da cidade, mas sim de propor uma nova leitura dos eventos que a moldaram. Nele, são revelados fatos e acontecimentos inéditos, bem como elementos que propõem novas perspectivas sobre informações já publicadas, além de enriquecer o que, de modo geral, já era conhecido. O livro evita a idealização de vilões ou heróis, bem como a romantização de pessoas ou de uma Serra que teria surgido de processos imaculados. O objetivo foi proporcionar uma visão ampla e crítica, ressaltando os eventos importantes que formaram a cidade que conhecemos hoje, aliados às histórias daqueles que lideraram esses momentos, com todas as suas controvérsias.
A crítica me inspira mais do que o elogio, embora esteja aberto a ambos. Com este livro, não pretendo me posicionar como detentor da verdade, até porque essa premissa é inexistente. O propósito é estimular o debate sobre a Serra e nosso passado, os processos que nos conduziram até o presente, com o intuito de compreender melhor suas complexidades. Espero, ainda, despertar nos leitores um amor e carinho ainda maiores por este local que acolheu tantas pessoas ao longo de quase meio milênio desde a chegada dos portugueses. Sentimentos de identidade e pertencimento enriquecem a experiência de viver em um lugar próspero. Creio que esta iniciativa é um avanço nesse sentido.
Para aqueles interessados em adquirir o livro, ele ainda está sendo vendido pelo preço de lançamento, por R$ 40. Esse valor só foi possível graças ao apoio da Cesan e do Governo do Estado, que subsidiaram parte dos custos. Para adquiri-lo, basta clicar aqui para ser redirecionado ao atendimento via WhatsApp. Em breve, o livro também será lançado na Amazon.com.