Por Ayanne Karoline
Por quatro séculos, a Igreja dos Reis Magos em Nova Almeida resistiu ao tempo e hoje é um dos principais pontos turísticos capixabas. Mas nem só de fatos oficiais é formada a história desse monumento jesuítico. Moradores mais velhos e figuras históricas contam que fantasmas vivem na igreja e até hoje assombraram a região.
Quem conta o conto é o escritor Teodorico Boa Morte, de 64 anos. Assim como seu nome, suas histórias são de dar arrepio. Ele escreveu várias delas num livro sobre Nova Almeida, com relatos, no mínimo, intrigantes. Ele conta que fontes vivas e confiáveis falavam sobre fantasmas que apareciam em sonhos. “As almas vinham à noite, enquanto a pessoa dormia, e mostravam um lugar exato onde haviam escondido ouro no bairro”, conta.
Segundo a história, os seres sobrenaturais eram almas de jesuítas que, antes de morrer, enterravam moedas de ouro e outros tesouros ao redor da igreja, já que na época não existia bancos. Mas para o felizardo cavar e ficar com a bolada, precisava estar de branco e não podia levar qualquer um para acompanhar. Além disso, tinha que enfrentar outros fantasmas que apareciam na hora da escavação para não deixar o ouro ser desenterrado e alma libertada.
Os horários para a aventura também não eram lá agradáveis. Segundo Teodorico, os fantasmas dos jesuítas geralmente pediam para as pessoas cavarem numa sexta-feira, por volta de meia-noite. Corajosos à parte, poucos se arriscavam e não obtinham sucesso. “Um desses, conta, foi ao local e levou uma carroça, porque os fantasmas disseram que havia um baú pesado perto da entrada da igreja. Ele chegou e viu um vulto. Até hoje está correndo”, se diverte Teodorico.
“Até hoje ninguém achou o ouro”
A quase centenária dona de casa Gessy Ribeiro da Vitória, 91, garante que viu e ouviu as assombrações. A moradora antiga de Nova Almeida, conta com riqueza de detalhes momentos que marcaram noites. “A gente vinha do colégio e subia a escadaria da vila. Ouvíamos barulhos de correntes e gritos. Víamos fantasmas de padres e escravos. Eles foram muito judiados e ficavam chamando por socorro”, relata sem esconder o medo.
Dona Gessy, como é conhecida, afirma que os fantasmas ficavam vagando na frente da igreja e em cima do canhão de ferro, objeto que ainda permanece no local. “Isso a gente viu mesmo e ficava assustada. A história do tesouro escondido era muita conhecida, mas desde que estou aqui e faz muito tempo, ninguém achou ouro”, afirma.